Manoel de Barros
Setembro referenda o Outono.
Nos frios ainda pequenos, nas nuvens brancas, nos pingos grossos que adivinham chuvadas rápidas e vigorosas, no Sol que baixa e nos reduz os dias. Após um Verão recente, demasiado quente, demasiado seco, sabe bem voltar ao frescor das manhãs e dos fins de tarde.
No mundo dos bípedes vivos há electricidades do mesmo nome que se
repelem, sem nada deverem às leis da física, com ditos e atitudes que
demonstram e bem, as respectivas personalidades.
Torga afirma que “a lusitana raça é barroca até no espaço pedagógico” e
se analisarmos as polémicas actuais, políticas e nacionais, vemos que há
um vazio irremediável feito de arrogâncias. Quem os acredita?
Tudo, no nosso dia-a-dia, é efémero, incalculável ou promíscuo. Vemos
uma correria de políticos, borrados de ambição, indiferentes ao povo,
correndo em busca do palanque que antecipadamente reservaram.
Moderno, agora, é pedir desculpa usando-a como um antinódoas público.
Projecta-se, inventa-se, imagina-se sem pensar nas consequências,
olhando às “poupanças” de um Estado que tem a mão larga para as elites,
numa complicada e secreta alquimia.
Talvez daqui a uns anos, se não prescreverem, as possamos perceber.
Moderno, agora, é referendar, agitar as massas em nome de uma autonomia
fiscal ou política. Referendar, aqui, só se for em apneia!
Por mim referendava a dívida da Região (quer a conhecida quer a oculta),
referendava as obras inúteis que todos pagamos, o desemprego, a fome e a
miséria, a emigração, a atribuição de subsídios e da sua necessidade, a
eficácia da saúde e da educação.
Referendava porque subiram os impostos na Madeira, porque é maior o
custo de vida, as passagens aéreas, tendo o termo comparativo na Região
Autónoma dos Açores que tem nove ilhas, terá oito ou nove aeroportos,
vários hospitais, vários barcos de inter- ligações, mas que tem produção
de lacticínios brilhante, de chás, de frutos, de vinhos e licores, de
bordados e outras artes e dívida pública reduzida.
Referendava ainda o horizonte de vida dos jovens, a solidão dos velhinhos, o desânimo dos que teimam em lutar!
Também faria um referendo sobre a possibilidade de auferir, em
simultâneo, mais do que um vencimento acumulativo ou pensão em tempo de
vacas magras.
Nota - Não referendava o humor ou a estupidez natural porque são indispensáveis à boa relação humana…
Maria Teresa Góis
http://www.dnoticias.pt/impressa/diario/opiniao/470426-referendar