Sophia Mello Breyner Andersen (in: Cantata da Paz)
Quando uma estatística afere em 67% o índice de felicidade dos
portugueses, vou ali aos “mercados” e já venho… Mais, 69% estão tão ou
mais felizes do que há três anos (“Expresso” 08.11.2013).
A minha descrença espelha-se no número de outras estatísticas
substantivas como a Pobreza, a Fome e as cantinas sociais que nunca
conseguem satisfazer toda a clientela, o desemprego ou a emigração. A
desilusão e o desalento são, também, sentimentos populares.
Os políticos de refugo, filhos de escolinhas partidárias de “rankings”
menores querem convencer os europeístas troikanos de que são filhos de
um deus maior e salvadores da Pátria. Puro embuste!
A famosa estrada do progresso ainda não conseguiu ser projectada. Porém,
já corremos o risco de ser atropelados. Os sofrimentos morais e sociais
não casam com tais índices de felicidade.
Cada erro consentido é um rude golpe nas populações, nas instituições e empresas, do país.
A democracia, ou a igualdade social como já alguém lhe chamou ehoje em
perigo, alerta para o fosso cada vez maior entre a carência e a
opulência. E a cada semana nos sobressaltamos com guiões, caricaturas e
falsetes. Somos, então, um povo maioritariamente feliz?
A política opressora sem resultados nega a democracia e faz realçar a
falta de aptidão e petulância de quem se julga sobredotado e “bom
aluno”. Também realça a corrupção…
Um governo move-se por ideias mas um povo move-se por ideais.
Se todos fossemos cegos, surdos ou coxos, quem notaria o defeito? Será
que só um espírito de Abril elevaria a felicidade à potência dos 100%?
A expressão de rua é legítima mas não provoca consequências imediatas. É
necessário que o cidadão não seja indiferente, não se limite a teclar
nas redes sociais, não ignore e participe na construção democrática de
um debate público e político.
Deixámos de ser sem surpresa os companheiros da Irlanda. Sucedem-se
agora as declarações de sinal contrário, e os comentadores a soldo
afanam-se.
Ainda há, felizmente, “medias” que trilham a independência e o esforço
profissional à informação pura e crua, por isso isenta, enquanto outros a
blindam de constrangidos e dependentes que estão.
Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar….
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