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quarta-feira, agosto 31, 2011

“We are the Wood”: Artistas madeirenses cantam em solidariedade com as contas públicas da ilha

 fonte:imprensafalsa.com, 31/08/11


Vários artistas madeirenses juntaram-se para cantar o tema “We are the Wood”, em solidariedade com as contas públicas da ilha, cuja dívida já chega ao continente, de maneiras que agora pode fazer-se a viagem de barco, de avião, ou pelo trilho do Alberto, mas tem de se ir de jipe porque há muitos buracos.

Cristiano Ronaldo, as irmãs Aveiro, Joe Berardo, as bananas, Herberto Hélder, a estilista Fátima Lopes e os hotéis Pestana, entre outras estrelas, encontraram-se para gravar a canção, que é já um grande sucesso:

We are the Wood
We are the islanders
We are the ones that are in the middle of the ocean
So let’s start giving
There’s a debt we’re making
We’re spending a lot of money
It’s true, we’ll make a better memorandum
Just you and I and Troika
publicado por Zé Pedro às 15:00

grande anfiteatro de gladiadores romanos descoberto na Austria

"Uma fantástica descoberta" - foi deste modo que os arqueólogos anunciaram ontem terem encontrado as ruínas de um enorme anfiteatro usado para treino de gladiadores próximo de Viena, na Áustria.
As ruínas encontram-se no parque arqueológico de Carnuntum, a 60 quilómetros de Viena,, onde foram localizados vestígios de uma antiga localidade do Império Romano.
Os arqueólogos indicam que as ruínas localizadas e escavadas terão uma dimensão que as equiparam ao Coliseu ou ao Ludus Magnus de Roma. O Ludus Magnus é a maior arena de gladiadores da capital italiana, enquanto o Coliseu é o maior anfiteatro construído no Império Romano.
O anúncio da descoberta não precisa quando as ruínas foram encontradas e escavadas, tendo sido referido apenas que novos dados serão apresentados aos media na próxima segunda feira.

fonte:Expresso

Aquecimento climático (Quercus)

terça-feira, agosto 30, 2011

como se faz um bébé

AGOSTO


Hei-de integrar-me nestas horas cálidas,
neste persuasivo agosto, no passar de seus dias
enquanto decorre o ano e eu decorro,
de almanaque na mão e na minha pele sempre
- e eu, rebelde -, a consumir-me em vão
antes de descobrir que o verão me agosta
e que hei-de deixar esta umbria que começo a sentir erma.




MARÍA VICTORIA ATENCIA


(tradução de José Bento, in Antologia Poética, Assírio & Alvim, 2000 - documenta poetica / original de Las contemplaciones, 1997)

segunda-feira, agosto 29, 2011

Golfinhos aprendem a pescar com conchas

fonte:DN, Lisboa
Pesquisadores acreditam que um inovador método de pesca com conchas pode estar a espalhar-se entre a população de golfinhos de Shark Bay, no Oeste da Austrália. Os cientistas fotografaram golfinhos-nariz-de-garrafa (Tursiops aduncus) a segurar conchas com o bico e a sacudi-las no ar fazendo com que a água saísse de dentro delas, assim como os peixes que estavam lá escondidos.

O pesquisador Simon Allen, da Universidade de Murdoch, diz que o comportamento - raramente visto anteriormente - parece estar a tornar-se mais frequente na zona. E enquanto outras técnicas de pesca usadas por golfinhos são ensinadas de mãe para filhos, o uso de conchas pode estar a passar entre golfinhos do mesmo grupo.

sexta-feira, agosto 26, 2011

quando ela passa


Quando eu me sento à janela
P'los vidros que a neve embaça
Vejo a doce imagem dela
Quando passa... passa... passa...

N'esta escuridão tristonha
Duma travessa sombria
Quando aparece risonha
Brilha mais que a luz do dia.

Quando está noite ceifada
E contemplo imagem sua
Que rompe a treva fechada
Como um reflexo da lua,

Penso ver o seu semblante
Com funda melancolia
Que o lábio embriagante
Não conheceu a alegria

E vejo curvado à dor
Todo o seu primeiro encanto
Comunica-mo o palor¹
As faces, aos olhos pranto.

Todos os dias passava
Por aquela estreita rua
E o palor que m'aterrava
Cada vez mais s'acentua

Um dia já não passou
O outro também já não
A sua ausência cavou
Ferida no meu coração

Na manhã do outro dia
Com o olhar amortecido
Fúnebre cortejo via
E o coração dolorido

Lançou-me em pesar profundo
Lançou-me a mágoa seu véu:
Menos um ser n'este mundo
E mais um anjo no céu.

Depois o carro funério
Esse carro d'amargura
Entrou lá no cemitério
Eis ali a sepultura:

Epitáfio.

