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domingo, julho 29, 2012

lendo....Miguel Torga


Pitões das Júnias, Barroso, 8 de Setembro de 1983 - Só vistas, a aspereza deste ermo e a pobreza do mosteiro desmantelado. Mas canta dia e noite, a correr encostado às fundações do velho cenóbio beneditino, um ribeiro lustral. E o asceta e o poeta que se degladiam em mim, de há muitos peregrinos desta solidão, mais uma vez se conciliam no mesmo impulso purificador, a invejar os monges felizes que aqui humildemente penitenciaram o corpo rebelde e pacificaram a alma atormentada. O corpo a magoar-se contrito no cilício quotidiano da realidade e a alma a ouvir de antemão, enlevada, a música da eternidade.

MIGUEL TORGA, in "Diário XIV"

domingo, julho 22, 2012

os diabinhos negros...

                                                                             "…não vou pôr porcaria na ventoinha…."                                                                          Pedro Passos Coelho, debate da Nação, 11/07/2012  


Eles andam aí… Antes que a prosa me corra para os acontecimentos actuais quero mencionar o desassombro, claro, frontal, inteligente e lúcido de D. Januário Torgal Ferreira. Acutilante faz a análise da Pobreza, do uso indevido de dinheiros públicos, com palavras fortes que escandalizaram ministros, os porta-vozes das direitas que quais virgens ofendidas de média idade, vieram vomitar a sua indignação. Falasse D. Januário em processos no DCIAP ou no Ministério Público e, talvez, se sentissem menos ofendidos. Bem-haja D. Januário por não querer uma Igreja amorfa, acomodada, afastada dos valores há mais de dois mil anos proclamados.
Há sim, muitos diabinhos negros, desses chifrudos de olhos grandes, com passinhos mansos, leves, cheirando a incensos diluídos em pó, comprando a essência da experiência e da credibilidade avulso.
A Madeira arde, há dias. Uma vez mais, pintam-se de preto paisagens outrora verdes.
Não se aprende a lição, grassa a incúria, desdenha-se a lei. Num tempo em que as Câmaras Municipais tanto precisam de verbas, não limpam, fiscalizam ou fazem cumprir a lei no que respeita à limpeza obrigatória de matagal em perímetro de edifícios públicos ou habitações.
Ainda este mês, duas vezes em duas semanas, reclamei a quem de direito da urgência de desmatar a zona envolvente da Capela dos Lamaceiros, século XVIII, parte do raro Património do concelho.
Se olharem o boletim paroquial que é público e chega a três Paróquias, vemos impresso, a pedido, o aviso da Câmara Municipal do Porto Moniz sobre o requerimento para a colocação de barracas na Festa do Senhor do Seixal, paróquia que este boletim não abrange.
Nunca vi que saísse da Edilidade um aviso de proibição de queimadas, de churrascos, de uso de fogo-de-artifício, lei existente no território Continental. É esta leveza de atitudes que condeno, que reclamo, numa região cada vez menos agricultada, com terrenos abandonados à praga das canas vieira, do silvado e da feiteira. Dirão que os donos não podem, que estão ausentes, que são de herdeiros….Apareça o Governo Regional a expropriar esses terrenos ou uma proposta choruda de compra que os herdeiros aparecessem aos magotes.
A Madeira ardeu e arde não por um fenómeno natural e talvez nem sequer por fogo posto. É a incúria que queima a Madeira, que alaga a Madeira quando chove demasiado. É a incúria que dá a conhecer a Madeira pelas piores razões quando outrora era uma pérola do Atlântico.
Deixem, senhores governantes, de procurar alibis e perseguições fantasmas. Assumam os erros, as limitações, sentem-se com todos os de boa vontade e discutam soluções - para o bem da Madeira. Façam cumprir a lei, eduquem o povo se necessário, mesmo aplicando as coimas previstas. Só assim enfrentaremos os picos de calor ou de invernia, só assim protegeremos a "Pérola do Atlântico".
Já basta de pôr porcaria na ventoinha…


Maria Teresa Góis

Diário de Notícias

sexta-feira, julho 20, 2012

Maior barragem dos maias descoberta na cidade de Tikal

No meio de uma floresta tropical da Guatemala parece pouco provável que a água tenha sido um problema para o crescimento de uma civilização. Mas foi - e a engenharia é que permitiu à cidade de Tikal, uma das mais importantes da civilização maia, abastecer as suas casas, os seus palácios e templos ao longo de 1500 anos, utilizando um sistema de recolha e transporte de água complexo. A última prova desses feitos de engenharia está na descoberta da maior barragem construída pelos maias, revelada na última edição da revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences. Era a Barragem do Palácio.

