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terça-feira, dezembro 22, 2009

Judeus querem ver arquivo do Vaticano para crer em Pio XII


Portugueses juntam-se às lamentações depois de Bento XVII colocar o Papa do tempo do holocausto a um passo da santidade
Colocar Pio XII a um passo da santidade é uma coisa que não lembra a nenhum judeu. Mas lembrou a Bento XVII e, com a agora anunciada proclamação como "venerável" do líder da Igreja Católica durante a II Guerra Mundial, o papa provocou a ira da comunidade judaica. A reacção de Israel não se fez esperar. "O processo de beatificação não nos diz respeito, é um assunto da Igreja Católica. Quanto ao papel de Pio XII, é para os historiadores avaliarem e, por isso, desejamos a abertura dos Arquivos do Vaticano durante a II Guerra Mundial ", disse à AFP o porta-voz do Ministérios dos Negócios Estrangeiros, Yigal Palmor. Também a comunidade judaica portuguesa prefere ver os ficheiros secretos para crer que o papel de Pio XII foi mais do que o silêncio complacente perante o holocausto. 
Esther Mucznik, vice-Presidente da Comunidade Israelita de Lisboa, diz que esta decisão é "prematura". Se o papel do papa foi outro, então que se mostre primeiro e se beatifique depois. A investigadora sublinha que estes processos são assuntos que só à Igreja Católica dizem respeito, mas que o Vaticano também tem um papel político. Nesse campo, refere que só a abertura dos arquivos aos historiadores poderá revelar "o papel real de Pio XII", porque "se é um facto que muitos colégios e conventos católicos salvaram judeus, oficialmente a posição do Vaticano foi de silêncio. Não sabemos a razão do silêncio - há quem defenda que foi uma forma de proteger as comunidades cristãs na Alemanha -, nem se uma posição diferente do Vaticano poderia ter mudado a História. O mais importante e urgente é abrir os arquivos". De acordo com os especialistas religiosos, haverá documentos que provam ordens do Papa para que os conventos acolhessem judeus perseguidos. Esther Mucznik diz que em Israel "há um debate muito grande e investigadores que defendem que a posição de Pio XII foi diferente, mas tudo tem que ser estudado". Até prova em contrário, o italiano Eugenio Pacelli foi o Papa que não confrontou nem tentou contrariar Hitler. 
Miriam Assor, jornalista e membro da comunidade judaica portuguesa, diz que só não fica surpreendida com esta decisão "porque deste papa nada [a] choca". "Ele já disse tanta coisa errada que já não sei se é da idade se da falta de humanidade", acusa. E defende que a concordata assinada por Eugenio Pacelli e a Alemanha em 1933 (ainda como núncio apostólico em Berlim) funcionou "como uma auto-estrada que a Igreja abriu ao nazismo". "Por uma questão de justiça", a complacência de Pio XII não pode ser branqueada.  
"Fico tão horrorizada como se estivesse em 1933", refere, afirmando que "assassino é quem mata e quem pactua". Por isso, também diz que se o Vaticano tem informações que mostrem outra faceta do Papa que liderou o mundo católico entre 1939 to 1958, "que a divulgue ao mundo". Mas refere que em nenhum dos discursos de Pio XII durante e no pós-guerra "há uma palavra sobre judeus".  
A decisão de Bento XVI promete acender a polémica entre Israel e o Vaticano. O nome de Pio XII tinha sido proposto em 2007 mas o processo estava congelado até agora, para evitar incidentes diplomáticos. Bastou um dia para que o Vaticano começasse a ser pressionado.

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