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domingo, março 31, 2013

Na Senda da Esperança?

                                                            
"Não deixem que vos roubem a esperança, ouviram?"
Papa Francisco, 5ª Feira Santa


A Esperança é a diferença entre o presente que vivemos baseados na aprendizagem do passado, na angústia quotidiana e no futuro aberto ao desconhecido. Mesmo se absurda, a esperança é sagrada e impele-nos à vida dando-nos as forças para enfrentar o esforço de fazer renascer dentro de nós um sentido de vida melhor quando somos, ciclo após ciclo, atacados pelas agruras da vida.
Olho à volta e tudo me parece podre: governos, autarquias e suas firmas, grandes empresas, associações… Qualquer bom marceneiro dirá que de madeira podre não se fará boa obra. Mas é assim que se pretende descontinuar este país. Até quando? Esta inocência crónica que afecta governantes, presidentes e administrações já mete nojo.
Em dia de Páscoa, dia de alegria, dia de esperança e de família, não me quero deixar dominar por pensamentos láparos…
A Fé que no Evangelho move montanhas andaria esquecida, talvez em mim, mas o novo Papa eleito trouxe à Igreja até então opulenta e rica a tendência ao olhar dos Evangelhos.
Congar disse um dia: "o Papa não está acima da Igreja, o Papa está dentro da Igreja."
Assim parece querer fazer este papa da esperança que me lembra João XXIII que na altura espanejou muita da poeira assente no Vaticano desde os tempos de Constantino.
Revive na esperança esta Igreja que celebra a Páscoa do Ressuscitado e humaniza-se. "Não devemos ter medo da bondade e da ternura - Papa Francisco". Esta afirmação é o sinal com que exortou a mesma Igreja à Alegria.
São estes os sinais do tempo que neste texto prevalecem e que vos deixo em desejo de uma feliz Páscoa, hoje numa prosa curta e desinspirada, fruto de uma gripe que se me colou ao corpo, que o domina e que torna doloroso qualquer simples pensamento. Até o sino da Capelinha vizinha, tão alegre, provoca, ritmadamente e de quarto em quarto de hora, um tremor de terra com epicentro na minha cabeça…
Tenhamos então Esperança e saibamos limpar as pragas que nos rodeiam, num momento cívico que apenas há umas dezenas de anos conquistámos.



Maria Teresa Góis

 http://www.dnoticias.pt/impressa/diario/opiniao/378221-na-senda-da-esperanca

sexta-feira, março 08, 2013

porquê 08 de Março?


Neste dia, do ano de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Estas operárias que, nas suas 16 horas, recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara um incêndio, e cerca de 130 mulheres morreram queimadas. Em 1910, numa conferência internacional realizada na Dinamarca, foi decidido, em homenagem àquelas mulheres, comemorar o 8 de Março como "Dia Internacional da Mulher".

domingo, março 03, 2013

Um país a preto e branco

Diário de Notícias
 

Portugal está puído mas não vejo artesãos que lhe possam deitar os remendos

Maria Teresa Góis
 
"As liberdades essenciais são três: liberdade de cultura, liberdade de organização social, liberdade económica…"
Agostinho da Silva


Por aqui e por ali já vão assobiando os ares da Primavera: nos verdes, nos campos cavados, nas flores que despontam, no corre-corre dos melros pretos e nos trinados dos pássaros, sempre apressados e felizes. Como os invejo!
Enquanto isto o meu País é um filme a preto e branco, um filme triste em que um em cada cinco portugueses está desempregado, em que um quarto das crianças está em situação de pobreza ou exclusão segundo um relatório internacional, um país de economia retraída à beira dos 4%, em que os jovens ou emigram ou são uma geração adiada, os que querem estudar não o podem fazer, as liberdades começam a ser cerceadas, o Estado não cumpre a função social inscrita na Constituição, os cortes viram "poupanças" e o povo, desiludido, desesperançado e amargurado mantém-se à tona fazendo do humor e chiste à política a sua bandeira e da "Grândola Vila Morena" o seu hino.
Impressiona saber que pelos cemitérios das grandes cidades há corpos vertidos nas valas, não por tradição fúnebre mas por falta de dinheiro que possa pagar o serviço de ter quatro simples tábuas no leito pós morte. Não pelo desconforto de um corpo que regressa ao pó da terra, mas pelo significado da extrema pobreza que fere as tradições cultuais e religiosas de um povo e que deixará, talvez, a revolta na devoção dos que ficam.
Portugal está puído mas não vejo artesãos que lhe possam deitar os remendos!
É público o corte nos medicamentos essenciais, da pressa com que se despacha para casa um doente a meia alta numa negação evidente ao direito à saúde. Há também "poupanças" nas escolas mas que se amenizam na juventude tolerante dos alunos e se agravam no stress continuado dos professores.
Neste mês a "poupança" expressa nos recibos de vencimentos ou reformas aumentou a indignação e a ginástica contabilística das famílias.
A repetitiva força renovadora da Primavera não abrange o reino em que vivemos! Nela viceja o que em nós morre, nela se acentuam as cores que em nós esmorecem.
Só há um caminho e o único que conheço é apear este grupo de impreparados arvorados em deuses de salvação nacional. É uma atitude radical? Será, sem dúvida, mas será talvez a única maneira de salvar a dignidade de uma nação com história, impedir a emigração e suicídio de um povo, de banir a desilusão sem viver na ilusão, de pensar global mas agir local.
E pelos recortes da Ilha também não vamos bem e os desmandos começam a perturbar as hostes devotas do regime.
As "poupanças" forçadas estão por todos os concelhos: nas estradas esburacas, no lixo acumulado em contentores, nos caminhos municipais arruinados de matagal, miradouros lixados por que não limpos e cuidados, nas frestas que o cimento cede à teimosia das humidades e até no bolor que o povo simples vai descobrindo nos políticos. Precisamos de aproveitar o iodo, o iodo atlântico da Liberdade.
Fevereiro de 2013 ficará nos anais da História com as palavras "renúncia" e "resignação". As renúncias não foram as necessárias e é tempo de acabar com a atitude resignada de quem se deixa explorar por quem não vale um coelho esfolado…