Cristãos! Aqui jaz no pó da sepultura
Uma jovem filha da melancolia
O seu viver foi repleto d'amargura
Seu rir foi pranto, dor sua alegria.

Quando eu me sento à janela
P'los vidros que a neve embaça
Julgo ver a doce imagem dela
Que já não passa... não passa...²
 
Fernando Pessoa

NOTA- POEMA ESCRITO EM 1902 QUANDO FERNANDO PESSOA TINHA 14 ANOS

quinta-feira, agosto 25, 2011

Encontrado em Espanha misterioso objecto Neandertal

Parece uma pá ou um abanador, mas a única coisa que os arqueólogos têm certeza é que é um objecto único para o seu tempo. Uma equipa de investigadores espanhóis encontrou a marca de um objecto de madeira com 56 mil anos, que pertenceria a um grupo de caçadores recolectores Neandertais que vivia no que é agora o município de Capellades, no centro da Catalunha, Espanha.
“Não existe nada semelhante no mundo com esta forma naquela época, nem construído por Neandertais, nem por humanos modernos”, disse ao El Mundo Eudald Carbonell, director da escavações do sítio arqueológico Abric Romani, que está a ser escavado há três décadas.
“Até ao Neolítico, não existe uma peça semelhante”, disse o investigador, que pertence ao Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social.
O instrumento teria 15 centímetros de comprimento e oito de largura na região da pá, que termina numa forma bicuda, e o punho teria 17 centímetros de comprimento e quatro de largura.
O que os investigadores encontraram na camada foi a marca do objecto original que terá sido parcialmente queimado mas que depois foi conservado devido à humidade e à acumulação de musgos.
A descoberta foi feita durante a campanha de investigação que começou a 8 de Agosto e termina dia 31. Junto com esta descoberta, os arqueólogos encontraram objectos de madeira que poderiam ter sido utilizadas como bandejas, lanças e restos de caça – cavalos, veados e bovinos.
 fonte:Publico

quarta-feira, agosto 24, 2011

como eu vejo a ilha

Hoje o dia amanheceu assim. Ao fundo, o Porto Santo deitado no mar.

EVERNESS


Só uma coisa não há: e esta é o olvido.
Deus, que salva o metal, e salva a escória,
cifra em Sua profética memória
as luas que serão e as que têm sido.
Já tudo fica. A seqüência infinita
de imagens que entre a aurora e o fim do dia
teu rosto nos espelhos deposita
e essas que irá deixando todavia.
E tudo é só uma parte do diverso
cristal desta memória: o universo.
Não têm fim os seus árduos corredores,
e se fecham as portas ao passares;
e só quando na noite penetrares,
do Arquétipo verás os esplendores.


Jorge Luís Borges



O escritor nasceu a 24 de Agosto de 1899 em Buenos Aires, Argentina, e morreu em Genebra, Suíça, a 14 de Junho de 1986.

O LUTADOR


Buscou no amor o bálsamo da vida,
Não encontrou senão veneno e morte.
Levantou no deserto a roca-forte
Do egoísmo, e a roca em mar foi submergida!

Depois de muita pena e muita lida,
De espantoso caçar de toda sorte,
Venceu o mostro de desmedido porte
- A ululante Quimera espavorida!

Quando morreu, línguas de sangue ardente,
Aleluias de fogo acometiam,
Tomavam todo o céu de lado a lado.

E longamente, indefinidamente,
Como um coro de ventos sacudiam
Seu grande coração transverberado!


30 de Setembro – 1.º de Outubro de 1945.
Manuel Bandeira

terça-feira, agosto 23, 2011

Com apenas 10 anos é considerada "novo Mozart"

Natasha Binder, com apenas 10 anos, é já um prodígio da música clássica. Filha e neta de músicos, Natasha percorre o mundo para interpretar, ao piano, grandes compositores, como Edvard Grieg, Ravel, Schubert, Beethoven e Mozart. 

A menina, de nacionalidade belga, descende de uma família de reconhecidos pianistas. É filha da argentina Karin Lechner, neta da pianista e docente Lyl Tiempo e bisneta dos pianistas Antonio Raco e Elisabeth Westerkamp, também argentinos.
Com apenas dois anos de idade, Natasha começou a dar os primeiros passos no mundo da música. Apesar da insistência da neta, a avó esperou e só começou a ensinar a neta quando esta completou os 3 anos, afirma o jornal argentino "La Razon".
Natasha considera que tocar piano é "a coisa mais natural do mundo". A menina interpreta os grandes compositores da música clássica em diversos palcos mundiais, e já há quem lhe chame "o novo Mozart argentino".Veja o vídeo




