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segunda-feira, outubro 31, 2011

EM FACE DOS ÚLTIMOS ACONTECIMENTOS

Oh! sejamos pornográficos
(docemente pornográficos).
Por que seremos mais castos
que o nosso avô português?

Oh! sejamos navegantes,
bandeirantes e guerreiros,
sejamos tudo o que quiserem,
sobretudo pornográficos.

A tarde pode ser triste
e as mulheres podem doer
como dói um soco no olho
(pornográficos, pornográficos).

Teus amigos estão sorrindo
de tua última resolução.
Pensavam que o suicídio
fosse a última resolução.
Não compreenderam, coitados,
que o melhor é ser pornográfico.

Propõe isso a teu vizinho,
ao condutor do teu bonde,
a todas as criaturas
que são inúteis e existem,
propõe ao homem de óculos
e à mulher da trouxa de roupa.
Dize a todos: Meus irmãos,
não quereis ser pornográficos?




Carlos Drummond de Andrade
(de Brejo das Almas, 1934)

Os Desastres Económicos em que se Caiu

Os sonhos do “25 de Abril”: liberdade, democracia e progresso, empurraram Portugal para a União Europeia, a moeda única e o consumismo. E todos fomo-nos instalando numa vivência social cor-de-rosa, com hipers e supermercados por todo o lado, construções habitacionais que dão quase duas casas para cada família, um parque automóvel com mais de um carro para cada adulto, roupas a preço de feira, mobilidade de circulação e de conversação constantes, tudo num facilitismo impressionante de função. E o dinheiro circulava por todas as mãos.
O grupo humano mais cliente e dinâmico foi a juventude, gente nascida na década dos cinquenta e depois, fora da dureza da ditadura e sem experiência da rudeza do atraso e das carências do Estado Novo. Instalaram-se nas asas do facilitismo, convictos de que a vida era isso mesmo.
Agora aconteceu o desastre. O facilitismo aterrou paralítico. E todos estamos estatelados num tempo de desgraça, cinzento e sombrio.
Por que razão isto aconteceu? Simplesmente por falta de respeito pelos alicerces das comunidades humanas. Fomos e estamos sendo conduzidos por políticos fracos e oportunistas e por grupos financeiros, ciosos de lucros gordos e múltiplos. Estes arrasaram o trabalho e as empresas, obrigando-as a saltitar de uma nação para outra, numa habilidade para a sucção do seu âmago. O resultado foi: muitas e muitas empresas nas prateleiras da falência, os trabalhadores no desemprego e na miséria, mas eles muito mais gordinhos.
Estamos perante um ataque à vida. Vivemos numa sociedade esfaqueada.
O dinheiro é o sangue social das comunidades. O trabalho gera riqueza e a riqueza dá-lhes vida e mobilidade. Mas o dinheiro foi aprisionado, caiu nas mãos de usurários e agora quase só funciona como objecto de aluguer. Por assalto o dinheiro deixou de ser um bem social e passou a senhorio opressor. A que título? Descubram a justiça e a dignidade deste processo.
Concretizando a crise que nos sufoca: O dinheiro, o suor de tantas gerações sequentes desde há milénios, património vivo de todos, tornou-se propriedade privada. Ainda não todo. Os governantes reconhecem os roubos e desvios feitos como protegidos por um estatuto invisível e intocável e reconhecem também este grupo possuidor como parceiro no poder. O parque laboral das comunidades, desmantelado e falido, precisa de retoma. A funcionar dará mais uma nova remessa de lucros. Há que conseguir capital para cobrir as dívidas existentes e para recuperá-lo. Como proceder? Indo às vítimas e impor-lhes impostos pesadíssimos e redução dos seus direitos sociais.
As pessoas do povo sempre foram quem suportou as guerras, pagou as dívidas e cobriu as crises. Pelos vistos, segundo os governantes e seus apoiantes, terão que continuar como património de recurso.
E o povo aceita? De facto tem-se manifestado muito contra. Os movimentos de indignação multiplicam-se e as greves são anunciadas. Mas o povo tem algo contra si próprio. Anda vestido com o uniforme da democracia dos grandes. Por outras palavras: as pessoas têm sido educadas para dadores de votos. As eleições têm funcionado como as palmas nas celebrações e festas, em que só algumas são conscientes e verdadeiras.
Os que são eleitos, seguros pelos votos que receberam, podem funcionar como lhes convém. O povo não lhes pede contas, arca simplesmente com as consequências. Já muitas pessoas não votam, mais de 40%. Contudo o não votar não é protesto, nem iliba a pessoa dos desastres na cidadania.
Algo está a faltar.
Votar não é dar licença para ser explorado. As pessoas, todas as pessoas têm o direito de ver projetada a sua dignidade de cidadania nos resultados da governação.
Os pobres não podem viver restritos à sua vida pessoal e familiar e, nas horas muito duras, saírem à rua de mão estendida. Os pobres não são destituídos nem das faculdades mentais nem das capacidades de trabalho. O exercício das suas faculdades e capacidades fazem parte da vivência e do desenvolvimento comunitário. A desvalorização do valor trabalho e o desemprego significam pura e simplesmente exclusão social.
O povo terá que saber sair de vítima da desgraça política. A democracia participativa terá que funcionar, para que se vão destruindo os bezerrinhos de ouro, os privilégios e a exclusão social.
Mas exige de cada um muita participação activa e responsabilidade. Nada disto é frango assado que caia do céu.
Mário Tavares, Padre

Afinal, onde nasceu o bebé sete mil milhões?

A ONU elegeu simbolicamente uma filipina, Danica May Camacho, nascida com 2,5 quilogramas pouco depois da meia-noite em Manila, como o bebé sete mil milhões. No entanto, a escolha não é pacífica: Índia e Rússia também reclamam para si o título. Tecnicamente, ninguém sabe ao certo onde nasceu ou nascerá o habitante que fará a população subir mais um degrau na escalada demográfica.
Ainda assim, e apesar da contestação, funcionários das Nações Unidas já visitaram e presentearam os pais da pequena Danica com um bolo de chocolate onde se pode ler “bebé sete mil milhões”.

A menina, cujo nome significa “estrela da manhã”, contará ainda com uma bolsa que visa assegurar o seu acesso à educação e os pais vão receber ajuda financeira para poderem abrir uma loja. Os pais de Danica, que tem um irmão mais velho, mostraram-se surpreendidos com o feito e não resistiram a dizer que a menina é “linda” e “amorosa”.

