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domingo, junho 07, 2015

Cortesias e chapeladas

      “Nunca se mente tanto como em vésperas  de eleições,  durante a guerra e depois da caça.”

Otto Bismarck




 Ao fim de quase quatro anos e a escassos meses de eleições, o primeiro ministro de Portugal descobriu a Madeira.
Com o amigo Miguel no poder e fora dos venenos de Alberto João Jardim, sentiu-se em segurança para visitar uma parte do país que, década a década, tem sido a sala de chutos do seu partido. Só assim se chega às verbas astronómicas regionais de sinal menos que são do conhecimento público. E, sem qualquer pejo, diz nunca ter sido convidado. E desde quando um político consciente precisa de convite para visitar o país? Convites são para as queijarias…
Mas ei-lo, bem-disposto, cheio de consensos, de novidades. A Madeira tremeu? Não, os sismos tinham-se verificado dias antes lá para as bandas das Desertas e nem sequer os sentimos!
Começo pelos transportes. Por mar: comissão de análise para lançar um concurso público internacional. Não tem o Governo Regional capacidade de diálogo e de o fazer poupando uns bons milhares à Madeira? Enquanto o pau vai e volta, podemos esquecer o curto, talvez mesmo o médio prazo. Por ar: tarifas de ida e volta inferiores a 90 €. Compreendem as taxas, as bagagens, a futura privatizada TAP será obrigada com a mesma frequência a este serviço público? Será o Governo Regional a suportar, tal como nos Açores, o diferencial de custo? Ninguém sabe, mesmo que todos os Madeirenses sonhem. Ou seja, todas estas decisões poderão cair de bandeja no regaço de um próximo governo que poderá não ser do mesmo quadrante político. Assim é fácil, é como o crente que faz as promessas à espera de primeiro ver realizado o pedido e só depois o paga.
O Hospital tão necessário, tão prioritário, apesar dos cofres cheios, é mais um assunto para a futura legislatura que há-de, depois, conhecer outros argumentos adiáveis.
Os juros da dívida regional mantêm-se sem apelo nem agravo, apesar das taxas correntes serem bem mais baixas. E que dizer do IVA, que tanto onerou a vida de todos os madeirenses? Do subsídio de insularidade, vigente nos Açores, que aqui caiu em buraco fundo?
Mas, apesar de tudo, vamos ter “casório” com direito a fraque e chapéu alto. Tudo o que o CDS tem vindo a defender, a apontar, a criticar, ao longo dos últimos anos, virou acordo pré-nupcial. Talvez seja essa a única maneira de certas figuras ambiciosas e contestadas, terem lugar na Assembleia da República.
E o líder do CDS ainda hoje (dia 04) afirmou “não querer regressar ao passado da dívida do governo Sócrates e dos governos Socialistas.” Será que a dívida do país é menor, será que os portugueses estão melhor, será que a canga da austeridade virá a ser menor? E aconselho, a quem tenha dúvidas, pesquisar como nasceu e aumentou essa dívida rolante, mesmo antes do último governo.
Portugal perdeu todas as empresas chave, toda a economia independente. Hoje estamos na mão de estrangeiros e há várias gerações obrigadas a ir para o estrangeiro. Os que cá ficaram sujeitos às leis liberais aprovadas, sofrem a incerteza da condição digna de vida, da certeza de continuidade de um emprego. Os que o têm.
O país não está melhor não. A classe política reinante talvez, ainda que o PR e a ministra das Finanças se queixem dos magros e esticados salários auferidos.

Maria Teresa Góis