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terça-feira, fevereiro 28, 2012

porque se deve ser contra (o famigerado) o AO:

Omens sem H... e sem espinha! dorsal...claro...
Espantam-se? Não se espantem. Lá chegaremos.
No Brasil, pelo menos, já se escreve "umidade". Para facilitar? Não parece.
A Bahia, felizmente, mantém orgulhosa o seu H (sem o qual seria uma baía qualquer), Itamar Assumpção ainda não perdeu o P e até Adriana Calcanhotto duplicou o T do nome porque fica bonito e porque sim.
Isto de tirar e pôr letras não é bem como fazer lego, embora pareça. Há uma poética na grafia que pode estragar-se com demasiadas lavagens a seco.
Por exemplo: no Brasil há dois diários que ostentam no título esta antiguidade: Jornal do Commercio. Com duplo M, como o genial Drummond. Datam ambos dos anos 1820 e não actualizaram o nome até hoje.
Comércio vem do latim commercium e na primeira vaga simplificadora perdeu, como se sabe, um M. Nivelando por baixo, temendo talvez que o povo ignaro não conseguisse nunca escrever como a minoria culta, a língua portuguesa foi perdendo parte das suas raízes latinas.
Outras línguas, obviamente atrasadas, viraram a cara à modernização. É por isso que, hoje em dia, idiomas tão medievais quanto o inglês ou o francês consagram pharmacy e pharmacie (do grego pharmakeia e do latim pharmacïa) em lugar de farmácia; ou commerce em vez de comércio.
O português tem andado, assim, satisfeito, a "limpar" acentos e consoantes espúrias. Até à lavagem de 1990, a mais recente, que permite até ao mais analfabeto dos analfabetos escrever sem nenhum medo de errar. Até porque, felicidade suprema, pode errar que ninguém nota.
"É positivo para as crianças", diz o iluminado Bechara, uma das inteligências que empunha, feliz, o facho do Acordo Ortográfico.
É verdade, as crianças, como ninguém se lembrou delas? O que passarão as pobres crianças inglesas, francesas, holandesas, alemãs, italianas,
espanholas, em países onde há tantas consoantes duplas, tremas e hífens? A escrever summer, bibliographie, tappezzería, damnificar, mitteleuropäischen?
Já viram o que é ter de escrever Abschnitt für sonnenschirme nas praias em vez de "zona de chapéus de sol"? Por isso é que nesses países com línguas tão complicadas (já para não falar na China, no Japão ou nas Arábias, valha-nos Deus) as crianças sofrem tanto para escrever nas línguas maternas.
Portugal, lavador-mor de grafias antigas, dá agora primazia à fonética, pois, disse-o um dia outra das inteligências pró-Acordo, "a oralidade precede a escrita".
Se é assim, tirem o H a homem ou a humanidade que não faz falta nenhuma. E escrevam Oliúde quando falarem de cinema.
A etimologia foi uma invenção de loucos, tornemo-nos compulsivamente fonéticos.
Mas há mais: sabem que acabou o café-da-manhã? Agora é café da manhã. Pois é, as palavras compostas por justaposição (com hífens) são outro estorvo.
Por isso os "acordistas" advogam cor de rosa (sem hífens) em vez de cor-de-rosa. Mas não pensaram, ó míseros, que há rosas de várias cores?
Vermelhas? Amarelas? Brancas?
Até cu-de-judas deixou, para eles, de ser lugar remoto para ser o cu do próprio Judas, com caixa alta, assim mesmo.
Só "omens" sem H podem ter inventado isto, é garantido.
Por Nuno Pacheco – Jornalista

Neandertais poderiam já estar perto da extinção quando nos encontraram

Os estudos de ADN têm uma tendência para revolver a história da evolução humana, desta vez uma nova investigação sugere que quando os nossos antepassados contactaram com os Neandertais, há menos de 50.000 anos, estes já eram sobreviventes de um fenómeno que tinha ceifado quase totalmente a espécie, conclui um artigo publicado na revista Molecular Biology and Evolution.A equipa internacional, que inclui investigadores do Centro de Evolução e Comportamento Humano da Universidade Complutense de Madrid, analisou o ADN extraído do osso de 13 Neandertais. Os indivíduos viveram entre os 100.000 e os 35.000 anos, e foram encontrados em sítios arqueológicos que se estendem desde a Espanha até à Ásia.