As Filipinas contam com quase 95 milhões de habitantes, com 10% das raparigas entre os 15 e os 19 anos a serem mães. Enrique Ona, um dos responsáveis pela pasta da saúde no país, espera por isso que este marco ajude as Filipinas a resolver vários problemas relacionados com a população. No entanto, e apesar de o mediatismo de hoje, o bebé seis mil milhões e o bebé cinco mil milhões, da Bósnia e Croácia, respectivamente, já acusaram as Nações Unidas de os terem destacado na altura e ignorado ao longo das suas vidas.

Nargis também quer ser o rosto “sete mil milhões”
Polémicas à parte, de acordo com as Nações Unidas, a população mundial chega assim hoje à marca dos sete mil milhões de habitantes. Ninguém era capaz de dizer onde iria nascer o bebé que assinala a subida de mais este degrau na escala demográfica. A própria ONU apostava que seria em Uttar Pradesh, o estado mais populoso da Índia, onde nascem 11 crianças por minuto. Aliás, a Índia é um dos países que está a reclamar a efeméride, depois de a organização Plan International ter anunciado que o bebé sete mil milhões era também uma menina chamada Nargis e nascida precisamente em Uttar Pradesh. Situação semelhante à que acontece na Rússia, onde há dois bebés candidatos ao título.

A contagem decrescente para este dia começou há dez meses, no 19.º andar de um arranha-céus de Manhattan, o número 2 da Praça das Nações Unidas. Uma equipa de cinco demógrafos de várias nacionalidades, cada um encarregado de 40 países, territórios e áreas, começou a recolher e trabalhar dados – incluindo do Afeganistão, onde não se realiza um censo desde que a União Soviética invadiu o país, em 1979.

Se 2011 for o ano certo para este novo marco, a população global então terá aumentado mil milhões de habitantes em apenas 12 anos. Os primeiros mil milhões assinalaram-se em 1804 e os demais saltos deram-se em 1927 (123 anos depois), 1960 (33 anos) e 1974 (14 anos), 1987 (13 anos) e 1999 (12 anos). Depois da explosão demográfica do século XX, o ritmo de aumento está a abrandar. Ainda assim, a população mundial deverá chegar a 9,3 mil milhões em 2050 e aos 10 mil milhões em 2100, segundo as mais recentes projecções da ONU.

A escalada populacional ocorrerá quase que exclusivamente no mundo em desenvolvimento, em particular nas nações onde as mulheres ainda têm muitos filhos – 39 países em África, nove na Ásia, seis na Oceania e quatro na América Latina. A curto prazo, a Índia irá ultrapassar a China, tornando-se o país mais populoso do mundo. Quanto à China, enfrentará a médio prazo o problema do envelhecimento. Por ora, ainda tem a maior fatia de população activa do mundo (74,5%), o que tem sido um factor decisivo para o seu crescimento económica entre 1965 e 2005.

Mas esse período está a acabar, por causa da política de filho único seguida desde os anos 70. A preferência por filhos do sexo masculino levou também a uma grave distorção nos nascimentos: 118 rapazes para cada 100 raparigas, quando a taxa natural ronda 104 meninos por 100 meninas.

Se os cenários da ONU se mostrarem certos, a população mundial chegará aos oito mil milhões dentro de 13 anos, em 2024. fonte:PUBLICO
 

foto do dia

Pub Lynx (Halloween)

sábado, outubro 29, 2011

Uma raiva a nascer-me nos dentes



Sr. primeiro-ministro, depois das medidas que anunciou sinto uma força a crescer-me nos dedos e uma raiva a nascer-me nos dentes, como diria o Sérgio Godinho. V.Exa. dirá que está a fazer o que é preciso. Eu direi que V.Exa. faz o que disse que não faria, faz mais do que deveria e faz sempre contra os mesmos. V.Exa. disse que era um disparate a ideia de cativar o subsídio de Natal. Quando o fez por metade disse que iria vigorar apenas em 2011. Agora cativa a 100% os subsídios de férias e de Natal, como o fará até 2013. Lançou o imposto de solidariedade. Nada disto está no acordo com a troika. A lista de malfeitorias contra os trabalhadores por conta de outrem é extensa, mas V.Exa. diz que as medidas são suas, mas o défice não. É verdade que o défice não é seu, embora já leve quatro meses de manifesta dificuldade em o controlar. Mas as medidas são suas e do seu ministro das Finanças, um holograma do sr. Otmar Issing, que o incita a lançar uma terrível punição sobre este povo ignaro e gastador, obrigando-o a sorver até à última gota a cicuta que o há-de conduzir à redenção.

Não há alternativa? Há sempre alternativa mesmo com uma pistola encostada à cabeça. E o que eu esperava do meu primeiro-ministro é que ele estivesse, de forma incondicional, ao lado do povo que o elegeu e não dos credores que nos querem extrair até à última gota de sangue. O que eu esperava do meu primeiro-ministro é que ele estivesse a lutar ferozmente nas instâncias internacionais para minimizar os sacrifícios que teremos inevitavelmente de suportar. O que eu esperava do meu primeiro-ministro é que ele explicasse aos Césares que no conforto dos seus gabinetes decretam o sacrifício de povos centenários que Portugal cumprirá integralmente os seus compromissos — mas que precisa de mais tempo, melhores condições e mais algum dinheiro.

Mas V.Exa. e o seu ministro das Finanças comportam-se como diligentes diretores-gerais da troika; não têm a menor noção de como estão a destruir a delicada teia de relações que sustenta a nossa coesão social; não se preocupam com a emigração de milhares de quadros e estudantes altamente qualificados; e acreditam cegamente que a receita que tão mal está a provar na Grécia terá excelentes resultados por aqui. Não terá. Milhares de pessoas serão lançadas no desemprego e no desespero, o consumo recuará aos anos 70, o rendimento cairá 40%, o investimento vai evaporar-se e dentro de dois anos dir-nos-ão que não atingimos os resultados porque não aplicámos a receita na íntegra.

Senhor primeiro-ministro, talvez ainda possa arrepiar caminho. Até lá, sinto uma força a crescer-me nos dedos e uma raiva a nascer-me nos dentes.

