[...] "Durante vinte anos a velhinha esteve acamada e pela janela via tudo o que acontecia na fazenda onde os dois filhos lavravam a terra. Mas via o mundo e as pessoas de um modo bastante peculiar, pois as vidraças de seu quarto estavam manchadas com todas as cores do arco-íris; bastava virar a cabeça para que tudo ficasse vermelho, amarelo, verde, azul ou violeta. Se fosse um dia de inverno, de árvores cobertas pela geada, como se vestissem folhas de prata, virava a cabeça no travesseiro e as árvores tornavam-se verdes; se fosse verão, via o campo dourado e o céu azul, mesmo se, na verdade, o dia estivesse cinza. Assim, achava que tinha poderes mágicos e nunca se aborrecia. Mas não era esse o único poder das vidraças mágicas: elas também eram curvas, e podiam aumentar ou diminuir o que se via lá fora.
Assim, quando o filho mais velho chegava, fazendo travessuras, gritando pela fazenda afora, ela desejava-o pequeno e bonzinho; num instante o via assim. Quando os netos vinham com seus passinhos incertos, imaginava o futuro deles, e - um, dois, três! - passavam em frente ao vidro, e ela os via crescidos, adultos, verdadeiros gigantes."
August Strindberg (22.01.1849/14.05.1912)
No fundo é assim que construímos a nossa vida. Depende da escolha...
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