Os cientistas analisaram a variabilidade do ADN mitocondrial, que existe dentro das mitocôndrias, as baterias das células que são sempre herdadas da mãe para os filhos. A partir desta análise, verificaram que havia muito mais variabilidade entre os Neandertais que viveram há mais de 50.000 anos, do que os indivíduos que viveram durante os 10.000 anos depois, pouco antes de se terem extinguido.

Os indivíduos com menos de 50.000 anos tinham uma variabilidade genética seis vezes menor do que os mais antigos. Isto evidencia um fenómeno que provocou a morte de um grande número de pessoas desta espécie. Depois disto, sucedeu-se uma re-colonização da Europa a partir de populações de Neandertais vindas de Ásia.

“O facto de os Neandertais terem estado quase extintos na Europa, e depois terem recuperado, e tudo isso ter acontecido antes de entrarem em contacto com os humanos modernos, é uma surpresa total”, disse Love Dalen, o primeiro autor do artigo, que pertence ao centro de investigação de Madrid e ao Museu de História Natural de Estocolmo, Suécia. “Isto indica que os Neandertais poderiam ser mais sensíveis a mudanças climáticas dramáticas que ocorreram durante a última Idade do Gelo, do que se pensava anteriormente”, disse, citado pela BBC News.

Segundo o artigo, a variabilidade do genoma dos Neandertais antes do tal fenómeno que ocorreu há 50.000 anos era equivalente à variabilidade da espécie humana. Depois do fenómeno, essa variabilidade passou a ser menor do que a que existe hoje entre a população da Islândia.

Este fenómeno poderá estar ligado às alterações climáticas. Pensa-se que há cerca de 50.000 anos alterações nas correntes oceânicas do Atlântico causaram uma série de temporadas geladas que alteraram inclusive a cobertura vegetal da Europa.

O que quer que tenha acontecido depois, quando os humanos modernos foram migrando pela Europa, continua a ser uma incógnita. Mas estes dados sugerem que as populações de Neandertais que os nossos antepassados encontraram seriam muito mais homogéneas a nível genético e por isso muito mais vulneráveis a alterações no ambiente.

in:Publico

domingo, fevereiro 26, 2012

finalmente, o reconhecimento...

Dono da Livraria Esperança distinguido nos Prémios de Edição LER/Booktailors

Livraria é a segunda maior do mundo


Jorge Figueira de Sousa, da Livraria Esperança, no Funchal, foi o vencedor do Prémio Especial de Livreiro, um dos Prémios de Edição LER/Booktailors, atribuídos este ano pela quarta vez, em 20 categorias.
A Livraria Esperança é a segunda maior do mundo, com os seus 1200 metros quadrados, salientou o homem que, em entrevista à Lusa, se apresentou assim: "Tenho 165 anos de prática de livraria - 50 do meu avô, 50 do meu pai e 65 meus". A editora Ahab, o romance "O Retorno", de Dulce Maria Cardoso, e o editor André Jorge, da Cotovia, foram outros dos vencedores.
Os vencedores dos galardões - relativos a 2011 e instituídos por iniciativa da revista Ler e dos consultores editoriais Booktailors para "premiar a qualidade dos profissionais e das obras editadas em Portugal" - foram anunciados hoje à noite numa cerimónia realizada no âmbito do encontro literário Correntes d'Escritas, cuja 13.ª edição hoje termina na Póvoa de Varzim.
Fundada em 2009 no Porto por Tiago Szabo e Joana Pinto Coelho, a Ahab Edições foi eleita para o Prémio Especial de Editora do Ano, por um júri composto por 20 elementos representativos dos diferentes elos do mundo dos livros em Portugal.
A Abysmo, novo projeto de João Paulo Cotrim, obteve o Prémio Especial de Editora Revelação, depois de se estrear no mercado com o álbum "Sérgio Godinho e as 40 ilustrações", em que 40 ilustradores nacionais interpretaram as letras do músico português.
O Prémio Especial da Crítica 2011 foi para o romance "O Retorno" (Tinta-da-China), de Dulce Maria Cardoso, uma obra que não sendo autobiográfica, e não tendo servido propósitos de terapia ou ajuste de contas, retrata uma realidade que viveu e que a fez ser escritora: ela foi uma das mais 500 mil pessoas que regressaram à "metrópole" no fim do império ultramarino português, após a Revolução de 1974.
O Prémio Especial Carreira (Editor) foi atribuído a André Jorge, fundador da Cotovia em 1988, uma editora que se assume como pequena, publicando cerca de 40 títulos por ano, entre ficção, poesia, ensaio e teatro.
O Prémio Especial de Tradução foi, desta vez, para Pedro Tamen que, entre outras obras, traduziu para a Relógio d'Água os sete volumes de "Em Busca do Tempo Perdido", a obra-prima do escritor francês Marcel Proust.
O Prémio Especial Livraria Independente foi para a Livraria Histórias com Bicho, que funciona desde 2008 em Óbidos e se apresenta como "uma fiel herdeira" da livraria com o mesmo nome que funcionava na Fábrica da Pólvora de Barcarena.
Sara Figueiredo Costa, jornalista freelancer que colabora com diversas publicações na área da crítica literária e do jornalismo cultural (LER, Time Out e Expresso) e mantém, desde 2007, o blogue Cadeirão Voltaire, sobre livros e edição, foi distinguida com o Prémio Especial de Jornalista ou Crítico Literário.
"Horas Extraordinárias" é o blogue da autoria da editora da Leya e poeta Maria Rosário Pedreira que venceu o Prémio Especial Blogue de Edição. E as horas extraordinárias a que se refere a autora são aquelas que passamos a ler.
Além dos prémios especiais, foram ainda entregues prémios em nove categorias de natureza gráfica para as melhores capas de livros publicados em Portugal em 2011, entre as quais as dos livros do escritor e ilustrador Afonso Cruz ("A Contradição Humana", Caminho) e do fotógrafo Daniel Blaufuks ("Terezín", Tinta-da-China). (in:DN, Madeira)

