“Os verdadeiros democratas não são aqueles histéricos que exigem isto e
reivindicam aquilo, que dizem que precisamos de não sei quê e que vamos
todos morrer estúpidos se não fizermos não sei que mais. São os que
vivem e deixam viver. São os que respeitam as opiniões, as
excentricidades e as manias dos outros, sem ceder à tentação de os
desconvencer à força”
Miguel Esteves Cardoso
Estamos a caminho das urnas! Tétricamente falando é este o termo certo que nos levará ao dia 29 de Março próximo.
E já ouvimos o canto da sereia que embeleza a realidade, promete futuros novos mais leves e navegáveis.
E há-de haver os que encantados, sem um Ulisses que os aconselhe, não
porão cera ou silicone a tapar os ouvidos, para que não percam a
tramontana.
Ninguém será fielmente amarrado a qualquer mastro (poderia ser do ARMAS, não?) a fim de não sucumbir a tal encanto.
Os figurantes, na história pretensamente democrática da Madeira, são
exactamente os mesmos. Uns terão mais experiência política (ou
politiqueira) outros, se agora afastados, em breve reocuparão espaços
porque, “há sempre lugar para mais um”…
De cantilena em cantilena, chegamos ao IVA mais elevado de Portugal, ao
custo de vida mais elevado de Portugal numa pequena região onde o
desemprego é o maior, malgrado as obras faraónicas cimentadas no terreno
regional sendo que muitas delas inúteis.
Mas também temos o canto do cisne.
Hoje sabemos que a metáfora não significa a morte do artista mas a
expressão derradeira de um gesto, de um esforço final de um desempenho
que, à partida, poderá correr mal.
Saramago, sabiamente, deixou escrito que “o trabalho de convencer é uma
falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro.”
Por isso, num processo eleitoral, muito gostaria que os eleitores
pensassem nos últimos anos, ouvissem os avisos de que a “austeridade é
para manter”, não na contenção das despesas do governo mas nos bolsos
dos contribuintes, analisassem porque não há trabalho para uns mas há
emprego para outros, porque demora um exame médico, porque, porque,
porque…
Quem levantou a voz a favor dos mais desfavorecidos ou quem denunciou
compadrios que só beneficiaram alguns, terá com certeza menos votação
porque não tem jackpots de euros para propaganda dominical, mas terá a
consciência mais tranquila porque sempre defendeu e protegeu o mais
desfavorecido. Na habitação, transportes ou coisas tão simples como ter
água potável na sua residência.
Já é tempo de atingir a maturidade quarenta anos depois do direito
sagrado de escolha através do voto. A cidadania é também arcar com a
consciência e consequência de uma escolha. A bem da Região!
Maria Teresa Góis