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domingo, junho 23, 2013

Oportunismos



 
“Há uma coisa que nunca fiz,
comentar em público a vida
dos partidos políticos: não fiz, não faço, nem façarei.”
Aníbal Cavaco Silva, Junho de 2013



Estamos em época de exames e é absolutamente espontânea a análise que fazemos às bujardas que ouvimos ou presenciamos. Um qualquer aluno, teria um risco a vermelho num exame de Português se empregasse tal expressão. Mas as calinadas, as anedotas à “Borda d’ Água” , os discursos de horas que prometem baixa de impostos e que por ironia do destino são chumbados no dia seguinte, levam-me à conclusão, mais do que estudada, que a política e os políticos de hoje são uma espécie rara de associação de indignidades.
Já ouvimos falar de um “cisma grisalho”, já ouvimos que “o crescimento tem de ser inteligente, inclusivo e sustentável”, das promessas franzinas de que agora estamos no rumo certo ou seja, a garantia de que o “abyssusabyssum” é o ponto final parágrafo do país.
Creio que o lusitano autêntico é o que sabe de cor o artigo 21º da nossa Constituição que nos garante o direito à resistência quando somos ofendidos nos nossos direitos, liberdades e garantias.
Os observatórios que nos trazem as percentagens dos diversos acontecimentos, dizem-nos da Pobreza, das tentativas de suicídio, das depressões, dos idosos que deixaram de poder tomar os seus medicamentos, dos 45% de aumento de utilizadores da Cáritas e ainda de uma lista de espera de 65% em todas as organizações que distribuem géneros ou refeições.
Estes indicadores obrigam-me a denunciar a forma como é distribuída ajuda alimentar no concelho do Porto Moniz. Normalmente em vésperas de actos cívicos, normalmente a quem não tem fome mas tem malandrice, normalmente ajuda que é entregue sob a capa de mensagem política. No ano passado, para quem quis ver, num contentor de lixo da Levada Grande estavam jogados vários quilos de arroz. E porquê? Porque já fora anunciada a próxima distribuição e, como diz o povo, as galinhas não comem arroz cru… Para não falar nas trocas entre vizinhos ou nos que são obrigados a chamar um táxi para levar os caixotes para casa. É indigno de quem distribui, de quem aceita sem necessidade e ainda esbanja, de quem elabora falsas listas de necessitados.
Nas zonas rurais serão poucos os casos de fome até porque a fraternidade é comungada. Atendam aos sítios ou associações que se debatem com a carência para prover à distribuição de refeições em cantinas, sejam comunitárias ou mesmo escolares porque há destas que já servem às crianças do pequeno-almoço ao jantar. Não admira que a estatística destes dias informe de que em cada cinco crianças duas passam fome.
Li em Torga que “o coelho aparece sempre dentro do chapéu e, como não houve milagre, houve mistificação” (Diário VII). É com este pensamento que vos deixo num limiar de um Verão que parece já ter sido adiado pelo governo!

 Maria Teresa Góis

 http://www.dnoticias.pt/impressa/diario/opiniao/392831-oportunismos#comment-382404

segunda-feira, junho 10, 2013

Descoberto na China o mais antigo esqueleto de sempre de um primata

Por: Ana



Estão em causa ideias feitas acerca da evolução dos antropóides e em particular da espécie humana.
Há 55 milhões de anos, o clima na Terra era quente e húmido. No centro do que é hoje a China, perto do actual rio Yangtze, a vegetação luxuriante de uma paisagem lacustre albergava primitivos primatas. Com apenas sete centímetros de altura e 30 gramas de peso, estes animaizinhos diurnos eram parecidos com os saguis (macacos hoje comuns no Brasil). Possuíam uma longa cauda, eram exímios em saltar de copa de árvore em copa de árvore e tinham uma predilecção alimentar pelos insectos, que trincavam com os seus dentes pequenos e afiados.
Trata-se de uma recém-descoberta espécie fóssil, baptizada Archicebus achilles (explicação do nome mais à frente), e é, segundo afirma hoje na revista Nature uma equipa internacional de cientistas, o mais antigo antepassado conhecido dos antropóides - macacos, grandes símios e humanos actuais. E também o mais antigo primata conhecido, incluindo os primatas, para além dos antropóides, os társios (cujos representantes actuais vivem na Ásia), os lémures e os galagos (que vivem em África). "É a primeira vez que temos uma visão razoavelmente completa de um primata que, na árvore da evolução, se situa mais ou menos na divergência dos társios e dos antropóides", diz em comunicado Xijun Ni, paleontólogo da Academia Chinesa de Ciências de Pequim e co-autor da descoberta. "Isso representa um grande avanço no esforço de mapear as primeiras fases da evolução dos primatas e dos humanos."
O fóssil foi encontrado há vários anos por um agricultor, numa pedreira perto da cidade de Jingzhou, província de Ubei, China, acabando por ser doado à instituição onde trabalha Ni. Como estava encapsulado numa pedra, só ficou à vista quando esta foi partida ao meio, revelando duas "metades", muito frágeis e delicadas, de ossos e de impressões "em negativo" de ossos deixadas na matriz rochosa.
Para o estudar sem o danificar, os cientistas recorreram a técnicas de imagiologia. A partir de 2008, começaram a produzir imagens "às fatias", de altíssima resolução, das duas "metades" do fóssil graças ao feixe de raios X mais potente do mundo, sito no Sincrotrão Europeu (ESRF), perto de Grenoble (França). Reunindo as imagens, obtiveram uma visão 3D extremamente pormenorizada do esqueleto original. "Virtualmente falando, pusemos o esqueleto de pé", diz o co-autor Paul Tafforeau, paleontologista do ESRF. Também determinaram a posição do Archicebus achilles na árvore evolutiva, de forma a relacioná-lo com os outros primatas. Para isso, compararam, em paralelo, mais de mil caracteres anatómicos de 157 mamíferos.
E o que descobriram foi um animal "diferente de qualquer outro primata conhecido, vivo ou fóssil", diz o co-autor Chris Beard, do Museu Carnegie de História Natural de Pittsburgh (EUA). "É um estranho híbrido, cujos pés parecem os de um pequeno macaco, com os braços, patas e dentes de um primata muito arcaico, com um crânio primitivo e uns olhos curiosamente pequenos." É precisamente esta estranha mistura que os cientistas interpretam como sendo um indício de que o Archicebus achilles representa um elo entre o ramo dos társios e o dos antropóides. Donde o nome que deram ao fóssil, cuja primeira parte significa "primeiro macaco de cauda comprida", enquanto a segunda faz referência ao calcanhar curiosamente "moderno" da espécie.
"Isto vai forçar-nos a rescrever a história dos antropóides", salienta Beard. De facto, explica, a descoberta põe em causa noções enraizadas sobre a evolução dos primatas. Por exemplo, ao sugerir (corroborando outros dados) que os primeiros primatas apareceram na Ásia - e não em África, como se pensava; ou ainda, ao ir contra a ideia de que os nossos antepassados mais longínquos eram grandes animais.
"O Archicebus achilles era um diminuto e delicado primata, talvez mais pequeno do que qualquer primata actual", disse Beard em teleconferência de imprensa organizada pela Nature. "Era provavelmente um animal frenético, ansioso, ágil. E o mundo que habitava era uma espécie de "planeta dos macacos" antes de haver macacos."

Na foto :
reconstituição 3D do fóssil de Archicebus achilles; à direita, visão artística deste antiquíssimo primata

fonte: Público 06.06.2013