As ruínas de Tikal podem ser visitadas, revelando a imponência da antiga cidade-Estado dos maias, que misteriosamente entrou em declínio no final do século IX d.C. Mas quem não soubesse dificilmente encontraria hoje as ruínas da cidade perdida no meio da floresta luxuriante, no Norte da Guatemala, com alguns templos em forma da pirâmide a ultrapassarem a altura da vegetação.

Antes dos problemas sociais ou de anos seguidos de seca terem esgotado a resistência desta e de outras cidades maias - duas das possíveis causas do declínio desta civilização, que séculos mais tarde ainda teve de enfrentar a chegada dos espanhóis -, estima-se que 120.000 pessoas tenham chegado a viver na região central de Tikal, num círculo com um raio de 12 quilómetros.

Como é que esta cidade se abastecia de água potável? O antropólogo Vernon Scarborough e colegas, da Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos, e da Universidade de San Carlos da Guatemala, entre outros, procuraram uma resposta. Tikal fica no meio da floresta de Petén, na Península do Iucatão, numa zona de grutas, onde a água se infiltra facilmente e desaparece terra adentro. Os maias tiveram de se adaptar a essa situação e construíram um sistema de recolha e transporte de água.

"O sistema de água de Tikal foi um dos maiores, mas não sabemos se foi o maior [da civilização maia]. Funcionava por gravidade e tinha uma série de reservatórios, tanques de assoreamento, sistemas de filtragem, barragens e pequenos canais", explica ao PÚBLICO Vernon Scarborough.

O sistema dependia completamente das chuvas. Perto do centro da cidade, o depósito de água mais alto que a equipa estudou, o Reservatório do Templo, ficava a quase 250 metros de altura. Tinha capacidade para 27.140 metros cúbicos, o equivalente a um cubo com 30 metros de lado.

"As grandes superfícies pavimentadas do centro ficavam no topo de um monte. Pátios rebocados, praças, campos onde se jogava à bola, pirâmides, todas estas construções foram concebidas para a água escorrer para antigos poços de pedreiras, que foram convertidos em reservatórios", descreve o antropólogo. "Deste modo, a água era contida nestes tanques, situados em altitude, e depois era libertada na encosta, para abastecer os residentes durante as temporadas de seca."

A ocupação de Tikal ter-se-á iniciado por volta de 600 a.C. e manteve-se durante mais de um milénio, com um período de crise pelo meio, também devido à falta de água, no século III d.C., quando a civilização maia passou do chamado período pré-clássico para o clássico.

Aquela região, refere o artigo científico, poderá ter atraído os primeiros habitantes da cidade devido às nascentes de água nas regiões de maior altitude. Depois, a urbanização terá alterado a paisagem.

Entre os seis reservatórios estudados, um deles, o do Palácio, é o segundo mais alto de Tikal, a quase 240 metros de altitude. E foi ao escavar esta zona que os cientistas encontraram aí aquela que é a maior barragem maia conhecida até agora. Os maias aproveitaram uma escarpa para construir a Barragem do Palácio, com pedras, cal e terra. Atingia dez metros de altura e armazenaria 14.000 metros cúbicos de água.

A equipa quis perceber como era utilizado cada um dos reservatórios durante a ocupação maia, analisando para tal os sedimentos depositados ao longo dos tempos. "O sistema de reservatórios e de desvios de água ficou concluído no fim do período pré-clássico, quando se iniciou uma época mais seca. Provavelmente, esta adaptação ajudou Tikal e outros centros urbanos a sobreviver, enquanto muitos outros foram abandonados", explicam os cientistas no artigo.

