Portugal está puído mas não vejo artesãos que lhe possam deitar os remendos
Maria Teresa Góis
"As liberdades essenciais são três: liberdade de cultura, liberdade de organização social, liberdade económica…"
Agostinho da Silva
Por aqui e por ali já vão assobiando os ares da Primavera: nos verdes, nos campos cavados, nas flores que despontam, no corre-corre dos melros pretos e nos trinados dos pássaros, sempre apressados e felizes. Como os invejo!
Enquanto isto o meu País é um filme a preto e branco, um filme triste em que um em cada cinco portugueses está desempregado, em que um quarto das crianças está em situação de pobreza ou exclusão segundo um relatório internacional, um país de economia retraída à beira dos 4%, em que os jovens ou emigram ou são uma geração adiada, os que querem estudar não o podem fazer, as liberdades começam a ser cerceadas, o Estado não cumpre a função social inscrita na Constituição, os cortes viram "poupanças" e o povo, desiludido, desesperançado e amargurado mantém-se à tona fazendo do humor e chiste à política a sua bandeira e da "Grândola Vila Morena" o seu hino.
Impressiona saber que pelos cemitérios das grandes cidades há corpos vertidos nas valas, não por tradição fúnebre mas por falta de dinheiro que possa pagar o serviço de ter quatro simples tábuas no leito pós morte. Não pelo desconforto de um corpo que regressa ao pó da terra, mas pelo significado da extrema pobreza que fere as tradições cultuais e religiosas de um povo e que deixará, talvez, a revolta na devoção dos que ficam.
Portugal está puído mas não vejo artesãos que lhe possam deitar os remendos!
É público o corte nos medicamentos essenciais, da pressa com que se despacha para casa um doente a meia alta numa negação evidente ao direito à saúde. Há também "poupanças" nas escolas mas que se amenizam na juventude tolerante dos alunos e se agravam no stress continuado dos professores.
Neste mês a "poupança" expressa nos recibos de vencimentos ou reformas aumentou a indignação e a ginástica contabilística das famílias.
A repetitiva força renovadora da Primavera não abrange o reino em que vivemos! Nela viceja o que em nós morre, nela se acentuam as cores que em nós esmorecem.
Só há um caminho e o único que conheço é apear este grupo de impreparados arvorados em deuses de salvação nacional. É uma atitude radical? Será, sem dúvida, mas será talvez a única maneira de salvar a dignidade de uma nação com história, impedir a emigração e suicídio de um povo, de banir a desilusão sem viver na ilusão, de pensar global mas agir local.
E pelos recortes da Ilha também não vamos bem e os desmandos começam a perturbar as hostes devotas do regime.
As "poupanças" forçadas estão por todos os concelhos: nas estradas esburacas, no lixo acumulado em contentores, nos caminhos municipais arruinados de matagal, miradouros lixados por que não limpos e cuidados, nas frestas que o cimento cede à teimosia das humidades e até no bolor que o povo simples vai descobrindo nos políticos. Precisamos de aproveitar o iodo, o iodo atlântico da Liberdade.
Fevereiro de 2013 ficará nos anais da História com as palavras "renúncia" e "resignação". As renúncias não foram as necessárias e é tempo de acabar com a atitude resignada de quem se deixa explorar por quem não vale um coelho esfolado…
Agostinho da Silva
Por aqui e por ali já vão assobiando os ares da Primavera: nos verdes, nos campos cavados, nas flores que despontam, no corre-corre dos melros pretos e nos trinados dos pássaros, sempre apressados e felizes. Como os invejo!
Enquanto isto o meu País é um filme a preto e branco, um filme triste em que um em cada cinco portugueses está desempregado, em que um quarto das crianças está em situação de pobreza ou exclusão segundo um relatório internacional, um país de economia retraída à beira dos 4%, em que os jovens ou emigram ou são uma geração adiada, os que querem estudar não o podem fazer, as liberdades começam a ser cerceadas, o Estado não cumpre a função social inscrita na Constituição, os cortes viram "poupanças" e o povo, desiludido, desesperançado e amargurado mantém-se à tona fazendo do humor e chiste à política a sua bandeira e da "Grândola Vila Morena" o seu hino.
Impressiona saber que pelos cemitérios das grandes cidades há corpos vertidos nas valas, não por tradição fúnebre mas por falta de dinheiro que possa pagar o serviço de ter quatro simples tábuas no leito pós morte. Não pelo desconforto de um corpo que regressa ao pó da terra, mas pelo significado da extrema pobreza que fere as tradições cultuais e religiosas de um povo e que deixará, talvez, a revolta na devoção dos que ficam.
Portugal está puído mas não vejo artesãos que lhe possam deitar os remendos!
É público o corte nos medicamentos essenciais, da pressa com que se despacha para casa um doente a meia alta numa negação evidente ao direito à saúde. Há também "poupanças" nas escolas mas que se amenizam na juventude tolerante dos alunos e se agravam no stress continuado dos professores.
Neste mês a "poupança" expressa nos recibos de vencimentos ou reformas aumentou a indignação e a ginástica contabilística das famílias.
A repetitiva força renovadora da Primavera não abrange o reino em que vivemos! Nela viceja o que em nós morre, nela se acentuam as cores que em nós esmorecem.
Só há um caminho e o único que conheço é apear este grupo de impreparados arvorados em deuses de salvação nacional. É uma atitude radical? Será, sem dúvida, mas será talvez a única maneira de salvar a dignidade de uma nação com história, impedir a emigração e suicídio de um povo, de banir a desilusão sem viver na ilusão, de pensar global mas agir local.
E pelos recortes da Ilha também não vamos bem e os desmandos começam a perturbar as hostes devotas do regime.
As "poupanças" forçadas estão por todos os concelhos: nas estradas esburacas, no lixo acumulado em contentores, nos caminhos municipais arruinados de matagal, miradouros lixados por que não limpos e cuidados, nas frestas que o cimento cede à teimosia das humidades e até no bolor que o povo simples vai descobrindo nos políticos. Precisamos de aproveitar o iodo, o iodo atlântico da Liberdade.
Fevereiro de 2013 ficará nos anais da História com as palavras "renúncia" e "resignação". As renúncias não foram as necessárias e é tempo de acabar com a atitude resignada de quem se deixa explorar por quem não vale um coelho esfolado…
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