Nicolau Santos, Expresso, 15/10/2011

Festival da Cebola - parte II


recebido por email

sexta-feira, outubro 28, 2011

Saiba qual o seu número entre a população mundial


Um relatório do Fundo de População das Nações Unidas estima que a população mundial irá atingir, na próxima segunda-feira, sete mil milhões de habitantes. Saiba quantas pessoas havia no Mundo no dia em que nasceu.
 
foto CARLOS BARRIA/Reuters
Saiba qual o seu número entre a população mundial

 
São vários os artigos que, na imprensa mundial, anunciam o alcance dos sete mil milhões de habitantes na Terra. O site da BBC criou uma animação interactiva que permite descobrir algumas curiosidades demográficas com base na data de nascimento do utilizador.
Saiba, por exemplo, qual o seu número de habitante e quantas pessoas já tinham vivido até à data do seu nascimento.
À pergunta "Where do you fit into 7 billion? Enter your date of birth to find out", responda colocando os dados da sua data de nascimento: dia, em "dd", mês, em "mm", e ano, em "yyyy". Depois, clique em "Go" para saber quantas pessoas estavam na Terra quando chegou ao Mundo.
Tem, ainda, a opção de conhecer dados demográficos sobre Portugal, ou outro país à escolha, seguindo em "Next". E fica com uma ideia da sua posição entre a população mundial, que está quase a atingir os sete mil milhões de habitantes.
O dados da ONU referem que a população demorou 123 anos a crescer de mil milhões para dois mil milhões e actualmente, após um curto período de 12 anos, a população passou dos seis mil milhões para os sete mil milhões. (fonte:JN, Lisboa)

quarta-feira, outubro 26, 2011

soneto

Olha o espelho: a minha boca arde.
Trago o corpo à beira de todos os perigos.
Já não ouço os passos, já não tenho amigos.
Meu coração parou mesmo ao cair da tarde.

Faço com as mãos o tamanho do medo.

Pago bilhete. Dão-me um lugar sentado.
Mas quero ir para qualquer lado
embora me digam que ainda seja cedo.

A alma suja deixo-a como está.

Limpo-me apenas por baixo dos sovacos
e não visto afinal nenhum dos casacos

exactamente porque talvez não vá

para nenhuma parte e sem nenhum sentido,
como um cão já farto de andar perdido.

António Aragão

(Do livro 30 Sonetos, in O escritor N.º 4, Associação Portuguesa de Escritores, Dezembro de 1994)

terça-feira, outubro 25, 2011

excerto de O MEU DIÁRIO - 9 de Outubro de 1910

"Oh meu Deus; nestas ocasiões é que eu queria ver por dentro estes homens lívidos e com um sorriso estampado na cara, que sobem e descem as escadas dos ministérios, para aderirem à República! É este e aquele, os que estão ameaçados de perderem os seus lugares, as altas situações, o poder. Os tipos não importam - o que importa é o fantasma que transparece atrás da figura; o que importa é o monólogo interior, as verdadeiras palavras que não se pronunciam, o debate que não tem fim, o que nestas ocasiões ruge lá dentro sem cessar. Escutá-los a todos! possuir o Dom mágico de ouvir através das paredes e dos corpos!... Toda a noite, toda a noite de Cinco de Outubro quantos perguntaram ansiosos: - Quem vai vencer? onde é o meu lugar?... Bem me importam a mim as tragédias e as mortes!... Interesses, ambição, medo, tantos fantasmas que nem eu supunha existir e que levantam a cabeça!...
Não há nada que chegue a estes momentos históricos em que o fundo dos fundos se agita e remexe, para cada um se avaliar e saber o que vale uma alma...
E o desfile segue - o desfile dos que sobem as escadarias dos ministérios, dos que descem as escadarias dos ministérios, uns já com o olhar de donos, mas vacilantes ainda, sem poderem acreditar na realidade, outros com um sorriso estampado que lhes dói. Estamos todos lívidos por fora e por dentro..."

Raul Brandão
(incluído no "Tomo II" de Memórias - edição de José Carlos Seabra Pereira, Relógio d'Água, 1999 - Obras Clássicas da Literatura Portuguesa / Séc. XX)

domingo, outubro 23, 2011

politiquices....

Os partidos políticos criaram em Portugal, um sistema de roubo legal para os seus membros, baseado na acumulação de reformas e pensões vitalícias.
Só o número de ex deputados com pensão para toda a vida (de todas as cores e para todos os gostos) já ultrapassa os 400 beneficiários. O valor dessa regalia rondará os oitocentos mil Euros por mês.

estou a ler....

 


...."Voltei ao sítio,já o Sol se pusera,
lancei o anzol e esperei.
Não creio que exista no mundo
um silêncio mais profundo que o silêncio da água.
Senti-o naquela hora e nunca mais o esqueci."


José Saramago
"O Silêncio da Água"
/Janeiro 2011)

sábado, outubro 22, 2011

Robô feito de Lego resolve o cubo mágico em 5 segundos

Um robô feito com peças de Lego e com um vulgar 'smartphone' como cérebro surpreende ao completar o famoso "cubo mágico" em pouco mais de 5 segundos.







A máquina usa a câmara do telefone para analisar as imagens do cubo. Depois, envia por Bluetoooth os sinais para pequenos motores eléctricos que realizam os movimentos necessários para terminar o 'puzzle'.
Como conta o site especializado em 'gadgets' Gizmodo, a máquina, criada por David Gilday e Mike Dobson, conseguiu com os seus 5,352 segundos bater o recorde para completar o cubo registado no Guinness - 5.66 segundos conseguidos pelo australiano Felils Zemdegs, um mero ser humano...

quinta-feira, outubro 20, 2011

made in Madeira:

Descoberta a oficina de pintura mais antiga do mundo

Há cem mil anos os humanos produziam tinta. Talvez decorassem a roupa ou o corpo com desenhos e símbolos. Não se sabe. O certo é que eram artesãos com um local próprio onde juntavam pigmentos, adicionavam um líquido, misturavam-no.
Em 2008 uma equipa de investigadores descobriu na gruta de Blombos, perto da Cidade do Cabo, na África do Sul, a mais antiga oficina da humanidade que se conhece. Os resultados são publicados hoje na revista Science e ampliam o que se sabe sobre os primeiros tempos da espécie humana.