como eu vejo a ilha



segunda-feira, agosto 22, 2011

O famoso elefante Babar já faz 80 anos

O elefante Babar nasceu em Agosto de 1931 quando Jean de Brunhoff ilustrou o livro "A História de Babar", a pedido de seus filhos. 
A história do conhecido elefante começa quando Babar foge da floresta, devido a uns caçadores lhe terem morto a mãe. Entretanto Babar chega a Paris, onde se começa a vestir como um homem. Ao regressar à sua terra natal é coroado rei dos elefantes.
Jean de Brunhoff, que morreu em 1937, publicou seis histórias de Babar, passando o legado para o seu filho Laurent. Foi também Laurent de Brunhoff que criou a série para a televisão francesa em 1969.
  in:DN, Lisboa

Enguia descoberta é um fóssil vivo

Uma nova espécie de enguia encontrada numa gruta marinha é um “fóssil vivo” muito parecido com as primeiras enguias que nadaram há cerca de 200 milhões de anos, revela um artigo publicado nesta quinta-feira na revista inglesa Proceedings of the Royal Society B.

A espécie foi encontrada em Março de 2010 a 35 metros de profundidade num recife ao largo de Palau, uma ilha a norte da Indonésia, no oceano Pacífico. O peixe castanho é suficientemente diferente para formar por si só uma nova família, tem poucas características em comum com as enguias modernas que ao todo formam 19 famílias com 819 espécies.

O novo animal tem uma cabeça desproporcionalmente grande, um corpo pequeno e comprimido, tem as aberturas das guelras em forma de colar, raios na barbatana caudal e um maxilar chamado pré-maxila. Todos estas características são semelhantes às enguias primitivas que viveram na altura em que os dinossauros caminhavam sobre a Terra.

O nome científico da nova espécie é Protoanguilla Palau. A espécie forma também um novo género e uma nova família, chamada Protoanguillidae. O termo proto, significa em grego "primeiro", e anguilla é a palavra latina para "enguia".

A equipa que fez a descoberta foi liderada por Masaki Miya, investigador do Museu e Instituto de História Natural de Chiba, no Japão. Com a ajuda de lâmpadas e redes, a equipa recolheu oito espécimes, com comprimentos entre seis e nove centímetros, fizeram testes de ADN e pesquisaram qual é a posição deste peixe na história genética e evolutiva.

Para já, a enguia só foi encontrada neste local, mas poderá ter uma distribuição bem maior, avança o estudo.

O termo "fóssil vivo" foi inventado por Charles Darwin no seu famoso livro A origem das espécies. É usado para descrever espécies que sobreviveram durante milhões de anos e que exploraram nichos ecológicos que mudaram tão pouco que não pressionaram as espécies para evoluírem. Um dos fósseis vivos mais emblemáticos é o peixe celacanto, descoberto no final da década de 1930, que vive no oceano Índico.
in Publico

domingo, agosto 21, 2011

Do mito à realidade

"Ver aquilo que temos diante do nariz requer uma luta constante"
George Orwell

Portugal, pela voz dos seus políticos, já andou "de tanga", talvez de fio dental e, hoje, anda de troika.
Esta palavra ficará gravada na vida das gerações do século XXI ainda que não pertença ao abominável acordo ortográfico.
 A maioria dos portugueses não sabe como resistirá ao corte de 50% no subsídio de Natal o tal que tanto ajudava às lembranças da "Festa" como servia para tapar qualquer buraco financeiro da vida: uns pneus, o seguro do carro, o frigorífico….
Começou no aumento dos transportes, até cerca de 25%, aumenta o IVA da luz e do gás em 17% e, para Setembro, a nível do cabaz necessário ao sustento das famílias, novos aumentos chegarão em sede de IVA.
Na "Pérola do Atlântico" ainda não se paga certos actos médicos por uma questão eleitoralista. A mesmíssima razão que levou o Governo Regional a aumentar o seu órgão de "informação" diário que, em vez de gratuito, é bem pago por todos os portugueses: os de cá e os de lá, os "cubanos". A crise não chegou oficialmente à RAM, onde se anunciam obras sobre obras, à laia de constante campanha eleitoral, sabendo de antemão que não serão realizadas.
277 Milhões de euros é um declive abissal, uma falta de organização e de responsabilidade económica. E dói ver a Madeira na mesma prateleira do BPN, à custa do fundo de pensões dos Bancários!
Nas Câmaras madeirenses já se distribui tinta, cimento e promessas. Raticida também, às mijinhas (para ser actual) e fora do tempo. Lá diz o Povo "quem mata um rato em Abril, mata mil" não é em Agosto ou Junho. Há-de haver jantares para a 3ª idade e o costumado "pão e circo" agitado por bandeiras laranjas, muitas das quais empunhadas por quem assim conseguiu o emprego.
As "gorduras do Estado Madeirense" não minguam até 09 de Outubro porque as medidas de contenção da troika para a Madeira estarão, até essa data, fechadas numa qualquer gaveta secreta.
Pede-se sacrifícios aos Portugueses, em "rentrées", elevando a voz acima do barulho dos talheres e travessas de carne assada.
Cria-se um país pobre, desiludido, de novo emigrado, deixando fugir todo o investimento que as famílias e o Estado nos jovens fizeram.
Quem ama a sua terra deve querer vê-la liberta de sanguessugas, de visionários loucos e de obscenidades constantes.
E termino lembrando a tragédia de há um ano no Porto Santo, que ceifou vidas e, pelo que não se ouve, não deve haver culpados. Para evoluir é urgente acordar e mudar.