O trabalho também permitiu descobrir que o sistema tinha vários tanques de filtragem - com areia -, para limpar a água, embora os investigadores pensem que seria depois fervida pela população.
Apesar de todo este sistema de abastecimento estar muito longe da tecnologia actual, Scarborough defende que é importante olharmos para estas construções maias para reflectir sobre a forma como esta civilização resolveu um problema essencial: a necessidade de ter água potável. "As regiões tropicais podem ser especialmente complicadas devido ao grande número de doenças infecciosas que aparecem quando a água não é filtrada. No entanto, os antigos maias desenvolveram um sistema inteligente de recolha e transporte de água. Logo desde o início da ocupação, estavam preocupados em recolher e ter água potável."
    
fonte: Público                       

sexta-feira, julho 13, 2012

lendo..... "SÚPLICA"


O que não pude erguer nunca se ergueu.
Rasas, as coisas são anãs, sem mim.
E quando as olho como agora, assim
Desiludido,
A vida não tem força, nem sentido,
E é um calvário vivê-la.

Vê se brilhas no céu, ó minha estrela
De poeta!
Sem ti, como há-de ser?
Como darei, com esta luz de asceta,
Grandeza ao que é preciso engrandecer?


In. "Penas do Purgatório" - MIGUEL TORGA

quarta-feira, julho 11, 2012

lendo....



...."Leiam um jornal. O jornal condensa todo o drama.Pelo jornal reconstituir-se-á mais tarde a nossa época inteira.
Nada mais doloroso do que este noticiário da Vida, que enche todos os dias as colunas dos periódicos. Esta folha de papel amachucada, cheirando a tinta de impressão, traz consigo saburras de desgraça, risos, lodos, gritos, a alma humana estateladsa e a sangrar. O jornal é um drama bem mais vivo e doloroso, do que os que se arrastam para o tablado. Desde a última coluna dos anúncios até ao primeiro artigo, toda ela grita misérias, ambições, sonhos, raivas e torturas. É a alma humana contada numa forma gelada e banal, - como quem diz a  tragédia balbuciada.
O homem indiferente lê e passa para a luta, bem cheio da sua própria desgraça, para se importar com a desgraça dos outros. Egoísta, agarrado ao sonho, mal entrevê, através da tinta negra, quantos gritos, quanta aflição contém aquela folha ainda húmida que amarrota no bolso.
É que a vida moderna é exasperada e feroz. Para a frente!para a frente!Parar é morrer;parar é a gente sentir-se calcado pelos que vêm atrás, ofegantes,de unhas afiadas, prontos a despedaçar, contanto que cheguem mais depressa aos seus fins. É uma correria de seres borrados de ambição, agatanhando-se, metendo os ombros, com as mãos suadas, cerrados os dentes, prestes a tudo, até a matar, desde que consigam deitar os gadanhos ao que desejam. O céu agora é a terra, rapaziada!...
Neste áspero combate da vida é preciso dormir-se, não como os antigos cavaleiros, de armadura vestida, mas, o que é pior, com cérebro afiado-e, sobretudo, não ter coração. Endurecê-lo, emp+ederni-lo, torná-lo mais seco que a secura, e mais duro que o aço. Parar, para ouvir gritos dos que tombam, é ser esmagado; ter piedade do sofrimento alheio, dos pobres, dos fracos, dos sonhadores, é arriscar-se a gente a ficar sob os pés dos que caminham e calcam furiosamente."....

in: "O Padre", Raul Brandão

terça-feira, julho 10, 2012

10 de JULHO, DIA DA pizza

A história da pizza começou com os egípcios. Ao contrário do conhecimento popular, apesar de tipicamente italiana, os babilónios, hebreus e egípcios já misturavam o trigo e amido e a água para assar em fornos rústicos há mais de 5000 anos. A massa era chamada de "pão de Abraão", muito parecida com os pães árabes actuais, e recebia o nome de piscea.

Os fenícios, três séculos antes de Cristo, costumavam acrescentar coberturas de carne e cebola ao pão; os turcos muçulmanos adoptavam esse costume durante a Idade Média e por causa das cruzadas essa prática chegou à Itália pelo porto de Nápoles, sendo em seguida incrementada dando origem à pizza que conhecemos hoje.