Nota da Redacção - Aompanhei desde 1976 o percurso da Livraria Esperança e o trabalho árduo e dedicado do meu compadre e esposa. Achei até que o Funchal era demasiado pequeno para o sonho, depois tornado realidade. Estivera em Lisboa e a dimensão, projeção e reconhecimento, seriam outros. Os meus sinceros e afáveis parabéns.

quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Telescópio Hubble descobre nova classe de planeta com mais água que a Terra

Astrónomos confirmaram a existência de um planeta diferente de todos os conhecidos até agora e que terá mais água que a Terra. O GJ1214b, a 40 anos-luz do nosso planeta, foi descoberto pelo telescópio espacial Hubble.O GJ1214b, mais pequeno que Urano e maior que a Terra, é descrito como um “mundo de água” distante, envolvido numa espessa atmosfera de vapor de água, segundo um estudo que foi aceite para publicação na revista Astrophysical Journal.

“Uma grande quantidade da sua massa é feita de água”, disse em comunicado o astrónomo Zachory Berta, do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, que coordenou a equipa internacional de investigadores. “O GJ1214b é diferente de todos os planetas que conhecemos.”

O GJ1214b, a 40 anos-luz da Terra, foi descoberto em 2009 por uma equipa liderada por David Charbonneau que trabalhou com uma série de oito telescópios, no estado norte-americano do Arizona. No ano seguinte, uma outra equipa de cientistas, coordenada por Jacob Bean, tinha descoberto que a atmosfera do planeta poderia ser composta maioritariamente por água.

Agora os investigadores conseguiram confirmar detalhes sobre a atmosfera deste planeta, através da observação de imagens conseguidas pelo telescópio espacial Hubble. De acordo com a NASA, o GJ1214b tem 2,7 vezes o diâmetro da Terra e uma massa quase sete vezes maior. O planeta completa uma órbita em volta de uma estrela anã vermelha a cada 38 horas, a uma distância de dois milhões de quilómetros. Os cientistas estimam que a temperatura à sua superfície seja de 230º C.

Como a massa e o tamanho do planeta são conhecidos, os cientistas podem calcular sua densidade: apenas dois gramas por centímetro cúbico. A água, por exemplo, tem densidade de um grama por centímetro cúbico, enquanto a densidade média da Terra é de 5,5. Isso sugere que o GJ1214b tem muito mais água que a Terra e muito menos rocha. Por isso, a estrutura interna do planeta seria "extraordinariamente diferente" em relação à Terra. “As elevadas temperaturas e as elevadas pressões podem formar materiais exóticos como ‘gelo quente’ e ‘água superfluída’, substâncias que são completamente estranhas à nossa experiência do dia-a-dia”, comentou Zachory Berta.

Os teóricos acreditam que o GJ1214b se começou a formar longe da sua estrela, onde o gelo era abundante, e que depois se aproximou, passando pela zona onde as temperaturas à superfície seriam semelhantes às da Terra. Os cientistas não sabem dizer quanto tempo ele teria ficado nesta posição.