Maria Teresa Góis

in:Diário Notícias Madeira/"Sinais dos Tempos"-opinião

sábado, agosto 20, 2011

cartoon do dia

in: Bloco de Esquerda

Hotel California - Eagles

Plantas e animais estão em fuga para Norte

in:DN, Lisboa
Alterações climáticas empurram as espécies a um ritmo de 17 quilómetros por década.

Aves e insectos, grandes e pequenos mamíferos, borboletas e plantas, incluindo árvores, todos eles estão em movimento, numa migração forçada para Norte, mas também em altitude, subindo montanhas. Motivo: fogem dos efeitos negativos das alterações climáticas, e a um ritmo três vezes superior ao que sugeriam dados anteriores. É o que mostra a primeira investigação global sobre a questão. Os resultados do estudo, realizado por investigadores britânicos e de Taiwan, são publicados hoje na revista Science.

sexta-feira, agosto 19, 2011

in:Expresso on line

LANG LANG, o Pianista

Nascido em Shenyang, hoje com 27 anos,  na China, Lang Lang começou a tocar piano aos três anos de idade e deu o seu primeiro recital público aos cinco anos. Aos nove ingressou no Conservatório Central de Música de Beijing. Conquistou o 1.º Prémio no Concurso Internacional Tchaikovsky para Jovens Músicos (1995) e tocou os Estudos op.10 e op.25 de Chopin no Auditório de Beijing aos 13 anos. Estudou posteriormente no Curtis Institute de Filadélfia, com Gary Graffman, e em 1999, aos 17 anos, causou sensação ao responder positivamente a uma substituição de última hora na Gala of the Century do Festival de Ravinia, tocando o Concerto para Piano N.º 1 de Tchaikovsky com a Sinfónica de Chicago e o maestro Christoph Eschenbach. Depois deste extraordinário início, apresentou-se com grande sucesso nos mais destacados palcos de todo o mundo.

quinta-feira, agosto 18, 2011

foto do dia

cartoon do DN, Lisboa

Não posso dizer adeus

(Ao poeta Armando Artur)
Todas as manhãs invento um novo motivo
para permanecer, enquanto lá fora
cruéis as aves me ensinam a partir.
Não posso dizer adeus. Aqui as noites
são menos gélidas, e as madrugadas, cálidas
embalam o meu medo de me aventurar.

Não posso dizer adeus. Nunca ninguém
me ensinou o seu real sentido, mas se este
é realmente o teu desejo, eu irei, sem no entanto,
provar a dor da despida, pois não posso dizer adeus.
O olhar, volvendo compungido, atrás,
meu porto de partida e chegada jaz, fulmina-se
também o calor da primeira habitação.

Em meu peito, tudo está gasto, menos o silencio.
Enfio a mão na algibeira do casaco, e já não
encontro tudo aquilo que outrora tínhamos
um para o outro.

Eusébio Sanjane

quarta-feira, agosto 17, 2011

como eu vejo a ilha

Paúl da Serra, 12 de Agosto 2011

Nota da Redacção - Que "Pintor" poderia pintar esta maravilha, com ar puro e a Natureza a latejar?

