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domingo, maio 26, 2013

“Coisíssima Nenhuma”

“A força dos governos é inversamente proporcional ao peso dos impostos.”
Gay de Girardin


 Coisíssima nenhuma, nada, népia, nicles batatóides… “Coisíssima nenhuma, não fui eleito pelos portugueses”, disse Vítor Gaspar à comunicação social. Pois aí é que está o busílis! Aqueles que votaram neste governo não votaram na maioria dos ministros nem sequer votaram no programa destrutivo do país que está em prática.
Este governo parece um pudim de gelatina que abana, abana e tal qual a gelatina, quando cair vai inteiro. E já que é prática recente as invocações só me ocorre dizer: assim seja!
Portugal, a cair aos bocados, esvaziado e esventrado, afasta-se da Europa e da evolução europeia quiçá num destino “magrebino” vaticinado por um vice-presidente nacional do PSD. Na verdade é visível a regressão, a pobreza, o abandono forçado das “zonas de conforto”. Este país não é para velhos nem para novos e, se não houver atitude de reacção, é mais uma “coisíssima nenhuma” de lugar-comum.
São tantas as derrapagens e tantos os buracos, tantas as enormidades aberrantes dos que agachados ao estrangeiro nos governam que dariam para encher a bacia do Alqueva.
Lá e cá proliferam os alimentadores de asneiras, os despesistas, os fomentadores da desgraça.
Na Madeira faltam os artigos necessários ao lanche e talvez por isso é servido,em algumas escolas do 1º ciclo, lanches de pão com pepino ou alface e tomate e um copo de leite, numa combinação nutricionalmente estranha.
Isto por cá pois, por lá, já há escolas a fornecer pequeno-almoço, almoço e jantar às crianças e, notícia fresca, quer o governo nacional apostar agora na distribuição reforçada de fruta.
Coisíssima nenhuma para os onze mil euros diários mal empregados na tribuna livre do governo versus diocese, onde se continua a atacar o clero e a desvirtuar a verdade madeirense. Melhor que ajudassem a um lanche decente a muitas das crianças cujos pais estão, e não por obra e graça do Espírito Santo, no desemprego forçado.
Coisíssima nenhuma para estes senhores que se servem a bel-prazer, por mau aconselhamento ou estupidez, ignorando o que juraram ao tomar posse. E, não tarda, regressam as promessas tal como já regressaram as mini obras para madeirense ver…
Coisíssima nenhuma, também, para a situação criada pela concorrência desleal e que levou ao despedimento de profissionais credíveis, necessários em democracia e culturalmente bem formados, da publicação diária regional indispensável ao quotidiano madeirense. E a todos os que de cócoras se põem a jeito às inúmeras “coisíssimas nenhumas” que poluem a credibilidade do Povo Português, que evocam o consenso na destruição e que têm na idiocracia a sua prática de vida, zarpem, vão às vossas vidinhas nas vossas zonas de conforto mas não matem mais Portugal!



Maria Teresa Góis


 http://www.dnoticias.pt/impressa/diario/opiniao/388090-%E2%80%9Ccoisissima-nenhuma%E2%80%9D

quinta-feira, maio 16, 2013

Roque Gameiro, então e agora

Roque Gameiro retratou Lisboa no início do século XX como ninguém o fizera até então e ninguém mais o voltou a fazer. As suas aguarelas parece que mexem, respiram, ressoam os murmúrios de Lisboa Velha. E, curiosamente, muitas das cenas que pintou, ainda hoje são facilmente identificáveis.

Numa perspectiva de "quem te viu e quem te vê", actualiza-se a visão do Mestre com imagens actuais daquilo que Roque Gameiro viu há mais de 100 anos. Tanto quanto possível, replicam-se os ângulos de visão e as perspectivas (embora a pintura seja interpretativa e a fotografia apenas o consiga ser em muito menor grau). Os pares de imagens são numerados para facilitar os Vossos comentários.

As comparações são evidentes e interessantes por si só. Se forem relevantes, ir-se-ão adicionando algumas palavras mais.

Adições mais recentes:




E mais imagens virão...




2. Rossio



3. Colégio dos Meninos Órfãos (Rua da Mouraria)
No título original, "Rua da Mouraria, Meninos Órfãos". Um ângulo apertado e uma árvore "impertinente", tudo coisas incapazes de perturbar Mestre Roque Gameiro.



