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domingo, julho 05, 2015

Entre aflitos e aliviados

“Em Portugal, as pessoas são imbecis ou por vocação, ou por coacção, ou por devoção.”
Miguel Torga, Diários 1948
Poucos foram os que não reagiram aos “alívios” de um magistrado da Nação,
sobre a privatização da TAP. O que para a maioria é sinal de discórdia e aflição é assim um lenitivo para outros. Mas não foi o único alívio ou invocação já que em Maio de 2013 atribuía a Nossa Senhora de Fátima o bom termo da 7ª avaliação da troika para em Abril passado agradecer a Deus a rede de instituições de solidariedade e cantinas take-away sociais que possuímos, graças a pobreza gerada por políticas cegas.
Neste país é moda aliviar os serviços públicos a favor dos privados, a preço da pataca, fazendo o eco um vice que corre mundo, graças aos contribuintes, falando no nome de Portugal e gritando “vender, vender, vender”. Outro personagem que se sentiu aliviado em Fevereiro de 2003 atribuindo à Senhora de Fátima o facto da maré negra do “Prestige” ter escolhido as costas espanholas em vez das portuguesas.
Também a ministra da agricultura num período de seca invocou poderes divinos esperando que chovesse; mas logo acrescentou de que persistiria na sua fé apesar da canícula.
Podemos então concluir que a maioria da classe política não acredita nas suas aptidões de simples humanos e, quando mais lhe convém, banaliza o que deve ser de foro íntimo.

- Em Espanha vigora desde o dia 01 deste mês a lei que os nuestros hermanos apelidam de “lei da mordaça” e que consiste numa série de restrições. Não se pode fotografar polícias (lembram-se de Guimarães, no futebol?), não há manifestações em frente ao parlamento, não se pode impedir um despejo selvagem de uma família infeliz a quem o Estado tira a habitação coercivamente, não se pode protestar em varandas de prédios ou terraços, não se pode opor resistência às forças policiais sentando-se pacificamente no chão e também não se pode incitar, nas redes sociais, ao protesto ou à manifestação. Deve haver mais alíneas de certeza pois o instinto fascista-liberal não se contenta com meias dúzias.
   Será que dará tempo, até ao fim da legislatura, que se aprove em Portugal lei similar?

- Não sei qual será o resultado do referendo na Grécia. Sei que me sinto mais grega que portuguesa, neste momento.
   Dos 240 mil milhões que a Grécia recebeu ao longo de anos de intervenção, apenas pôde aplicar 10% nas suas reformas internas e dinamização económica porque o restante capital alimentou bancos estrangeiros e pagou juros usurários a instituições.
Hoje, e ainda que digam que o governo grego recuou, é a Europa que se aflige, que treme, que faz contas, são os dirigentes europeus que temem dizer nos seus países o quanto custará a capitulação da Grécia. Chamar recuo à salvaguarda dos direitos de um povo, é vergonhoso.
E nas notícias diárias vemos quem cede e recua, oferendo prolongamentos, perdões, taxas acessíveis, mudando a voz grossa da infantilidade para uma voz mais serena de maturidade.
Lá como cá, os povos não devem estar de joelhos perante políticas que não servem a democracia ou o voto. Não é possível deitar um país abaixo em quatro meses ou em seis anos.
É preciso desenrolar a História e reconhecer os erros.

Maria Teresa Góis


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