A questão do melro

ISAAC FOI BUSCAR UMA GARRAFA DE UÍSQUE e beberam aos mortos. Depois adormeceram no sofá.
De repente, Isaac Dresner acordou e agarrou-se ao vestido de Adele.
- O melro.
- Que é isso do melro?
- Preciso de um uísque. Eu, quando era miúdo, fui apenas uma voz, uma coisa sem corpo debaixo da terra. Esqueci-me da claridade e do mundo e um dia saí daquela caverna e vi a luz do dia, a mesma de que Platão fala. Estava no meio de uma loja de pássaros. De canários que eram pardais pintados de amarelo, desbotados; de bengalins mosqueados, de conures e de cabeças-de-ameixa. E lá fora estavam os restos do mundo, o que sobra da guerra, e em cima do que restava do mundo estava um melro. Dei a mão ao Sr. Vogel e, enquanto olhava para o melro, um soldado veio falar comigo. Já não era um homem, aquele soldado, era mais um despojo do mundo, como um resto de comida. Via-se bem nos olhos dele que lá dentro, dentro dele, estava um vazio aberto com bombas. Sabe, menina Varga, quando um homem vive faz assim: conhece todas as assoalhadas da sua casa. Todas. Vai abrindo porta atrás de porta até somente restar uma. E pensa que já só falta aquela assoalhada. Por isso é que há aqueles cientistas que dizem que basta explicar não sei quê para saber tudo. É a assoalhada deles. Todos nós conhecemos a casa onde habitamos, porta atrás de porta. Quer mais uísque? E, dizia eu, que falta apenas uma porta. Um dia, cheios de coragem, resolvemos abri-la. Só falta uma assoalhada. E então deparamo-nos com algo insólito: a porta não dá para assoalhada nenhuma, a porta dá para a rua. Está a ver? Para a rua! E essa rua está cheia de casas cheias, por sua vez, de assoalhadas. Eu, no outro dia, abri essa porta e fiquei ali parado durante minutos. Foi como quando abri o alçapão e subi para a loja de pássaros e depois para a rua. Aquilo era um novo mundo. Como é que nunca tinha visto aquilo? Um mundo inteiro com árvores e tudo, um lugar onde se voa fora de gaiolas. As minhas pernas começaram a tremer e até cheguei a vomitar. Fechei a porta com força, mas tinha entrado um melro. O mesmo melro que tinha visto em miúdo. Este que você não vê.
- Não vejo.
- Está mesmo aqui - apontava para o ombro esquerdo. - Isto é aquele mundo. Se um dia perceber este pássaro, percebo aquela paisagem. É a maior assoalhada que um homem pode desejar, com campos verdes e árvores. Quando era miúdo aquilo era um mundo devastado, mas no outro dia, quando abri a porta, era um sítio bonito como aquelas gravuras das revistas dos jeovás. A única porta que nos falta abrir no nosso apartamento é a da rua. Lembre-se disso, menina Adele, lembre-se disso. Agora vou contar-lhe como foram as últimas palavras do seu avô. Ou melhor, não foram bem as últimas, mas andaram lá perto.
Afonso Cruz

(in A Boneca de Kokoschka, Quetzal, 2010)

terça-feira, agosto 16, 2011

lembrando Eça.....Nós Estamos num Estado Comparável à Grécia

Nós Estamos num Estado Comparável à Grécia Nós estamos num estado comparável, correlativo à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma ladroagem pública, mesma agiotagem, mesma decadência de espírito, mesma administração grotesca de desleixo e de confusão. Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se quer falar de um país católico e que pela sua decadência progressiva poderá vir a ser riscado do mapa – citam-se ao par a Grécia e Portugal. Somente nós não temos como a Grécia uma história gloriosa, a honra de ter criado uma religião, uma literatura de modelo universal e o museu humano da beleza da arte.

Eça de Queirós, in 'Farpas (1872)'

O Diálogo (séc. XVII)

Diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV extraído da peça de teatro Le Diable Rouge, de Antoine Rault: 

Colbert: Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o contribuinte] já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço...

Mazarino: Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado... o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se... Todos os Estados o fazem!

Colbert: Ah sim? O Senhor acha isso mesmo ? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis?

Mazarino: Criam-se outros.

Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

Mazarino: Sim, é impossível.

Colbert: E então os ricos?

Mazarino: Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.

Colbert: Então como havemos de fazer?

Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tirámos. É um reservatório inesgotável."

segunda-feira, agosto 15, 2011

o Execrável

Uma vez mais a primeira figura da Madeira deu mais um espectáculo, dentro da Sacristia da Igreja do Monte, após a Eucaristia.
Insultando a jornalista que, no seu posto de trabalho, cumpria com a obrigação de informar, insultou-a, ameaçou chamar a PSP e tudo isto na presença de autoridades religiosas, militares e civis.
Não bastasse a forma desgovernada como usa dinheiros do erário público, o descaramento como beneficia a sua corte, exímios lambe-botas, nem a Casa de Deus respeita.
Penso que os excessos cometidos ao longo de 30 anos lhe roubaram capacidades mentais e o meio neurónio que poderá ter, há-de com toda a certeza, morrer afogado entre cerveja e whisky entalado por marisco vário, no areal do Porto Santo.
Chega, basta; os Madeirenses estão fartos de ser envergonhados por esta besta.
Oxalá haja discernimento popular para que no próximo dia 9 de Outubro nos possamos livrar de tal aberração.