4. Rua Maria Pia e Igreja do Triunfo
Seria necessário elevarmo-nos 10 metros no ar, para conseguir ver o pequeno Pátio João da Costa (em baixo à esquerda) segundo este ângulo. O terraço da casa "por trás de nós" poderia dar a elevação necessária. Mas é muito mais recente que o quadro... Entretanto, o Pátio está exactamente na mesma, tendo apenas ganho um portão na entrada.



5. Calçada da Bica Grande




21 e 6. Rua do Benformoso
Roque Gameiro pintou 2 aguarelas quase no mesmo local da Rua do Benformoso. Uma cena completa a outra, e o mesmo ocorre com as imagens actuais. A correspondência entre os dois quadros verifica-se na casa com o telhado em bico.
O que é interessante verificar neste par de imagens é a inesperada quantidade de coincidências: A casa de ressalto é a mesma e as reixas nas varandas ainda se mantém, mas resta apenas o último dos 3 edifícios. O prédio rosa tomou o lugar dos outros 2. Duas portas desapareceram junto ao sinal de trânsito "30" para dar lugar a um estabelecimento com um nome delicioso; mas tudo o mais se mantém nesta casa, incluindo as ferragens das varandas e um esboço da original moldura das janelas curvas. O prédio a seguir é o mesmo, mas as águas-furtadas converteram-se em 2º andar e o telhado em bico desapareceu. Finalmente, no último prédio, a janelinha do telhado ainda lá está...



9. Beco do Castelo



10. Largo da Achada
O Largo da Achada levou obras recentes e ficou assim.



11. Jardim de S. Pedro de Alcântara, vista sobre a Baixa



13. Rua da Mouraria
O título da pintura é "Rua da Mouraria e Largo da Saúde"



14. Rua do Século, antiga Rua Formosa (Alto do Longo)



15. Arco de Jesus



16. Largo da Penha de França



17. Escadinhas dos Remédios (vistas de cima)



18. Rua de São Miguel
Mestre Roque Gameiro "flutuou" a cinco metros de altura para captar esta cena, algo impossível a este "fotografador".



19. Largo de São Miguel



20. Rua dos Remédios



22. Arco de Penabuquel



23. Pátio das Varinas na Rua do Castelo Picão
Quando a pintura foi feita, este pátio dava directamente para a rua. Posteriormente, colocaram um muro e uma porta onde dantes era o lancil. Em consequência, não é possível recuar o suficiente.



24. Rua do Sol ao Rato, cruzamento com a Av. Álvares Cabral
O título da pintura é "Rua do Sol ao Rato, cruzamento com a Rua de São Bento". Entretanto, a Av. Álvares Cabral veio interpor-se entre estas duas ruas. Mas foi neste ponto que o Mestre colocou o seu cavalete. Ainda que tudo esteja muito diferente, o prédio alaranjado à esquerda a meio da subida parece o mesmo. E, lá em cima, na esquina com a Rua D. Dinis, o palacete amarelo é definitivamente o mesmo.



26. Travessa do Terreiro do Trigo



27. Arco Escuro



28. Rua da Mouraria
O título da pintura é "Rua da Mouraria, Capela de Nossa Senhora da Guia"



29. Entrada norte do Pátio de Dom Fradique



30. Beco do Espírito Santo ao Largo do Chafariz de Dentro



31. Rua das Farinhas



33. Largo da Achada



34. Travessa de São João da Praça, vista de cima



35. Rua do Capelão (início)



36. Rua das Madres



37. Rua do Loureiro



39. Largo de Santo Estevão, visto de baixo
A árvore cresceu (ou o pintor ignorou-a, coisa que uma fotografia não faz). Só a imagem de baixo consegue encontrar os detalhes da pintura.



40. Largo de Santo Estevão, visto de cima



41. Escadinhas de São Miguel x Rua do Castelo Picão



43. Rua de São Miguel (entrada)
Os prédios de esquina desapareceram ambos. À esquerda, um baldio. À direita, um estaleiro.