Este planeta é um forte candidato para ser objecto de estudo do telescópio espacial James Webb, que deverá ser lançado em 2018.  (in Publico)

Cientistas russos ressuscitaram flor com 30 mil anos

O poder de conservação das plantas é bem conhecido pelos cientistas. As sementes podem germinar passado muito tempo, 2000 anos até, no caso de sementes de palmeiras encontradas numa fortaleza de Masada, perto do Mar Morto, em Israel. Mas os resultados obtidos pela equipa liderada por Svetlana Yashina e David Gilichinsky, da Academia de Ciências Russa, não têm precedentes. “No presente, as plantas da S. stenophylla são os mais antigos organismos multicelulares viáveis”, escreveram os autores no artigo.

A planta que conseguiram regenerar da espécie Silene stenophylla continua a crescer na Sibéria. Mas este material biológico da flor estava escondido num dos 70 buracos de hibernação feitos pelos esquilos que viviam naquela altura, que os cientistas investigaram, no Nordeste da Sibéria.

“Todos os buracos foram encontrados a profundidades de 20 a 40 metros, da superfície de hoje, e estão localizados nas mesmas camadas onde existem ossos de grandes mamíferos como mamutes, rinocerontes-lanudos, bisontes, cavalos, veados, alces, e outros representantes da fauna” do Plistocénico tardio, escreveu a equipa.

Os buracos estão na acamada de permafrost, uma camada de solo gelada e que funciona como um congelador gigante. Este solo manteve durante dezenas de milhares de anos o material a uma temperatura média de -7 graus célsius. No laboratório, através da técnica de Carbono 14, os cientistas aferiram a idade do material, que tem cerca de 31.800 anos, com um erro de 300 anos.

O material continha sementes e partes do fruto da espécie vegetal. A equipa tentou germinar as sementes, mas não obteve sucesso, depois utilizaram partes vivas do furto da planta. Ao contrário dos animais, é possível regenerar uma planta a partir de partes vivas de um espécime, que nas condições certas, acabam por se desenvolver dando origem a raízes, caules, folhas, flores e frutos. No fundo, desenvolve-se um clone. Foi o que aconteceu nesta experiência, os cientistas colocaram a germinar pedaços do fruto, que germinou e deu uma planta com flores. Os cientistas conseguiram ainda produzir novas plantas a partir das sementes produzidas por estas flores.

Segundo os autores, este “milagre” foi possível, porque as células do fruto utilizadas para a germinação eram ricas em açúcar, o que protegeu o ADN e o material das células do frio. Esta protecção possibilitou a multiplicação celular quando a equipa pôs o material a germinar.

“Isto é uma enorme descoberta”, disse Grant Zazula, cientista do Programa de Paleontologia de Yukon, do Canadá, ao New York Times, defendendo que “não tem dúvidas” dos resultados obtidos pelos cientistas russos serem verdadeiros.

As novas plantas têm uma fisionomia diferente no formato das flores em relação aos espécimes de hoje. Os cientistas não conseguiram explicar a causa destas diferenças. A equipa defende que esta descoberta pode ajudar a compreender melhor o processo da evolução das espécies, além de dar mais informação sobre o clima que existia ali há 30.000 anos.

Mais excitante, contudo, são as novas possibilidades de regenerar plantas que entretanto se extinguiram, e cujo material se mantém conservado na natureza por um processo semelhante. “Há uma oportunidade de ressuscitar flores que foram extintas da mesma forma que falamos em trazer os mamutes de volta à vida, a ideia parecida com a do Jurassic Park”, disse Robin Probert, do Banco de Sementes Milénio, Reino Unido, citado pela BBC News.

in:PUBLICO

terça-feira, fevereiro 21, 2012

soneto de Carnaval


Distante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento.


Seu mais doce desejo se amargura
Todo o instante perdido é um sofrimento
Cada beijo lembrado uma tortura
Um ciúme do próprio ciumento.


E vivemos partindo, ela de mim
E eu dela, enquanto breves vão-se os anos
Para a grande partida que há no fim


De toda a vida e todo o amor humanos:
Mas tranqüila ela sabe, e eu sei tranqüilo
Que se um fica o outro parte a redimi-lo.