No início de sua existência, somente as ervas regionais e o azeite de oliva eram os ingredientes típicos da pizza, comuns no quotidiano da região. Os italianos foram os que acrescentaram o tomate, descoberto na América e levado a Europa pelos conquistadores espanhóis. Porém, nessa época a pizza ainda não tinha a sua forma característica, redonda, como a conhecemos hoje, mas sim dobrada ao meio, feito um sanduíche ou um calzone.

A pizza era um alimento de pessoas humildes do sul da Itália, quando, próximo do início do primeiro milénio, surge o termo "picea", na cidade de Nápoles, considerada o berço da pizza. "Picea", indicava um disco de massa assada com ingredientes por cima. Servida com ingredientes baratos, por ambulantes, a receita objectivava "matar a fome" principalmente da parte mais pobre da população. Normalmente a massa de pão recebia como sua cobertura toucinho, peixes fritos e queijo.

A fama da receita correu o mundo e fez surgir a primeira pizzaria que se tem notícia, a Port'Alba. http://en.wikipedia.org/wiki/Antica_Pizzeria_Port'Alba

segunda-feira, julho 09, 2012

Execução sumária de mulher afegã


Najiba tinha 22 anos e foi morta a tiro, à queima-roupa, por adultério. Os juízes talibãs nem sequer ouviram a sua versão.

As imagens são horríveis e duram poucos segundos. A mulher tinha 22 anos, chamava-se Najiba. Era afegã e vivia numa aldeia da província de Parwan, a uma centena de quilómetros da capital, Cabul. O julgamento tribal durou menos de uma hora e ninguém se interessou pela versão da vítima, que era acusada de adultério.
Ela está sentada, ouve a sentença e não se move, sendo executada a tiro de kalashnikov, à queima-roupa. O executor (talvez o seu marido) está vestido de branco e vem por trás, nervoso, grita 'Deus é Grande' e dispara, mas os primeiros tiros não a atingem. Depois, um tiro em cheio na cabeça. Najiba cai para trás, mas o atirador continua a disparar. Alguém diz que já chega e os tiros param. As imagens de telemóvel mostram dezenas de homens numa falésia ou junto a casas de uma aldeia pobre. Só homens.
O vídeo com a execução desta mulher afegã passou na televisão do país e está a chocar o mundo. Najiba, filha de Sar Gul, irmã de Mustafa e esposa de Juma Khan, era acusada de "adultério", após ter estado um mês fora da sua aldeia. As circunstâncias são desconhecidas e alguns especulam que a mulher possa ter sido vítima de uma questão tribal ou da rivalidade entre diferentes grupos de talibãs.
Os seus acusadores eram talibãs e, não lhe dando qualquer hipótese de se explicar, condenaram-na à morte dizendo que ela tinha fugido com Zemarai, um comandante insurrecto. Entretanto, Najiba foi capturada pelos mujahidine, certamente por um grupo rival do de Zemarai, o que talvez explique a acusação de adultério. As autoridades afegãs lançaram entretanto uma operação para tentar prender os executores. (fonte DN)

Nota da redacção - Em pleno século XXI assistimos à barbárie aplaudida e consentida.Para onde vai a Humanidade?

domingo, julho 08, 2012

o que é o Amor?


O amor não é aquilo que ilumina o seu caminho.
O nome disso é candeeiro.

O amor não é aquilo que supera barreiras.
O nome disso é "golo" na marcação de um livre.

O amor não é aquilo que faz coisas que até Deus duvida.

O nome disso é Lady Gaga.

O amor não é aquilo que traça o seu destino.
O nome disso é GPS.

O amor não é aquilo que te dá forças para superar os obstáculos.
O nome disso é tracção às quatro rodas.

O amor não é aquilo que mostra o que realmente existe dentro de você.
O nome disso é endoscopia.

O amor não é aquilo que atrai os opostos.
O nome disse é íman.

O amor não é aquilo que dura para sempre.
O nome disso é Manuel de Oliveira.

O amor não é aquilo que surge do nada e em pouco tempo está mandando em
você.
O nome disso é Miguel Relvas.

O amor não é aquilo que te deixa sem fôlego.
O nome disso é asma.

