“A política chegou a tal miséria que nem a polidez instintiva coíbe os homens.”
Eça de Queirós
A palavra mais ouvida nas últimas semanas, pronunciada por políticos e
comentadores, a propósito e a despropósito, é a palavra “paradigma”. A
curiosidade levou-me a dicionários na busca de um significado diferente
ao que conhecia; mas, lá está, “modelo, padrão, norma” ou seja, na
actual linguagem política, imposição, ideia já decidida mas não
comunicada ou esclarecida.
A meu ver o paradigma civilizacional está esgotado quando se apuram os
índices reais de pobreza, de miséria, de taxa de desemprego, de
emigração, de taxas de óbitos por falha de assistência, de suicídios e
quando funcionários, pensionistas e reformados são esmifrados a troco de
um perdão fiscal a grandes empresas num valor de 7,8% do PIB nacional.
Falta pão nos lares portugueses mas as sessões de circo são contínuas.
Vejamos o capítulo do caso “Miró”. Quando pertença do BPN tinham uma
avaliação de 150 milhões. Em 2007 a mesma colecção de 85 quadros foi
avaliada pela Christies’s em 81,2 milhões de euros e nos dias de hoje o
governo de Portugal esperava arrecadar 35 milhões. Se não estivéssemos
já avisados pelas frotas de “submarinos” que actuam neste país, pelos
avisos da comissão europeia sobre os níveis de corrupção e pelo
amadorismo imbecil que não tem emenda, é caso para usar a esquecida
expressão tão madeirense “aiaiai que a gatinha quer água”! Se há um
mercado que não se desvalorizou, foi o mercado da Arte.
Mas Arte, Cultura, Educação ou Saúde, são palavras desusadas para esta maioria.
Os emigrantes, os desempregados ou mesmo os mortos não participam nas
sondagens, sequer nas votações e este facto deve ser levado em conta em
todos os actos políticos a que somos chamados.
Se em tempos foram os Descobrimentos e “os feitos valorosos” que nos
levaram pelo Mundo, hoje somos o país que mais se curva a interesses
estrangeiros em detrimento de valores patrimoniais e patrióticos.
E noutra sessão circense ouvimos a proclamação da roleta de carros topo
de gama, a troco do que deveria de ser obrigação civilizada de
cumprimento de deveres.Com o tempo chegaremos aos ferros de engomar,
microondas ou até edições de livros de autoria ministerial… Pura
anedota.
As providências cautelares chovem, até do Ministério Público, os pedidos
de fiscalização chovem, até do Provedor da Justiça, e o povo brando,
cansado vai rimando “naquele engano de alma ledo e cego que a fortuna” e
a carência não deixarão durar muito.
E, se não ficarem esclarecidos com os paradigmas deste governo, olhem
para a senhora presidente da Assembleia da República e matutem no
“conseguimento” e no “inconseguimento frustracional devido à crise”.
Maria Teresa Góis
http://www.dnoticias.pt/impressa/diario/opiniao/430089-o-paradigma
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