Maria Teresa Góis

os meus amigos


Amigos cento e dez e talvez mais
Eu já contei! Vaidades que eu sentia.
Pensei que sobre a terra não havia
Mais ditoso mortal entre os mortais.

Amigos cento e dez, tão serviçais,
Tão zelosos das leis da cortesia,
Que eu, já farto de os ver, me escapulia,
Às suas curvaturas vertebrais.

Um dia adoeci profundamente,
Ceguei. Dos cento e dez, houve um somente
Que não desfez os laços quase rotos.

Que vamos nós (diziam) lá fazer?
Se ele está cego, não nos pode ver…
Que cento e nove impávidos marotos!

Camilo Castelo Branco (1825-1890)

domingo, agosto 14, 2011

exame de vista chinês

NÃO CONSEGUE LER ???

...experimente puxar os cantos dos olhos como os chineses...e afaste-se um pouco

sábado, agosto 13, 2011

como eu vejo a ilha

Chegados ao Paúl é preciso montar o material....

e a lua apareceu.....
mas falta um pedaço......
cá esta ela na sua plenitude....
o pessoal foi aparecendo.....
já se sentia um briol....
e foi mais uma noite mágica.....
Ah, as "perseidas" não as vi, teria de esperar umas horas....

sexta-feira, agosto 12, 2011

Lua pode estragar chuva de Perseidas desta madrugada

Hoje, a Lua vai aparecer cheia, o que pode prejudicar a observação desta chuva de meteoros. Siga as nossas dicas, que podem ajudar a vislumbrar este fenómeno. De qualquer forma, é preciso paciência.
Para a madrugada de hoje está previsto um avistamento de Perseidas, uma chuva de meteoros associada ao cometa Swift-Tuttle. Só que também o satélite terrestre vai estar na sua fase de lua cheia, dificultando a visão a quem quiser acompanhar este fenómeno do cosmos.
No entanto, nem tudo está perdido, e com (muita) paciência e o ângulo certo poderá observar a chuva.
As Perseidas formam-se com o movimento dos cometas. Estes, enquanto descrevem órbitas em volta do Sol, vão espalhando pó, gases e escombros (materiais rochosos). Este trilho permanece numa órbita semelhante ao cometa original. Sendo assim, cada cometa vai formando um anel feito de fragmentos de cometa. Quando a Terra, no seu movimento em torno do Sol, encontra um destes anéis, alguns dos seus fragmentos rochosos são atraídos pelo campo gravitacional e caem a grande velocidade na atmosfera formando uma chuva de meteoros.
Leia mais no e-paper do DN.

CARTA-PREFÁCIO PARA VINICIUS DE MORAES

Amigo:
Quando estiveste, da primeira vez, por aqui dando show, umas granfas (loiras e morenas notáveis, como diria Mestre Carlos, mas granfas), comentando os preços da boate onde, em duas ou três sessões, te produziste com a tua turma, disseram ou fizeram dizer: «Quem não tem dinheiro, não tem Vinícius.» Vinícius, vícios... Não ligues. Olha que elas dispunham de muito bago. Estavam era a ser desajeitadas na maneira de te homenagear. Algumas conheciam de ti o poeta encaixilhado no sério. Charmoso, mas, apesar de tudo, respeitável-respeitoso. Usavam o teu «Soneto do Amor Total», não como tabatière à musique, nem como máquina de pensar, mas como caixinha de arroubos, entre as muitas outras que sempre trazem na molinha, com coisinhas para pôr ou tirar dor de cabeça.
Dessas, umas quantas mostraram-se decepcionadas, ofendidas contigo por teres descido do livro à boate, do soneto ao samba. E fizeram constar a decepção, a ofensa que sentiam. Não ligues. Estavam era mordidinhas de inveja perante a quantidade de liberdade que tu, em cada noite, produzias!
Marcus Vinicius, eu vi-te aquém e além-palco, con-vivi-tigo. No Alentejo, que agora, mais que nunca, ai de nós, é um adjectivo, vi-te, convivi-te no teu simplório convívio. Estavas em construção, como sempre não definitivo. Tua felicidade, teu riso mais riso, era entre esse pessoal amigo.
Há muita gente ainda por aí (tenho medo que aumente!) que de ti o que quer é o catorze, quer dizer o soneto, e rejeita teu outro meio de comunicar, que afinal é o mesmo: tocantar.
Perceba, por uma vez, essa gentalha, que o Vinicius poeta e o Vinicius sambista são da mesma igualha!