 Vinicius de Moraes

sexta-feira, fevereiro 17, 2012

paraíso

 

Deixa ficar comigo a madrugada
Para que a luz do sol me não constranja
Numa taça de sombra estilhaçada
Deita sumo de lua e de laranja

Arranja uma pianola, um disco, um posto
Onde eu ouça o estretor de uma gaivota
Crepite em derredor o mar de agosto
E outro cheiro, o teu, à minha volta

Depois podes partir, só te aconcelho
Que acendas tudo, para ser perfeito
Á cabeceira a luz do teu joelho
E entre os lençois o lume do teu peito

Podes partir, já nada mais preciso
Na minha ilusão do paraiso


David Mourão Ferreira

quinta-feira, fevereiro 09, 2012

Morreu "a Muda"...

     Quando em 1973 vim viver para o Porto Moniz, na altura um meio pequeno, hoje ainda rural, salpicado de casas pequenas sem luz e sem água, de poios cultivados e vizinhos curiosos e afáveis.
     A poucas dezenas de metros morava a Ti Antónia, figura venerável, xaile negro, coçado, saias compridas, às vezes descalça na poeira do chão, bordão de cana em cada mão, cara rosada e rugosa, emoldurada de cabelos brancos que, num ápice, desapareciam no puxar rápido do lenço preto. Os olhos azuis, por detrás de uma armação amarela, torta, de lentes gastas, pareciam maiores e mais vivos. Conversadora, mãe de muitos filhos paridos por casa, sobraram-lhe cinco.
     Morreu, terá mais de vinte anos, já centenária.
     Três filhas viviam com ela: a Francisca, a Rosa e a Paixão.
     Habituamo-nos a ver “as mudas”, como todos lhes chamavam, no quotidiano.
     Os meus filhos gostavam delas e do seu “pâpâpâ”, às vezes irritado, quando entre si brigavam.
    A Rosa, numa voz trémula, envergonhada talvez por ser a única que balbuciava palavras, fazia questão de saudar “os meninos” com gestos mímicos, ganhando deles o título de “a muda que fala”.
     Morreu Francisca, morreu Rosa, ficou Paixão.
     Figura magra, habilhando trajes herdados de anos, às vezes com a novidade de uma soeira garrida e nova, passeava o seu vai-e-vem no Cabo Salão, onde morava. A todos saudava e todos a entendiam e conversavam por falas e gestos.
     Enterra-se hoje às 14h00; faleceu no dia 07 e faria no dia 08 deste mês, 88 anos.

Maria Teresa Góis
09-02-2012

terça-feira, fevereiro 07, 2012

Bolo de Laranja


Ingredientes:
7 ovos, claras em castelo
2 chávenas de açúcar
raspa de 2 laranjas
1 chávena de sumo de laranja
1 pacote de natas
1 chávena de óleo
3 chávenas de farinha
2 colherinhas de chá de fermento

Modo de fazer:
Bata as gemas com o açúcar, junte as natas, o óleo, o sumo e a raspa, a farinha com o fermento e no fim as claras em castelo.
Forma grande, untada, cerce de 45 minutos a 200 graus.

Charles Dickens nasceu há 200 anos

Texto: Charles Dickens
“…Neste mundo nunca somos mais bem enganados do que por nós mesmos. Que aceitemos de outros, ingenuamente, uma moeda falsa, já é bastante inconcebível à luz do bom senso; mas que em perfeito conhecimento de causa tomemos por dinheiro bom as moedas falsas fabricadas por nós mesmos, é sem dúvida um fenômeno psicológico dos mais curiosos! Se um amável desconhecido, sob pretextos de pôr em segurança o nosso dinheiro, consegue que lho demos, e nos fornece como garantia um punhado de cascas de nozes, certamente ficaremos muito surpreendidos quando vimos que fomos ludibriados. No entanto, o que é uma falcatrua em comparação com o que fazemos quando guardamos cascas de nozes como se fossem moedas de ouro?…”
 
(Trecho do livro GRANDES ESPERANÇAS)

O ANALFABETO POLÍTICO

 
O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
... Nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe o custo da vida,
O preço do feijão, do peixe, da farinha,
Do aluguer, do sapato e do remédio
Dependem das decisões políticas.

O analfabeto político
É tão burro que se orgulha
E estufa o peito dizendo
Que odeia a política.

Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
Nasce a prostituta, o menor abandonado,
E o pior de todos os bandidos,
Que é o político vigarista,
Pilantra, corrupto e lacaio
Das empresas nacionais e multinacionais.

Bertold Brecht

segunda-feira, fevereiro 06, 2012

Bolinhos de Curgete.