Os arqueólogos da Universidade de Bergen, na Noruega, encontraram duas espécies de “estojos de ferramentas” da idade da pedra pertencentes ao Paleolítico Médio, numa camada com cem mil anos, na gruta. Duas conchas de uma espécie de molusco, separadas por alguns centímetros, em que cada uma continha restos secos da tinta vermelha ocre produzida pelas pessoas que estiveram ali. Um dos estojos estava mais completo, e tinha pedras para polir, osso, carvão vegetal, etc.

Através de uma análise da tinta, a equipa de Cristopher Henshilwood conseguiu perceber qual era a sua composição. “Acreditamos que o processo de produção envolvia esfregar pedaços de ocre [composto obtido a partir da terra ou da rocha que contém uma mistura de óxidos e hidróxidos de ferro, com cor ferruginosa] em lâminas de quartzito para produzir um pó fino”, explicou em comunicado Henshilwood. Depois o pó era misturado com carvão vegetal, com lascas de pedra e um líquido.

“Algumas pessoas vieram a este local, trouxeram todos estes compostos e começaram a produzir esta tinta. E talvez tenham estado ali um ou dois dias para depois se irem embora”, explicou o cientista num podcast da Science. À volta dos utensílios, os paleontólogos não encontraram nem comida, nem detritos associados ao quotidiano destas populações. Algo que reforça a ideia que aquele não era um local habitado, mas um sítio de trabalho, uma oficina. “Parece-nos que eles vieram especificamente produzir estes pigmentos.”

Já se tinham encontrado vestígios de produção de tinta, mas não tão antigos. Esta região da Cidade do Cabo tem várias grutas com vestígios arqueológicos que lançam luzes para o início da história da humanidade, quando o Homo sapiens ainda não tinha viajado para lá de África. Durante milénios estas populações foram desenvolvendo comportamentos cada vez mais complexos, mas sabe-se pouco sobre esta evolução cultural.

“Esta descoberta representa um ponto importante na evolução cognitiva humana complexa, já que mostra que os humanos tinham uma capacidade conceptual para ir buscar substâncias, combinar entre si e armazená-las”, disse o cientista. Além disso, a descoberta mostra um conhecimento elementar de química. “Provavelmente eles eram mais inteligentes do que nós pensávamos.”   (in:PUBLICO)

quarta-feira, outubro 19, 2011

O Universo

visto pela Marta, 6 anos

Lisboa


"...Fica-te em paz, Lisboa! Dorme, digere, ressona, soluça e cachimba. E se algumas lágrimas em ti caírem, vae-as enxugar depressa ao sol! Fica-te em paz! Os que têm alma não querem a luz dos teus olhos; pódes conumil-a a contemplar o ceu e os universos; por causa do teu olhar, sempre erguido para lá, ninguém terá ciumes do ceu!
     Os que têm coração, não querem as caricias das tuas mãos; pódes emmagrecel-as a rezar a Jesus; por causa das tuas mãos sempre erguidas para elle, ninguém terá ciumes de Deus!
      Tu tens a belleza, a força, a luz, a graça, a plastica, a agua resplandecente, a linha magnifica! resigna-te, oh Lisboa querida, oh clara cidade bem amada, oh casta graça silenciosa, resigna-te, oh doce Lisboa, coroada de ceu, resigna-te - a não ter alma!"

In: "Prosas Barbaras", Eça de Queiroz
2ª edição, 1909, Lello & Irmão, Porto

Nota da Redacção - O "tukakubana" faz hoje três anos. A todos os meus visitantes ou seguidores, o meu obrigada.

terça-feira, outubro 18, 2011

O que a Troika queria Aprovar e Não conseguiu!!!!!!


Partilhem por favor esta ligação, porque isto é uma vergonha....

O que a Troika queria Aprovar e Não conseguiu!!!!!!
Este e-mail vai circular hoje e será lido por centenas de milhares de pessoas.

Nenhum governante fala em:

1. Reduzir as mordomias (gabinetes, secretárias, adjuntos, assessores, suportes burocráticos respectivos, carros, motoristas, etc.) dos três ex-Presidentes da República.

2. Redução do número de deputados da Assembleia da República para 80, profissionalizando-os como nos países a sério. Reforma das mordomias na Assembleia da República, como almoços opíparos, com digestivos e outras libações, tudo à custa do pagode.

3. Acabar com centenas de Institutos Públicos e Fundações Públicas que não servem para nada e, têm funcionários e administradores com 2º e 3º emprego.
4. Acabar com as empresas Municipais, com Administradores a auferir milhares de euro/mês e que não servem para nada, antes, acumulam funções nos municípios, para aumentarem o bolo salarial respectivo.

5. Por exemplo as empresas de estacionamento não são verificadas porquê? E os aparelhos não são verificados porquê? É como um táxi, se uns têm de cumprir porque não cumprem os outros? e se não são verificados como podem ser auditados?

6. Redução drástica das Câmaras Municipais e Assembleias Municipais, numa reconversão mais feroz que a da Reforma do Mouzinho da Silveira, em 1821.

7. Redução drástica das Juntas de Freguesia. Acabar com o pagamento de 200 euros por presença de cada pessoa nas reuniões das Câmaras e 75 euros nas Juntas de Freguesia.

8. Acabar com o Financiamento aos partidos, que devem viver da quotização dos seus associados e da imaginação que aos outros exigem, para conseguirem verbas para as suas actividades.

9. Acabar com a distribuição de carros a Presidentes, Assessores, etc, das Câmaras, Juntas, etc., que se deslocam em digressões particulares pelo País;.

10. Acabar com os motoristas particulares 20 h/dia, com o agravamento das horas extraordinárias... para servir suas excelências, filhos e famílias e até, os filhos das amantes...

11. Acabar com a renovação sistemática de frotas de carros do Estado e entes públicos menores, mas maiores nos dispêndios públicos.

12. Colocar chapas de identificação em todos os carros do Estado. Não permitir de modo algum que carros oficiais façam serviço particular tal como levar e trazer familiares e filhos, às escolas, ir ao mercado a compras, etc.

13. Acabar com o vaivém semanal dos deputados dos Açores e Madeira e respectivas estadias em Lisboa em hotéis de cinco estrelas pagos pelos contribuintes que vivem em tugúrios inabitáveis.