São

o operário

em construção


Abração

ALEXANDRE O'NEILL

Lisboa, Nov. 75

quinta-feira, agosto 11, 2011

foto do dia

Uma cara no céu antes da tempestade 

por DN.ptHoje

o significado da Vida

Convalescença

 
Todos os dias de manhã cedo este cão fiel
Senta-se silenciosamente ao lado da minha cadeira
Até eu reparar na sua presença
Ao tocá-lo com a minha mão.
No momento em que recebe este pequeno reconhecimento,
Ondas de felicidade percorrem o seu corpo.
No inarticulado mundo animal
Apenas esta criatura
Compreendeu o bem e o mal e viu
O homem completo,
Aquele a quem
Talvez a vida deu alegremente
Esse objecto de um amor livre
Cuja consciência assinala o caminho
Para o coração da consciência infinita.
Quando vejo esse coração emudecido
Que revela a sua própria humildade
Através de uma total auto-rendição,
Sinto-me incapaz de descobrir o valor
Que a sua simples percepção encontrou na natureza do homem.
A profunda ansiedade do seu olhar mudo
Apercebe-se de algo que ele não pode explicar:
Ele remete-me para o verdadeiro significado do homem no universo.

(Rabindranath Tagore, p.124)

quarta-feira, agosto 10, 2011

Chaminés hidrotermais gigantescas descobertas a norte dos Açores

A três mil metros de profundidade no Atlântico, e cerca de 420 milhas a norte da ilha Graciosa, uma equipa de cientistas irlandeses e britânicos descobriu um campo de fontes hidrotermais com grandes chaminés – a maior ultrapassa os dez metros de altura.
O novo campo de fontes hidrotermais – emanação de água quente vinda do interior da Terra carregada de metais e minerais – situa-se na Dorsal Médio-Atlântica, uma cordilheira no meio do Atlântico que é fronteira de placas tectónicas. Os metais e minerais precipitam-se e originam as chaminés, que acabam rodeadas de vida invulgar. 
Nesta dorsal já se descobriram vários campos, como o Lucky Strike e o Menez Gwen, ambos dentro da zona económica exclusiva (ZEE) portuguesa e que têm despertado interesse científico e económico. 
A equipa que divulgou nesta sexta-feira o novo campo apenas disse, em comunicado, que fica a norte dos Açores. Ao PÚBLICO, John Joyce, assessor de imprensa do Instituto Marinho da Irlanda, que financia a investigação do mar, referiu uma localização mais aproximada: “O campo hidrotermal é a oés-sudoeste da Irlanda, perto da Dorsal Médio-Atlântica, aproximadamente a 46 graus Norte.” 
Portanto, o campo está a cerca de 420 milhas da Graciosa. É no limite norte da proposta portuguesa de alargamento da plataforma continental para lá das 200 milhas da ZEE, apresentada à ONU em 2009 e na qual se defende que a soberania sobre o fundo do mar seja alargada em 2,15 milhões de quilómetros quadrados. Só em 2015 o processo estará concluído.
A bordo do navio Celtic Explorer, a equipa usou um veículo operado à distância, o Holland 1, para encontrar o campo. Já foi baptizado: “Chamamos-lhe Moytirra, o nome de uma batalha na mitologia irlandesa, que significa ‘planície de pilares’. À maior chaminé, com mais de dez metros, demos o nome de um gigante mítico, Balor”, disse Patrick Collins, da Universidade Nacional da Irlanda, no comunicado. “Em comparação com outros campos, Moytirra tem chaminés monstruosas e, invulgarmente, está no sopé de uma escarpa – uma beleza.” 
fonte:PUBLICO

terça-feira, agosto 09, 2011

"História de Portugal", muito...condensada!

