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domingo, agosto 30, 2015

Alerta amarelo

“ – Pertencer a um partido político, caro colega, que vem a ser?...
- É meter-se a gente num ónibus que leva aos empregos.”

Eça de Queirós,
in “Uma campanha alegre”


     
Sempre achei o meu querido Eça uma panaceia contra todos os males. Na minha modestíssima opinião não seria o calhamaço de “Os Maias” que se deveria obrigar à leitura e ao estudo, os nossos imaturos estudantes. Talvez que “Uma Campanha Alegre” ou pelas cidades e serras guiados pela mão do autor, melhor lhe aproveitassem a prosa, o humor fino, a análise acutilante, a flecha envenenada na política de então, afinal tão actual e semelhante.
      Temos estado em permanente alerta amarelo quer pela quentura dos dias de estio prolongado ou pela secura das terras. Também pelo matagal que invade a outrora verde e apetecível paisagem, hoje núcleos de canaviais, giestas e urzes em área urbana, permanente perigo e convite a tendências desviantes e às canas de foguetes que teimam cair nos arraiais, sem esquecer a queima de matos. Retrato público de desleixo de quem deveria zelar pelo cumprimento da lei.
      Todo o país vive em alerta, após a “silly season”, numa espécie de “stupid season” que é o tempo eleitoral. Basta abrirmos ou lermos on line um periódico, e não um qualquer jornal, para somarmos o rol de promessas agora desenterradas, somarmos a abundância de dinheiros (os cofres estão cheios, lembram-se?), os cuidados futuros com os idosos que se viram roubados e relegados para a Pobreza, o apelo ao regresso das gerações emigrantes, adejando no lenço branco da paz o oásis do emprego, da recuperação e da normalidade daquele que há-de ser o décimo país mais competitivo do mundo. Isto quando um em cada cinco portugueses ganha 505,00 € ao mês. Sem descontos!
      Sentado a uma mesa bem posta, bem regada, ambiente chique q. b., com um saco de laranjas – talvez espanholas – alguém pedia e suplicava, “um resultado inequívoco para resolver o problema das pessoas”.  Com toda a sinceridade que me assiste espero mesmo que tenha um resultado inequívoco…      Bem dizia o Eça, sempre ele, que “entre nós, a mentira é um hábito público”.
       Mais do que amarelo é vermelho o alerta que nos dá esta Europa de hoje, a União que muros de quilómetros divide, a União que lucra e enriquece à custa dos parceiros mais pobres, a União que afasta os que migram, filhos dos resultados de políticas externas da própria Europa em aliança com os EUA.
       É kafkiano que as decisões de um país, a vida das pessoas de um país, dependam de um parlamento dito europeu. Afinal para que elegemos nós quem queremos que governe, que sentido têm as profissões como a dos pescadores que param oito meses num ano para cumprir quotas, quando a nossa zona económica é a maior e vendo os pescadores espanhóis pescar e aqui vir descarregar o pescado.        

      Qual é a lógica, porquê o agachamento e a troco de quê? Que políticas de mar se combinam hoje para vigorar em 2020?
       Por isso é tão importante não ouvir as promessas de último suspiro mas analisar o quanto perdemos e recuámos num espaço de tempo racionalmente curto.
      Não me incomoda que algum fedorento me chame de “peste grisalha”.
     Já me incomoda mais que conhecidos vultos, cujos actos foram lesivos ao interesse público e estejam sob alçada do Ministério Público ou “ad judicia”, continuem a ser figurões públicos, candidatos, interlocutores de debates.
      O que me incomoda em absoluto é ver a geração de jovens sem horizonte, seja no ensino, nas artes, na saúde, em qualquer mister e a geração dos meus netos e de todos os netos deste país com um enorme ponto de interrogação como meta de futuro.
      Se podemos mudar, claro que sim, e com um resultado inequívoco! 


Maria Teresa Góis

terça-feira, agosto 04, 2015

a origem da palavra LARÁPIO

Segundo consta....


Na Roma dos Césares havia um cônsul da Cirenaica de nome Lucius Amarus Rufus Apius, que gozava de grande popularidade pelas suas preclaras virtudes cívicas e morais.

Mas, como neste mundo não há nada perfeito, também Lucius Amarus Rufus Apius tinha um pequeno defeito, aliás bastante comum nos homens públicos dos nossos dias  e que consistia em confundir muito a miúdo o património alheio com o próprio. 

Por isso, quando alguém era apanhado em flagrante delito de apropriação, o criminoso era comparado a Lucius Amarus Rufus Apius. 
Mas como o nome fosse muito comprido o cônsul assinava: L.A.R.Apius...

fonte:net

domingo, agosto 02, 2015

Em lume brando

“O oportunismo é, porventura, a maispoderosa de todas as tentações…”
Agostinho da Silva


A folha pautada do bloco, ainda em branco, tem de ser preenchida.

Em plena “silly season”, a morrinha húmida que vai caindo transforma o ar numa sauna abafada, doentia. O dia cinzento não lembra o Verão e os pássaros, sempre tão esvoaçantes e ruidosos, andam nas bagas de folhado, nas amoras túrgidas precocemente adocicadas por este tempo quente. Pesa na atmosfera uma natureza adormecida…
Já a noite se enche de sons. Neste fim-de-semana toda a Ilha borbulha e se agita, sacode e remexe, em eventos de Verão, sem horas nem tempo que não seja o das férias, o da cerveja ou mesmo o do engate.
Engatados estarão os governos; o regional porque nem passou, em cem dias, pelo estado de graça e o nacional porque não sai do estado da desgraça. É também engate o assédio político e tendencioso dos telejornais, debates, mesas redondas e afins. O tempo eleitoralista promete horizontes risonhos, fartos, filhos de cofres cheios e pleno emprego. Os pobres deixam essa qualidade e passam a remediados temporários da ilusão, os desempregados dependem dos fundos europeus, da falácia política, das estatísticas balanceadas e anedóticas.
Charlot dizia “Somos todos amadores. Não vivemos o suficiente para podermos ser outra coisa.” Grande lição!
Agosto depressa passará porque este ano “outros valores mais altos se levantam” e adivinho que o tempo de descanso se converterá num tempo de bravatas e liças de oratórias cheias de energia.
É capaz de encapotar mais um desaire, já iniciado, na colocação de professores, fará esquecer que este governo tenciona gastar, dar do que é de todos, cinquenta e três (53) milhões ao ensino privado, afogando ainda mais a Escola Pública na qual prevalece a austeridade com redução de estabelecimentos, de professores de ensino especial, aumento de número de alunos por turma, falta dos mínimos exigíveis à eventual higiene, constrangimentos de verbas nas cantinas que deveriam assegurar refeições equilibradas e saudáveis, para além do espectro da dispensa do pessoal dito excedente.
Da saúde temos as notícias nos casos do dia e da semana e apenas refiro que li, hoje, que 15% das sete (7) milhões de receitas prescritas não são levantadas nas farmácias. E quantas serão aviadas pela metade?
Na ética do país sucedem-se os casos, avolumam-se na enorme secretária de um super juiz, vão alimentando capas de periódicos e pasquins, notícias bombásticas na televisão. E seria este o tal período de silly season…
Resta-me a esperança de que o povo não é insensível nem tapado e se o oportunismo não for a mola poderosa das intenções, havemos de dar a volta e ressurgir na estação mais bela do ano que é o Outono, porque mais colorida e poética.


Maria Teresa Góis