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domingo, agosto 02, 2015

Em lume brando

“O oportunismo é, porventura, a maispoderosa de todas as tentações…”
Agostinho da Silva


A folha pautada do bloco, ainda em branco, tem de ser preenchida.

Em plena “silly season”, a morrinha húmida que vai caindo transforma o ar numa sauna abafada, doentia. O dia cinzento não lembra o Verão e os pássaros, sempre tão esvoaçantes e ruidosos, andam nas bagas de folhado, nas amoras túrgidas precocemente adocicadas por este tempo quente. Pesa na atmosfera uma natureza adormecida…
Já a noite se enche de sons. Neste fim-de-semana toda a Ilha borbulha e se agita, sacode e remexe, em eventos de Verão, sem horas nem tempo que não seja o das férias, o da cerveja ou mesmo o do engate.
Engatados estarão os governos; o regional porque nem passou, em cem dias, pelo estado de graça e o nacional porque não sai do estado da desgraça. É também engate o assédio político e tendencioso dos telejornais, debates, mesas redondas e afins. O tempo eleitoralista promete horizontes risonhos, fartos, filhos de cofres cheios e pleno emprego. Os pobres deixam essa qualidade e passam a remediados temporários da ilusão, os desempregados dependem dos fundos europeus, da falácia política, das estatísticas balanceadas e anedóticas.
Charlot dizia “Somos todos amadores. Não vivemos o suficiente para podermos ser outra coisa.” Grande lição!
Agosto depressa passará porque este ano “outros valores mais altos se levantam” e adivinho que o tempo de descanso se converterá num tempo de bravatas e liças de oratórias cheias de energia.
É capaz de encapotar mais um desaire, já iniciado, na colocação de professores, fará esquecer que este governo tenciona gastar, dar do que é de todos, cinquenta e três (53) milhões ao ensino privado, afogando ainda mais a Escola Pública na qual prevalece a austeridade com redução de estabelecimentos, de professores de ensino especial, aumento de número de alunos por turma, falta dos mínimos exigíveis à eventual higiene, constrangimentos de verbas nas cantinas que deveriam assegurar refeições equilibradas e saudáveis, para além do espectro da dispensa do pessoal dito excedente.
Da saúde temos as notícias nos casos do dia e da semana e apenas refiro que li, hoje, que 15% das sete (7) milhões de receitas prescritas não são levantadas nas farmácias. E quantas serão aviadas pela metade?
Na ética do país sucedem-se os casos, avolumam-se na enorme secretária de um super juiz, vão alimentando capas de periódicos e pasquins, notícias bombásticas na televisão. E seria este o tal período de silly season…
Resta-me a esperança de que o povo não é insensível nem tapado e se o oportunismo não for a mola poderosa das intenções, havemos de dar a volta e ressurgir na estação mais bela do ano que é o Outono, porque mais colorida e poética.


Maria Teresa Góis


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