14. Controlar o pessoal da Função Pública (todos os funcionários pagos por nós) que nunca está no local de trabalho. Então em Lisboa é o regabofe total. HÁ QUADROS (directores gerais e outros) QUE, EM VEZ DE ESTAREM NO SERVIÇO PÚBLICO, PASSAM O TEMPO NOS SEUS ESCRITÓRIOS DE ADVOGADOS A CUIDAR DOS SEUS INTERESSES, QUE NÃO NOS DÁ COISA PÚBLICA.

15. Acabar com as administrações numerosíssimas de hospitais públicos que servem para garantir tachos aos apaniguados do poder - há hospitais de província com mais administradores que pessoal administrativo. Só o de
PENAFIEL TEM SETE ADMINISTRADORES PRINCIPESCAMENTE PAGOS... pertencentes ás oligarquias locais do partido no poder.

16. Acabar com os milhares de pareceres jurídicos, caríssimos, pagos sempre aos mesmos escritórios que têm canais de comunicação fáceis com o Governo, no âmbito de um tráfico de influências que há que criminalizar, autuar, julgar e condenar.

17. Acabar com as várias reformas por pessoa, de entre o pessoal do Estado e> entidades privadas, que passaram fugazmente pelo Estado.

18. Pedir o pagamento dos milhões dos empréstimos dos contribuintes ao BPN e BPP.

19. Perseguir os milhões desviados por Rendeiros, Loureiros e Quejandos, onde quer que estejam e por aí fora.

20. Acabar com os salários milionários da RTP e os milhões que a mesma recebe todos os anos.

21. Acabar com os lugares de amigos e de partidos na RTP que custam milhões ao erário público.

22. Acabar com os ordenados de milionários da TAP, com milhares de funcionários e empresas fantasmas que cobram milhares e que pertencem a quadros do Partido Único (PS + PSD).

23. Assim e desta forma, Sr. Ministro das Finanças, recuperaremos depressa a nossa posição e sobretudo, a credibilidade tão abalada pela corrupção que grassa e pelo desvario dos dinheiros o Estado.

24. Acabar com o regabofe da pantomina das PPP (Parcerias Público Privado), que mais não são do que formas habilidosas de uns poucos patifes se locupletarem com fortunas à custa dos papalvos dos contribuintes, fugindo ao controle seja de que organismo independente for e fazendo a "obra" pelo preço que "entendem".
25. Criminalizar, imediatamente, o enriquecimento ilícito, perseguindo, confiscando e punindo os biltres que fizeram fortunas e adquiriram patrimónios de forma indevida e à custa do País, manipulando e aumentando preços de empreitadas públicas, desviando dinheiros segundo esquemas pretensamente "legais", sem controlo, e vivendo à tripa forra à custa dos dinheiros que deveriam servir para o progresso do país e para a assistência aos que efectivamente dela precisam;

26. Controlar rigorosamente toda a actividade bancária por forma a que, daqui a mais uns anitos, não tenhamos que estar, novamente, a pagar "outra crise".

27. Não deixar um único malfeitor de colarinho branco impune, fazendo com que paguem efectivamente pelos seus crimes, adaptando o nosso sistema de justiça a padrões civilizados, onde as escutas VALEM e os crimes não prescrevem com leis à pressa, feitas à medida.

28. Impedir os que foram ministros de virem a ser gestores de empresas que tenham beneficiado de fundos públicos ou de adjudicações decididas pelos ditos.

29. Fazer um levantamento geral e minucioso de todos os que ocuparam cargos políticos, central e local, de forma a saber qual o seu património antes e depois.

30. Pôr os Bancos a pagar impostos.

*Ao "povo", pede-se o reencaminhamento deste e-mail.
> POR TODOS NÓS E PELOS NOSSOS FILHOS.

origem:net

evento do ano (e para os próximos anos)

nova nota de Euros, circula em Portugal....

Vermes resistiram ao meteorito que matou os dinossauros

fonte:DN, Lisboa
Durante décadas os cientistas reuniram dados reveladores de que a queda de um meteorito há 65 milhões de anos, causou uma extinção em massa que atingiu dinossauros e mamíferos permitindo assim que o Homem se tornasse o animal dominante na Terra. Agora um novo estudo, realizado na Universidade do Colorado, nos Estado Unidos, sugere que os vermes sobreviveram e foram a primeira espécie que prevaleceu no planeta após o desastre.
Até agora, o chamado limite KT - designação dos sedimentos do fim do cretáceo - entendia-se como o momento em que os mamíferos passaram a dominar o planeta e da proliferação das plantas aquáticas oportunistas, devido à pouca biodiversidade botânica.
No entanto, embora os sedimentos do impacto do meteorito tenham poucos fósseis animais, os pesquisadores da Universidade do Colorado, e, particularmante, a geóloga Karen Chin, encontraram provas de que havia muitos buracos nesses poucos centímetros. "Essas tocas fossilizadas são a prova de que havia muita actividade animal", afirmou Chin, que sugere que tenham sido feitas por vermes.
Os cientistas continuam a analisar a relação entre esses buracos encontrados nos fósseis e a extinção em massa das espécies que naquele período viviam na Terra, mas Karen Chin acredita que foram feitos apenas alguns milhares de anos depois.
Essa ideia terá de ser confirmada por futuras pesquisas, mas a ser verdade prova a resistência dos vermes ao impacto do meteorito que matou os dinossauros.

segunda-feira, outubro 17, 2011

dia Internacional da erradicação da Pobreza


"Assim como a escravidão e o apartheid, a pobreza não é um algo natural. Ela é gerada pelo ser humano e pode ser vencida e erradicada pelas acções dos seres humanos. "

Nelson Mandela

Nota da Redacção - Lendo a frase de Mandela vem-me ao pensamento a solidariedade animal. Na verdade o ser Humano de hoje, esquece por comodismo o significado de SER POBRE, diz frequentemente que "pobres haverá sempre"! Esta é a pobreza de mentalidade. Na verdade só o consumismo desenfreado do hemisfério Norte permite o desequilíbrio mo hemisfério Sul. Todos somos responsáveis, todos atentamos contra a Pobreza . Numa altura em que o hemisfério Norte começa a temer pelo aumento de carência nas suas populações, lembremo-nos daqueles que não têm mesmo nada; subsistem na Fome, na Doença, na fuga das guerras, num silêncio onde já não há mais força para choro ou lamentação. Esperam, mortos em vida, a Morte total.