44. Rua dos Cegos (casa quinhentista)



45. Calçada de São Vicente e Rua dos Corvos



46. Rua de São Pedro no Largo do Chafariz de Dentro



48. Largo do Convento da Encarnação



49. Rua dos Corvos



51. Escadinhas dos Remédios (vistas de baixo)



52. Calçada de São Lourenço vista do Largo dos Trigueiros



53. Travessa da Portuguesa vista da Rua do Marechal Saldanha



54. Rua de São Miguel



55. Chafariz do Largo de São Paulo
A cena exigiria um posicionamento mais à direita, mas a árvore não o permitiu. Ou a igreja aparecia na imagem ou o topo do chafariz desaparecia.



56. Largo do Carmo (chafariz)



57. Rua de São Pedro Mártir



58. Rua do Vale a Jesus



60. Casa dos Bicos @ Rua dos Bacalhoeiros
O prédio vermelho não diminuiu, a Casa dos Bicos é que ganhou dois andares.



61. Rua da Judiaria



63. Pátio do Carrasco



66. Rua do Castelo Picão



67. Rua das Amoreiras (Igreja de N.Srª de Monserrate)



69. Cais das Colunas



71. Largo do Menino Deus



73. Igreja de Santa Luzia no Largo das Portas do Sol



74. Escadinhas de Santo Estevão



75. Largo do Menino Deus visto da Travessa do Açougue



76. Travessa de São João da Praça



79. Rua da Galé



81. Beco dos Curtumes
Esta imagem (e também a #92) permitem constatar as alterações profundas que ocorreram no Beco dos Curtumes, as quais transformaram um bonito recanto típico de Lisboa num pardieiro imundo e mal-cheiroso.



82. Largo do Chafariz de Dentro



83. Cais do Sodré ("restos da praia")
(dir-se-ia que ainda é praia... pelo menos, o banhista deitado em cima do pontão seria capaz de jurar...)



87. Rua da Adiça
O título da pintura é "Rua Norberto de Araújo, antiga Calçada de São João da Praça". Mas neste ponto, a Rua Norberto de Araújo já se converteu na Rua da Adiça.



88 . Rua de São Pedro



89. Rua de São Miguel
Na imagem de baixo, outra versão do mesmo quadro, actualmente no Museu da Cidade.



90. Rua da Regueira x Beco das Cruzes



91. Rua da Madalena, Escadinhas de São Cristóvão
A "foto impossível"... Subindo ao 3º andar do prédio em frente (amabilidade da "POLLUX"), o ângulo é semelhante mas o recuo é insuficiente (o Pintor parecia voar...). Além disso, construíram um prédio sobre as Escadinhas, ocultando o edifício em segundo plano. Mas por trás, ele ainda lá está (imagem de baixo).



92. Beco dos Curtumes
Esta imagem (e também a #81) permitem constatar as alterações profundas que ocorreram no Beco dos Curtumes, as quais transformaram um bonito recanto típico de Lisboa num pardieiro imundo e mal-cheiroso.



93. Rua do Arco a São Mamede



94. Rua do Século (Chafariz da Rua Formosa)



95. Chafariz das Janelas Verdes



96 . Rua da Mãe d'Água, Chafariz da Alegria



97. Cova da Moura (entrada para o Quartel)
O local é o mesmo, a entrada é a mesma, tudo o mais parece ter sido alterado.



99. Largo do Convento da Encarnação



100. Calçada do Combro ("Palácio dos Paulistas, antigo Correio-Geral")



103. Rua do Comércio
Impossível reproduzir esta cena sem subir ao telhado do prédio "atrás de nós" (o que Roque Gameiro provavelmente fez). E o único edifício imediatamente reconhecível é a Sé, já sem os seus telhados em bico.


Imagens sem futuro

Roque Gameiro não poderia supôr que estava a pintar para memória futura. Mas algumas das suas imagens são hoje o único testemunho de recantos de Lisboa há muito desaparecidos. Outras permitem ter uma visão clara do que a passagem do tempo pode fazer: certos locais que hoje parecem imutáveis, não se reconhecem nas imagens de há cem anos.

