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terça-feira, fevereiro 14, 2023

texto feito com ditados populares

 Este texto prova o quão deliciosa é a  língua portuguesa.


"Antes de ir desta para melhor, vou dar com a língua nos dentes e
lavar roupa suja. Com a faca e o queijo na mão, com uma perna às
costas e de olhos fechados, vou sacudir a água do capote. Ainda tirei
o cavalinho da chuva, tentei riscar este assunto do mapa, mas eu sou
uma troca-tintas, uma vira casacas e vou voltar à vaca fria.

Andava eu a brincar aqui com os meus botões, a chorar sobre o leite
derramado, com bicho carpinteiro e macaquinhos na cabeça, quando
decidi procurar uma agulha no palheiro.

Eu sei, eu não bato bem da bola, mas sentia-me pior que uma barata e
tinha uma pedra no sapato.

O problema é que andava a bater com a cabeça nas paredes há algum
tempo, com um aperto no coração e uma enorme vontade de arrancar
cabelos.

Passei muitos dias com cara de caso e com a cabeça nas nuvens como uma
barata tonta.

Mas eu, que sou armada até aos dentes, arregacei as mangas e procurei
o arquivo a eito.

Acontece que uma vez em conversa com um amigo ele disse-me «Tiras-me
do sério» e eu, sem papas na língua, respondi «Se te tiro do sério,
deixo-te a rir, é isso?».

Ele, de trombas e com os azeites, gritou em plenos pulmões «Esquece
Mafalda, escreves belissimamente mas não conheces nem 1/4 das
expressões portuguesas.»

Só faltou trepar paredes. É preciso ter lata! O primeiro milho é dos pardais.

Primeiro pensei ter posto a pata na poça, depois achei que ele tinha
acordado com os pés de fora e que estava a fazer uma tempestade num
copo d´água e trinta por uma linha.

Fiz vista grossa, mas depressa disse Ó tio! Ó tio! Abri-lhe o coração,
o jogo e os olhos na esperança de acertar agulhas e pôr os pontos nos
is.

Não lhe ia prometer mundos e fundos nem pregar uma peta, eu estava
mesmo a brincar.

Era um trocadilho. Pão, pão, queijo, queijo.

Rebeubéu, pardais ao ninho, fiquei com os pés para a cova, só me
apeteceu pendurar as botas e mandá-lo pentear macacos, dar uma volta
ao bilhar grande ou chatear o Camões.

Que balde de água fria! Caraças, levei a peito, aquela resposta era
tão sem pés nem cabeça que fui aos arames.

Eu sei que dou muitas calinadas, meto os pés pelas mãos e faço tudo à
balda. Posso até ser uma cabeça de alho chocho e andar sempre com a
cabeça nas nuvens mas não ia meter o rabo entre as pernas nem que a
vaca tossisse.

Pus a cabeça em água e fiquei a pensar na morte da bezerra. Caí das
nuvens e com paninhos quentes passei a conversa a pente fino, não
fosse bater as botas.

Percebi que ele tinha trocado alhos por bugalhos, apeteceu-me
cortar-lhe as vazas, mas estava de mãos atadas e baixei a bola.

Engoli o sapo, agarrei com unhas e dentes, dei o braço a torcer e
dei-lhe troco com o intuito de descalçar a bota.

Não gosto muito do vira o disco e toca o mesmo, mas isto já são muitos
anos a virar frangos e pus as barbas de molho.

Uma mão lava à outra e as duas lavam as orelhas, mas ele está-se nas
tintas, à sombra da bananeira.

Não deu uma mãozinha nem deixou-se comprar gato por lebre.

Ficou com a pulga atrás da orelha, pôs-se a pau antes de estar feito ao bife.

Pus mãos à obra, tentei fazer um negócio da China e bati na mesma tecla.

Dados lançados, cartas na mesa, coisas do arco da velha. Claro que dei
com o nariz na porta, o gato comeu-lhe e língua e saiu com pés de lã.

Água pela barba! Devia aproveitar a boleia antes de ficar para tia de
pedra e cal onde Judas perdeu as botas.

É que isto pode estar giro e estar fixe, mas não me apetece segurar a
vela com dor de corno e dor de cotovelo só porque não conheço 1/4 das
expressões portuguesas.

Mafalda Saraiva"

domingo, novembro 15, 2020

A origem do Magusto


 A ORIGEM DO MAGUSTO

A origem da palavra “magusto” vem do latim “magnus ustus” que significa grande fogueira, que hoje designa

tão-só as castanhas assadas, mas que antigamente definia a própria fogueira onde as ditas eram assadas.
As tradições, embora com alguns pontos comuns, constituíam verdadeiras refeições comunitárias.
No início do século XIX, em algumas regiões do Norte, o magusto realizava-se no dia de S. Simão e S. Judas
Tadeu, a 28 de Outubro, prolongando-se até ao S. Martinho, enquanto nalgumas regiões de Trás-os-Montes
se aproveitava o Dia de Todos os Santos, o dia 1 de Novembro para festejar o “Magusto dos Santos”.
Segundo alguns etnólogos, como Leite de Vasconcelos, o Magusto dos Santos é uma reminiscência de
antiquíssimos rituais fúnebres pagãos, festivais que comemoravam o início do Inverno, segundo a tradição
celta, durante os quais se faziam oferendas em géneros alimentares às almas dos mortos. Em Barqueiros, no
Minho, era tradição à meia-noite, pôr uma mesa com castanhas para os mortos da família irem comer;
ninguém mais tocava nas castanhas porque se dizia que estavam “babadas dos defuntos”.
A celebração do magusto também está associada a uma lenda, que remonta ao século IV, a qual dizia que
um soldado romano de nome Martinho de Tours (mais tarde conhecido como São Martinho), ao passar
a cavalo por um mendigo quase nu, como não tinha nada para lhe dar, cortou a sua capa ao meio com a sua
espada; estava um dia chuvoso e diz-se que, neste preciso momento, parou de chover, derivando daí a
expressão: "Verão de São Martinho".
Assim, nesta altura do ano, o tempo frio e chuvoso, típico da estação, dá lugar a um dia de sol para desfrutar
de um grande magusto com castanhas assadas, água-pé e jeropiga.

sábado, outubro 20, 2018

ser feliz



Toda criança, em seu misto de inocência e alegria, é também um pouco, ou muito, de POESIA
Amanda Bonatti

terça-feira, junho 05, 2018

anotações

Coimbra, 13 de Fevereiro de 1979

Greves. Reivindicações sucessivas a torto e a direito. Um povo subserviente, que recebia e agradecia de chapéu na mão, como favores concedidos, os próprios direitos, exige agora o possível e o impossível, numa desforra serôdia. É o ressentimento. Estamos a vingar no presente a resignação dos nossos avós. As revoluções em Portugal, em vez do triunfo de ideais novos, são ajustes de contas velhas.

sábado, dezembro 23, 2017

Natal sem Luzes





Natal sem luzes.
Natal sem pão, sem calor, sem  abrigo ou tecto, sem família.
Natal dos doentes, dos marginalizados, dos violentados ou oprimidos, dos escravizados no século XXI.
Natal sem luz.
Natal de um Menino que nem era louro nem tinha olhos azuis, que não sabemos o dia certo do seu nascimento e que o ano se referencia pelo fenómeno astral da estrela de Belém.
Natal de todos, afinal.
Que Ele nasceu é facto histórico, para os que crêem e para os que duvidam. Algo então mudou no Mundo dos homens.
Que de toda a luz, de todo o esplendor que possamos ter em casa fique um rasgo de lembrança para os que não podem ter Natal.
Boas Festas