A Ignorância Propaga-se Mais Rápidamente Que a Inteligência

Voltaire preferia a monarquia à democracia; na primeira basta educar um homem, na segunda há necessidade de educar milhões - e o coveiro leva-os a todos antes que dez por cento concluam o curso. Raro percebemos as partidas que a limitação da natalidade prega aos nossos argumentos. A minoria que consegue educar-se reduz o tamanho da família; a maioria sem tempo para se educar procria com abundância; quase todos os componentes das novas gerações provêm de famílias cujas rendas não permitiram a educação da prole. Daí a perpétua futilidade do liberalismo político; a propagação da inteligência não está em compasso com a propagação dos ignorantes. Daí ainda a decadência do protestantismo; uma religião, do mesmo modo que um povo, não vinga em consequência das guerras que vence, senão que dos filhos que gera.

Will Durant, in "Filosofia da Vida"

domingo, outubro 16, 2011

citação:

a crise....

"Um ónus e não um bónus"

Maria Teresa Góis
"Um ónus e não um bónus". 
Pedro Passos Coelho, 1º Ministro, 14.09.2011

Depois do ministro Miguel Relvas ter afirmado que a dívida regional seria conhecida antes das eleições, os Madeirenses ficaram suspensos da informação. Divulgado um total, ainda não totalmente apurado, de cerca de 7,5 mil milhões de euros, resta saber o quanto terá custado ao erário as inaugurações apressadas, com obras incompletas, inauguradas para fechar de seguida e ainda os comes e bebes a que todos ou quase todos já se habituaram. Sobretudo no meio rural.
Vítor Gaspar, ministro das Finanças, já afirmou "ser imprescindível alterar a lei de Finanças para que este tipo de comportamento não volte a repetir-se". E porque foi tão frio, tão ríspido o nosso pausado e explicativo ministro? Porque além do deficit de 23% do PIB a dívida equivale a seis vezes a receita de um só ano.
E votámos no dia 09 passado, ignorando da missa a metade. Votaram 147.344 votantes, sendo que 71.556 votaram em Alberto João Jardim a presidente do Governo e 71.888 votaram nas outras forças partidárias, faltando apenas mencionar os 3.900 votos brancos ou nulos.
Será uma maioria que ganhou? Duvido seriamente pois o PPD deveria ter 73.673 votos, o que não teve.
Acabar-se-ão agora "as baldas" na Assembleia Regional? Com certeza que haverá mais cuidado ainda que a qualidade do discurso verbal continue na mesma. Ou pior, à conta de alguns eleitos!
Acreditando que a voz ancestral do Povo tem razão, "Deus escreve direito por linhas tortas", é caso para dizer, agora, que quem comeu a febra roa o osso. E sem reclamios e queixas, sem acusações ridículas, sujeitando-se à disciplina e austeridade impostas, já sem poder recorrer ao aliciamento pessoal para a corrupção social.
E, se como afirma o presidente, "tudo é legal" porque não reclama o Governo das derrapagens nas obras, do mau acabamento e qualidade de material? Talvez se poupassem uns milhões se, é óbvio, os "amigos" não se importassem…
Nada voltará a ser igual após estas eleições e a hegemonia laranja caminha, constrangida e caduca, com mais furos no cinto, para uma minoria. É só o Povo se aperceber do logro em que caiu com o beneplácito do Governo da República.
Morto o Turismo, sem economia, sem as centenas de milhões que o Continente mandava, é um desafio que se põe a todos os Madeirenses de saber viver e suplantar a realidade de verem, a cada mês, menos euros e menos poder de compra.
Adeus festas comemorativas em todos os Concelhos, adeus jantares à borla, passeios, benesses em tempo de eleições.
É a hora da oposição e da abstenção prepararem o caminho para as Autárquicas!


sábado, outubro 15, 2011

Transparência


Morrer é só não ser visto,
é sair de ao pé de ti,
apagar-me em tudo isto,
deixar de ver o que vi.

Morrer é não estar em ti,
e mais do que não te ver,
é não ser visto por ti,
no deserto do não ser.

Morrer é como apagar-se
a chama que houve em nós,
é uma espécie de ficar-se
vazio da própria voz.

Vive o amor da atenção
que se tem por quem se ama.
Mas a morte atiça em vão
o fio que não dá chama.

Morrer é só não ser visto,
é passar a pertencer
a um livro de registo
que guarda o nosso não-ser.

Eugénio Lisboa

sexta-feira, outubro 14, 2011

assim vai Portugal

cantem a música de fundo e cuidado com os salpicos....

Ode à Paz


Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,

Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
                               deixa passar a Vida!

Natália Correia, in "Inéditos (1985/1990)"

quinta-feira, outubro 13, 2011

O Silva das vacas...


Algumas das reminiscências da minha escola primária têm a ver com vacas. Porque a D.ª Albertina, a professora, uma mulher escalavrada e seca, mais mirrada que uva-passa, tinha um inexplicável fascínio por vacas. Primavera e vacas. De forma que, ora mandava fazer redacções sobre a primavera, ora se fixava na temática da vaca. A vaca era, assim, um assunto predilecto e de desenvolvimento obrigatório, o que, pela sua recorrência, se tornava insuportavelmente repetitivo. Um dia, o Zeca da Maria "gorda", farto de escrever que a vaca era um mamífero vertebrado, quadrúpede ruminante e muito amigo do homem a quem ajudava no trabalho e a quem fornecia leite e carne, blá, blá, blá, decidiu, num verdadeiro impulso de rebelião criativa, explicar a coisa de outra forma. E, se bem me lembro ainda, escreveu mais ou menos isto:

"A vaca, tal como alguns homens, tem quatro patas, duas à frente, duas atrás, duas à direita e duas à esquerda. A vaca é um animal cercado de pêlos por todos os lados, ao contrário da península que só não é cercada por um. O rabo da vaca não lhe serve para extrair o leite, mas para enxotar as moscas e espalhar a bosta. Na cabeça, a vaca tem dois cornos pequenos e lá dentro tem mioleira, que o meu pai diz que faz muito bem à inteligência e, por não comer mioleira, é que o padre é burro como um tamanco. Diz o meu pai e eu concordo, porque, na doutrina, me obriga a saber umas merdas de que não percebo nada como as bem-aventuranças. A vaca dá leite por fora e carne por dentro, embora agora as vacas já não façam tanta falta, porque foi descoberto o leite em pó. A vaca é um animal triste todo o ano, excepto no dia em que vai ao boi, disse-me o pai do Valdemar "pauzinho", que é dono do boi onde vão todas as vacas da freguesia. Um dia perguntei ao meu pai o que era isso da vaca ir ao boi e levei logo um estalo no focinho. O meu pai também diz que a mulher do regedor é uma vaca e eu também não entendi. Mas, escarmentado, já nem lhe perguntei se ela também ia ao boi."
Foi assim. Escusado será dizer que a D.ª Albertina, pouco dada a brincadeiras criativas, afinfou no pobre do Zeca um enxerto de porrada a sério. Mas acabou definitivamente com a vaca como tema de redacção.
Recordei-me desta história da D.ª Albertina e da vaca do Zeca da Maria "gorda", ao ler que Cavaco Silva, presidente da República desta vacaria indígena, em visita oficial ao Açores, saiu-se a certa altura com esta pérola vacum: "Ontem eu reparava no sorriso das vacas, estavam satisfeitíssimas olhando o pasto que começava a ficar verdejante"! Este homem, que se deixou rodear, no governo, pelo que viria a ser a maior corja de gatunos que Portugal politicamente produziu; este homem, inculto e ignorante, cuja cabeça é comparada metaforicamente ao sexo dos anjos; este político manhoso que sentiu necessidade de afirmar publicamente que tem de nascer duas vezes quem seja mais honesto que ele; este "cagarola" que foi humilhado por João Jardim e ficou calado; este homem que, desgraçadamente, foi eleito presidente da República de Portugal, no momento em que a miséria e a fome grassam pelo país, em que o desemprego se torna incontrolável, em que os pobres são miseravelmente espoliados a cada dia que passa, este homem, dizia, não tem mais nada para nos mostrar senão o fascínio pelo "sorriso das vacas", satisfeitíssimas olhando o pasto que começava a ficar verdejante"! Satisfeitíssimas, as vacas?! Logo agora, em tempos de inseminação artificial, em que as desgraçadas já nem sequer dispõem da felicidade de "ir ao boi", ao menos uma vez cada ano!
Noticiava há dias o Expresso que, há mais ou menos um ano e aquando de uma visita a uma exploração agrícola no âmbito do Roteiro da Juventude, Cavaco se confessou "surpreendidíssimo por ver que as vacas, umas atrás das outras, se encostavam ao robô e se sentiam deliciadas enquanto ele, durante seis ou sete minutos, realizava a ordenha"! Como se fosse possível alguma vaca poder sentir-se deliciada ao passar seis ou sete minutos com um robô a espremer-lhe as tetas!!
Não sei se o fascínio de Cavaco por vacas terá ou não uma explicação freudiana. É possível. Porque este homem deve julgar-se o capataz de uma imensa vacaria, metáfora de um país chamado Portugal, onde há meia-dúzia de "vacas sagradas", essas sim com direito a atendimento personalizado pelo "boi", enquanto as outras são inexoravelmente "ordenhadas"! Sugadas sem piedade, até que das tetas não escorra mais nada e delas não reste senão peles penduradas, mirradas e sem proveito.
A este "Américo Tomás do século XXI" chamou um dia João Jardim, o "sr. Silva". Depreciativamente, conforme entendimento generalizado. Creio que não. Porque este homem deveria ser simplesmente "o Silva". O Silva das vacas. Presidente da República de Portugal. Desgraçadamente.
Luís Manuel Cunha in Jornal de Barcelos de 05 de Outubro de 2011.

A Terra defende-se: faz diminuir o crescimento

Hoje é vastamente aceita e entrou já nos manuais de ecologia mais recentes (cf.R. Barbault, Ecologia Geral, Vozes 2011) a ideia de que a Terra é viva. Primeiramente, ela foi proposta pelo geoquímico russo W. Vernadsky na década de 1920 e retomada, nos anos de 1970, com mais profundidade por J. Lovelock e entre nós por J. Lutzenberger, chamando-a de Gaia. Com isso se quer significar que a Terra é um gigantesco superorganismo que se autorregula, fazendo com que todos os seres se interconectem e cooperem entre si. Nada está à parte, pois tudo é expressão da vida de Gaia, inclusive as sociedades humanas, seus projectos culturais e suas formas de produção e consumo. Ao gerar o ser humano, consciente e livre, a própria Gaia se pôs em risco. Ele é chamado a viver em harmonia com ela mas pode também o romper o laço de pertença. Ela é tolerante, mas quando a ruptura se torna danosa para o todo, ela nos dá amargas lições.
Todos estão lamentando o baixo crescimento mundial, especialmente nos países centrais. As razões aduzidas são múltiplas. Mas para uma visão da ecologia radical, não se deveria excluir a interpretação de que tal fato resulte de uma reacção da própria Terra face à excessiva exploração pelo sistema produtivista e consumista que tomou conta do mundo. Ele levou tão longe a agressão ao sistema-Terra a ponto de, como afirmam alguns cientistas, inauguramos uma nova era geológica: o antropoceno, o ser humano como uma força geológica destrutiva, acelerando a sexta extinção em massa que já há milénios está em curso. Gaia estaria se defendendo, debilitando as condições do arraigado mito de todas as sociedades actuais, inclusive a do Brasil: do crescimento, o maior possível, com consumo ilimitado.
Já em 1972 o Clube de Roma se dava conta dos limites do crescimento, este não sendo mais suportável pela Terra. Ela precisa de um ano e meio para repor o que extraímos dela num ano. Portanto, o crescimento é hostil à vida e fere a resiliência da Mãe Terra. Mas não sabemos nem queremos interpretar os sinais que ela nos dá. Queremos continuar a crescer mais e mais e, consequentemente, a consumir à tripa forra. O relatório "Perspectivas Económicas Mundiais” do FMI, prevê para 2012 um crescimento mundial de 4,3%. Vale dizer, vamos tirar mais riquezas da Terra, desequilibrando-a como se mostra pelo aquecimento global.
A "Avaliação Sistémica do Milénio” realizada entre 2001 e 2005 pela ONU, ao constatar a degradação dos principais itens que sustentam a vida advertiu: ou mudamos de rota ou pomos em risco o futuro de nossa civilização.
A crise económico-financeira de 2008 e retornada agora em 2011 refuta o mito do crescimento. Há uma cegueira generalizada que não poupa sequer os 17 Nobeis da economia, como se viu recentemente no seu encontro no lago Lindau no sul da Alemanha. À excepção de J. Stiglitz, todos eram concordes em sustentar que o marco teórico da actual economia não teve nenhuma responsabilidade pela crise actual (Página 12, B. Aires, 28/08/2011). Por isso, ingenuamente postularam seguir a mesma rota de crescimento, com correcções, sem se dar conta de que estão sendo maus conselheiros.
Mas importa reconhecer um dilema de difícil solução: há regiões do planeta que precisam crescer para atender demandas de pobres, obviamente, cuidando da natureza e evitando a incorporação da cultura do consumismo; e outras regiões já super desenvolvidas precisam ser solidárias com as pobres, controlar seu crescimento, tomar apenas o que é natural e renovável, restaurar o que devastaram e devolver mais do que retiraram para que as futuras gerações também possam viver com dignidade, junto com a comunidade de vida.
A redução actual do crescimento representaria uma reacção sábia da própria Terra que nos passa este recado: "parem com a ideia tresloucada de um crescimento ilimitado, pois ele é como um câncer que vai comendo todas as células sãs; busquem o desenvolvimento humano, dos bens intangíveis que, este sim, pode crescer sem limites como o amor, o cuidado, a solidariedade, a compaixão, a criação artística e espiritual”.
Não incorro em erro na crença de que está havendo ouvidos atentos para essa mensagem e que faremos a travessia ansiada.