Torrinha no cimo da Avenida da Liberdade (#77). Desaparecida.
Pátio do Peneireiro (#68) e Pátio do Prior (#42)
Ambos ainda existem, mas estão irreconhecíveis.
Arco de Santo André (#64 e 70). Desaparecido.
Calçada do Jogo da Péla (#47) e Largo do Rato (#98). Ambos totalmente irreconhecíveis.
Largo da Saúde e Paço de D. Fernando (#7 e 25). Desaparecido.
Rua do Arco do Marquês de Alegrete (#32). Desaparecido.
Convento das Francesinhas (#50). Desaparecido. // Convento da Esperança (#84). Irreconhecível.
Largo de Santo Estevão (#59) // Rua de Santo Estevão (#38) Recantos irreconhecíveis. Na segunda imagem, o prédio da direita ocupa provavelmente o lugar do actual Largo do Vigário.
Rua da Regueira (#80) e Rua de São Miguel (#8). Cenas irreconhecíveis.


Localização dos quadros de A. Roque Gameiro Pode fazer zoom, arrastar o mapa ou clicar nos marcadores. Pode clicar nas imagens para ver "o antes e o agora".


Clique para ver "O pintor A. Roque Gameiro em Lisboa" num mapa maior.



Alfredo Roque Gameiro escreveu o seguinte em 1925, no prólogo do "Auto da Lisboa Velha" por Afonso Lopes Vieira:

"Não esquecerei jamais a impressão de sumptuosidade e de admiração que senti quando, ahí por Fevereiro de 1874, vindo da minha humilde aldeia, entrei em Lisboa.
Não tinha visto até então mais do que os casebres dos modestíssimos lavradores a cuja família me honro de pertencer.
A Lisboa do fim do século XIX, e especialmente a cidade baixa, caracterisadamente pombalina, apesar do seu fraco movimento e da monótona harmonia das suas construções, impressionaram o meu espírito de provinciano ingénuo, moço e ignorante, como a ultima palavra do urbanismo estonteante das capitaes.
Começava n'essa ocasião o assentamento da linha de Carris de Ferro Americanos, do Terreiro do Paço ao Conde Barão, e existia, não havia muito, a carreira de vapores de rodas para Alcântara e Belém, de cuja opulenta frota fazia parte o roncador e cuspinhento vapor Progresso, com seu simbólico titulo de arrojado meio de transporte, e no qual tantas vezes embarquei.
Conheci eu mui particularmente as ruas de S. Paulo e da Bôa Vista, e comquanto ligassem a parte ocidental da cidade com a baixa, não eram então, e apesar de tudo, mais movimentadas do que é hoje qualquer rua dos bairros excêntricos.
Sob o ponto de vista pitoresco, julgo terem sido estas ruas as mais características, e de mais surprehendente efeito perspético, o qual lhes vinha do seu arco e da sua longa fila de prédios desegualmente altos, e em cujas fachadas haviam enxertado remates de variadissimas e graciosas curvas — evolução lógica da frontaria típica dos séculos anteriores.
Breve porem, estas ruas, e as do resto da cidade, passaram infelizmente pelas maiores e mais desconchavadas transformações e, mais por preversão do gosto do que por necessidades de facto, foram as construções pombalinas e os seus lindos pormenores, sendo substituídos pelas correntezas de banalissimos casarões de platibanda, cheios de reles exotismo, os quais, por minha desgraça e de alguns outros, que assim pensam, somos, quaes passageiros deste outro «Progresso» — obrigados, bem constrangidamente, a olhar todos os dias.
Vêm estas linhas para justificar e assignalar o desgosto profundo que desde sempre venho sentindo ao ver destruir-se todo o pitoresco de Lisboa, desgosto hoje corrente, mas que mercê da minha edade fui, talvez, dos primeiros a sofrer.
Essa sincera mágua e uma natural e saudosa atração pelas coisas do passado, levaram-me, desde ha trinta anos, a pintar em aguarelas, a desenhar e a documentar graficamente conforme pude e soube, todos os pormenores que pouco a pouco iam desaparecendo da fisionomia da cidade, tarefa onde puz o melhor dos meus esforços e o carinho muito verdadeiro que consagro ás coisas da minha Terra.
Essa tarefa é este livro — e eu não sei dizer melhor das suas intenções.
Affonso Lopes Vieira, que me acompanha com a sua alma de grande poeta e de grande português, melhor do que eu próprio me explicará.
Daqui pois lhe agradeço do fundo do coração as palavras com que ilumina as minhas despretenciosas e modestas notas gráficas.

Roque Gameiro"


 fonte:
 http://mariomarzagaoalfacinha.blogspot.pt