O amor não é aquilo que não te deixa ver as coisas como elas são.
O nome disso é miopia.

O amor não é aquilo que faz os feios ficarem pessoas maravilhosas.
O nome disso é dinheiro.

O amor não é aquilo que o homem faz na cama e deixa a mulher louca.
O nome disso é esquecer a toalha molhada.

O amor não é aquilo que toca as pessoas lá no fundo.
O nome disso é exame de próstata.

O amor não é aquilo que faz a gente dizer coisas de que depois se arrepende.
O nome disso é vodka.

O amor não é aquilo que faz você passar horas ao telefone.
O nome disso é promoção da ZON ou da MEO...

O amor não é aquilo que te deixa com água na boca.
O nome disso é copo de água.

Amor não é aquilo por que você reza para que não acabe.
O nome disso é férias.

O amor não é aquilo que entra na sua vida e muda tudo de lugar.
O nome disso é empregada nova.

O amor não é aquilo que te deixa meio pateta, rindo à toa.
O nome disso é excesso de álcool.

O amor não é aquilo que se cola em você mas quando vai embora arranca
lágrimas.
O nome disso é cera quente.


Aprendeu ?
(recebido por email)

quarta-feira, julho 04, 2012

contra o Acordo Ortográfico

no apanhado que se segue, analisem a origem das palavras e o assassinato que se pretende fazer à Língua Portuguesa:

domingo, julho 01, 2012

lendo: "Trás-os-Montes"

"...Teodoro mantinha o fascínio pela luz eléctrica, desde a altura em que instalaram os postes de iluminação no Largo da Lameira. Em casa dele também já havia luz, mas o avô mantinha ainda várias lanternas de bolso, para se orientar no caminho do estábulo ou do celeiro, nas tardes curtas de Inverno.
Por vezes, Oscar conseguia esgueirar-se de casa com a espingarda de pressão do avô e Teodoro ficava encarregue de levar a lanterna. Edgar aparecia mais tarde, para acertar nos pássaros que dormiam nas tílias ao fundo do Largo.Oscar apontava a lanterna para o alto e um disparo fazia estremecer as folhas até à queda de um corpo morto.
   Quando regressava a casa, com a lanterna do avô, Teodoro tinha uma vontade terrível de experimentar o brilho dessa lâmpada directamente nos olhos. Uma noite encostou a boca da lanterna ao olho direito e depois carregou no botão e accionou a luz que o iluminou por dentro. Mal desligou a lanterna entrou em pânico porque não conseguia ver nada, mas aquele terror de cegueira temporária passou e aos poucos recuperou a visão. Quando se preparava para entrar em casa percebeu que não alcançava como dantes o puxador da porta, porque havia um desiquilíbrio entre o olho esquerdo e o olho lesionado.Pore isso decidiu  aplicar a mesma dose de luz sobre o olho esquerdo para calibrar a visão e depois dirigiu-se a cambalear até ao burro encostado à manjedoura.Apontou o foco para aqueles olhos grandes e castanhos do animal, enquanto recuperava do efeito daquela espécie de mutilação. O burro assustou-se e começou a roçar-se contra a parede e a tentar resistir ao feixe de luz que lhe apontavam. Teodoro levou um empurrão do burro e depois correu pelas escadas até ao quarto, arrumou o foco no lugar e deitou-se vestido.À sua volta pequenos fogos rebentavam e impediam-no de adormecer, a pulsação não baixava e começou a contar os batimentos com uma preocupação crescente. A mãe e a avó estavam no balcão com as outras vizinhas, a aproveitar o freso da noite, mas não podia ir pedir ajuda ou queixar-se que o seu coração ia rebentar, por isso resistiu entre os pensamentos malignos e o receio de uma escuridão futura."....

TIAGO PATRÍCIO nasceu no Funchal em 1979 e viveu em Carviçais, Torre de Moncorvo.Licenciado em Ciências Farmac~euticas e estuda Literatura e Filosofia na Universidade de Lisboa.Venceu vários prémios de poesia e teatro."Tras-os-Montes" é o seu primeiro romance e foi Prémio Literário Agustina Bessa-Luís 2011