Leonardo Boff

quarta-feira, outubro 12, 2011

cuidado com a super cola nas mãos...

É preciso muito cuidado com as mãos na utilização da “SuperCola 3”.
Coitada da Senhora!

Para meditar....

Se estivermos atentos, podemos notar que está a aparecer uma nova franja social: a das pessoas que andam à volta dos sessenta anos de idade, os sexalescentes : é a geração que rejeita a palavra "sexagenário", porque simplesmente não está nos seus planos deixar-se envelhecer.

Trata-se de uma verdadeira novidade demográfica - parecida com a que, em meados do século XX, se deu com a consciência da idade da adolescência, que deu identidade a uma massa de jovens oprimidos em corpos desenvolvidos, que até então não sabiam onde meter-se nem como vestir-se.


Este novo grupo humano que hoje ronda os sessenta teve uma vida razoavelmente satisfatória.


São homens e mulheres independentes que trabalham há muitos anos e que conseguiram mudar o significado tétrico que tantos autores deram durante décadas ao conceito de trabalho. Que procuraram e encontraram há muito a actividade de que mais gostavam e que com ela ganharam a vida.


Talvez seja por isso que se sentem realizados... Alguns nem sonham em reformar-se. E os que já se reformaram gozam plenamente cada dia sem medo do ócio ou da solidão, crescem por dentro quer num, quer na outra. Disfrutam a situação, porque depois de anos de trabalho, criação dos filhos, preocupações, falhanços e sucessos, sabe bem olhar para o mar sem pensar em mais nada, ou seguir o voo de um pássaro da janela de um 5.º andar...


Neste universo de pessoas saudáveis, curiosas e activas, a mulher tem um papel destacado. Traz décadas de experiência de fazer a sua vontade, quando as suas mães só podiam obedecer, e de ocupar lugares na sociedade que as suas mães nem tinham sonhado ocupar.


Esta mulher sexalescente sobreviveu à bebedeira de poder que lhe deu o feminismo dos anos 60. Naqueles momentos da sua juventude em que eram tantas as mudanças, parou e reflectiu sobre o que na realidade queria.

Algumas optaram por viver sozinhas, outras fizeram carreiras que sempre tinham sido exclusivamente para homens, outras escolheram ter filhos, outras não, foram jornalistas, atletas, juízas, médicas, diplomatas... Mas cada uma fez o que quis : reconheçamos que não foi fácil, e no entanto continuam a fazê-lo todos os dias.

Algumas coisas podem dar-se por adquiridas.


Por exemplo, não são pessoas que estejam paradas no tempo: a geração dos "sessenta", homens e mulheres, lida com o computador como se o tivesse feito toda a vida. Escrevem aos filhos que estão longe (e vêem-se), e até se esquecem do velho telefone para contactar os amigos - mandam e-mails com as suas notícias, ideias e vivências.


De uma maneira geral estão satisfeitos com o seu estado civil e quando não estão, não se conformam e procuram mudá-lo. Raramente se desfazem em prantos sentimentais.


Ao contrário dos jovens, os sexalescentes conhecem e pesam todos os riscos. Ninguém se põe a chorar quando perde: apenas reflecte, toma nota, e parte para outra...


Os maiores partilham a devoção pela juventude e as suas formas superlativas, quase insolentes de beleza ; mas não se sentem em retirada. Competem de outra forma, cultivam o seu próprio estilo... Os homens não invejam a aparência das jovens estrelas do desporto, ou dos que ostentam um fato Armani, nem as mulheres sonham em ter as formas perfeitas de um modelo. Em vez disso, conhecem a importância de um olhar cúmplice, de uma frase inteligente ou de um sorriso iluminado pela experiência.


Hoje, as pessoas na década dos sessenta, como tem sido seu costume ao longo da sua vida, estão a estrear uma idade que não tem nome. Antes seriam velhos e agora já não o são. Hoje estão de boa saúde, física e mental, recordam a juventude mas sem nostalgias parvas, porque a juventude ela própria também está cheia de nostalgias e de problemas.

Celebram o sol em cada manhã e sorriem para si próprios...

Talvez por alguma secreta razão que só sabem e saberão os que chegam aos 60 no século XXI ...

rec.por email, desconheço o autor 

terça-feira, outubro 11, 2011

o tempo corre....


O Natal está à porta, pelo que começa a ser tempo para se dar início à necessária preparação.

Face ao corte verificado no subsídio de Natal, resolvi oferecer a todos os meus Amigos e Amigas uma prendinha.

Feliz Natal,

Outonos

Outonos de folhas fáceis,
           
                           Caídas, inertes,

Pintadas de cobres e ouros baços

(espalhadas na morte do chão)

                           em que verdes se esbatem,

                           criando ilusão.



Também tu tens outono,

                            Calado e sem dono,

                              No teu coração.

Maria Teresa Góis