Tudo começou com um tal Henriques que não se dava bem com a mãe
E acabou por se vingar na pandilha de mauritanos
que vivia do outro lado do Tejo.
Para piorar ainda mais as coisas, decidiu casar com uma espanhola qualquer
e não teve muito tempo para lhe desfrutar do salero
porque a tipa apanhou uma camada de peste negra e morreu.
Pouco tempo depois, o fulano, que por acaso era rei,
bateu também as botas e foi desta para melhor.
Para a coisa não ficar completamente entregue à bicharada,
apareceu um tal João que, ajudado por um amigo de longa data
que era afoito para a porrada, conseguiu pôr os espanhóis a enformar pão
e ainda arranjou uns trocos para comprar uns barcos ao filho
que era dado aos desportos náuticos.
De tal maneira que decidiu pôr os barcos a render
e inaugurou o primeiro cruzeiro marítimo entre Lisboa e o Japão
com escalas no Funchal, Salvador, Luanda, Lourenço Marques, Ormuz,
Calecute, Malaca, Timor e Macau.
Quando a coisa deu para o torto,
ficou nas lonas, só com um pacote de pimenta para recordação
e resolveu ir afogar as mágoas,
provocando a malta de Alcácer-Quibir para uma cena de estalo.
Felizmente, tinha um primo, o Filipe, que não se importou
de tomar conta do estaminé até chegar outro João
que enriqueceu com o pilim que uma tia lhe mandava do Brasil
e acabou por gastar tudo em conventos e aquedutos.
Com conventos a mais e dinheiro a menos,
as coisas lá se iam aguentando até começar tudo a abanar
numa manhã de Novembro.
Muita coisa se partiu. Mas sem gravidade porque, passado pouco tempo,
já estava tudo arranjado outra vez,
graças a um mânfio chamado Sebastião que tinha jeito para o bricolage
e não era mau tipo apesar das perucas um bocado amaricadas.
Foi por essa altura que o Napoleão nos bateu à porta a perguntar
se podia ficar com isto. Levou com os pés dos ingleses que queriam o mesmo.
Outro João tinha dois filhos e queria pôr o Pedro a brincar com o irmão mais novo, o Miguel,
mas este teve uma crise de ciúmes e tratou de armar confusão
que só acabou quando levou um valente puxão de orelhas do mano
que já ia a caminho do Brasil para tratar de uns negócios.
A malta começou a votar mas as coisas não melhoraram grande coisa
E foi por isso que um Carlos anafado levou um tiro nos coiratos
quando passeava de carroça pelo Terreiro do Paço.
O pessoal assustou-se com o barulho, escondeu-se num buraco e vieram os republicanos que meteram isto numa guerra onde ninguém nos queria.
Na Flandres levámos tiros que fartou
disparados por alemães. Ao intervalo, já perdíamos por muitos
mas o desafio não chegou ao fim porque uma Senhora vestida de branco
apareceu a flutuar por cima de uma azinheira
e três pastores deram primeiro em doidos, depois em mortos
e mais tarde em beatos.
Se não fosse por um velhote das Beiras, a confusão tinha continuado
mas, felizmente, não continuou e Angola continuava a ser nossa
mesmo que andassem para aí a espalhar boatos.

O homem que perdeu a fala

Começou a sentir-se aflito e disse a um amigo:
— Não sei falar.
O amigo respondeu-lhe:
— Estás a falar.
— Isso é o que tu julgas!... Se eu quiser dizer hoje, digo amanhã.
— Estás a dizer hoje!
— E se eu não souber?
Engasgou-se e titubeou, encarnado:
— Sábado... Quinta-feira...Cães... Galinhas!
O amigo riu-se.
— Estás a gozar? Diz lá as coisas como devem ser...
— Palácios...
O amigo condescendeu:
— O.K. Palácios!...
E virou-lhe as costas.
A verdade é que ele deixara de saber falar. As palavras saíam-lhe desgarradas. E foi nesse momento que começou o problema porque gostava de falar com as pessoas. Tentava, mas não podia: já não tinha língua. Esforçava-se e não conseguia.
Foi a um médico que lhe disse:
— O senhor perdeu o uso das cordas vocais.
E repôs os aparelhos no sítio.
— E agora? — acenou.
— Posso operá-lo. Mas não garanto.
— O quê? — acenou ele outra vez.
— Que fale. O senhor perdeu a fala.
Levantou-se da cadeira e agarrou num papel, desenhou um caranguejo.
— Talvez — disse o médico —, uma doença grave.
Fugiu: não queria ser operado.
A vida voltou e custou-lhe muito. Ouvia os outros e não respondia. Eles procuravam-no e ele não era capaz. Tocava-lhes, dançava para que gostassem, mas não conseguia falar. E os outros acabavam por se ir embora. Via os corpos, a afastarem-se, queria-os, mas, sem língua, não chegava ao pé deles, não os prendia, não os abria. Corpos esplêndidos; corpos, pensava, que estavam à espera de quem soubesse oferecer-se-lhes, de quem lhes desse o que queriam. Pensava também que os compreendia melhor do que ninguém. Mas, faltava-lhe a voz.
Um dia meteu uma pedra na boca. Chegou à noite desfeito e na mesma.
"A culpa é minha? O que é que aconteceu? Que mal fiz eu a Deus? Isto não tem remédio?" E veio-lhe vontade de chorar.
Gostava das pessoas. Eram bonitas. Ai!, se não lhe tivessem roubado a voz! Porque ele, dantes, falava! Era um homem interessante! Agora, nem pio. Caretas, gestos. Uma dor, do lado esquerdo. E a troça e a indiferença dos outros. Ou as duas.
— Fala! — gritou-lhe um amigo.
— Não sei... — respondeu-lhe, mudo.
E continuou a passar gente.
— Anda! — disse-lhe uma.
E insistiu:
— Anda!
Não foi... Ficou parado no meio da rua.
— Olha o carro!
Já era tarde.





Manuel Poppe
(de Um Inverno em Marraquexe, Teorema, 20)