2 curgetes, 1 cebola, sal, 2 ovos, 4 colheres de sopa de farinha integral e 1 colher de chá de oregãos.
Lave as curgetes, cortem as extremidades e ralem para uma tigela.Pique a cebola bem picadinha e acrescente às curgetes tb com os oregãos.À parte bata bem os ovos e acrescente, envolvendo bem.Por fim junta a farinha e vá mexando bem sem bater.Frite às colheradas em óleo bem quente e deixe secar em papel absorvente.
Pode acompanhar pratos de carne ou peixe ou mesmo só servidos com salada.

domingo, fevereiro 05, 2012

Envelhecer - um direito!

As horas mais belas do dia é o amanhecer e o crepúsculo. Transpondo para a Vida estes dois momentos, tanto é belo o nascimento como a mudança para a velhice.
Passam os anos e acumulamos recordações, alegrias e tristezas que parecem intransponíveis, únicas, que actuam na nossa vida como uma mola ou uma vitamina.
Consagramos na memória a recordação por excelência; até aprendemos a esquecer ingratidões afinando a sabedoria, no saber escolher entre o trigo e o joio da Vida, construindo na mudança novas relações. Também aprendemos a lidar com a partida dos nossos contemporâneos, o nome de novas doenças, descobre-se que as faculdades outrora plenas vão falhando, mas podemos olhar a vida com a serenidade da poesia pois tudo é possível ou impossível!
Por isso somos meninos duas vezes…
Quando a memória falha, acentua-se a recordação e temos a noção da finitude.
Mas se envelhecer é um direito, será sempre um nobre direito. Pela vida que se levou, feliz ou infeliz, pela boa ou má semente deixada. E, neste direito, assiste o carinho e compreensão da família e da sociedade.
Este ano já, serão duas as dezenas de idosos encontrados sem vida nas suas casas ou em refúgios. Mais do que o choque de os saber morrer sós, incapazes fisicamente, talvez lúcidos, o choque da estupidez humana que, à vista de todos afirma "tem três dias que o não via", "tem uma semana que a não víamos".
Nas grandes urbes em que muitos são os que passam despercebidos, haverá desculpa. Mas nos meios pequenos, nos bairros em que toda a coscuvilhice se sabe e comenta, dói a indiferença social irresponsável.
A vida tornou-se difícil para quase todos e talvez esta austeridade fomente o egoísmo e a indiferença.
Os nossos idosos são o Património da nossa cultura, dos usos e costumes, da portugalidade adquirida através dos anos (sem ser preciso o uso do emblema na lapela).
O Estado, a sociedade e a Família, se existindo, deveriam monitorizar cada caso e tentar a melhor solução. É um pensamento utópico, na época actual, em que o empobrecimento do País é um crescendo e regredimos décadas, se não um século.
Também pela Região os casos de isolamento desamparado acontecem, há uma população desmarcadamente idosa e talvez por isso se fechem serviços médicos de urgência sem olhar à possibilidade de um socorro urgente. Se um doente das Achadas da Cruz adoecer, sem transporte, esperará por um socorro que sairá de S. Vicente, para aí retornar. Com um quartel de bombeiros no Porto Moniz…
Mas os gastos com o Carnaval em todos os concelhos, estão garantidos.
E deixo uma informação ao senhor Secretário dos Assuntos Sociais; a co-habitação de idosos numa só casa já se usa em Portugal Continental onde autarcas sensíveis e conscientes transformaram e adaptaram escolas primárias vazias em habitações, com infraestruturas e o devido acompanhamento e assistência da Segurança Social.
No Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações, saibamos estar atentos aos cada vez mais evidentes sinais, no dia-a-dia.

Maria Teresa Góis  (publicado Diário Notícias Madeira em 05-02-2012)

sábado, fevereiro 04, 2012

havia um pajem loiro....

 Havia um pajem loiro, desse loiro luz ridente,

que de vivo nos dizia o que era amor de cravo.
Despia-se insinuante sem despir nada de si
e tão perturbável era seu luar de inteiro encanto,
quadrado como ele tinha a voz minguada doçura
que chegava a ser decente seu local corpo de infante
escapulido na rua.

Nem o tocava nem via, nem tolhia o seu ar,
no desejo de o tocar como sendo água fria
onde o pé entra ligeiro e logo entrado é certeiro
que tudo há-de molhar.

Ó dolente melodia noutra louca cidadela,
quem me dera cinderela, corça silente e tardia
debruçada na janela da minha alma vazia.

Ó mais dura solidão de estar por ti rodeado,
como cavalo poltrão que não respeita terrado
e ameaça romper o cordão, o emblema,
tudo aquilo que é sagrado, por minutos de ilusão
em minha crina morena.

António Botto