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quinta-feira, outubro 07, 2010

prémio Nobel Literatura, 2010 - MARIO VARGAS LLOSA


"...Eu me apaixonei por Lily feito um bezerro, a forma mais romântica de se apaixonar - também se dizia queimar feito um tição -, e naquele verão inesquecível me declarei três vezes a ela. A primeira, depois da matinê de domingo, no balcão do Ricardo Palma, aquele cinema que ficava no Parque Central de Miraflores, e ela me disse que não, porque ainda era muito nova para ter namorado. A segunda, na pista de patinação inaugurada justamente naquele verão perto do Parque Salazar, e ela também não me aceitou, precisava pensar, porque, por mais que gostasse um pouquinho de mim, seus pais lhe pediram para não arrumar namorado antes de terminar o quarto ano e ela ainda estava no terceiro. E a última, poucos dias antes da grande confusão, no Cream Rica da Avenida Larco, enquanto tomávamos um milk-shake de baunilha, e ela, é claro, disse outra vez que não, para que ia dizer que sim se já parecíamos namorados do jeito que estávamos. Não nos colocavam sempre juntos na casa da Marta, quando jogávamos verdade ou conseqüência? Não nos sentávamos juntos na praia de Miraflores? Ela não dançava comigo mais do que com qualquer outro garoto, nas festas? Para que, então, ia dar formalmente um sim se todo Miraflores já nos considerava namorados? Com sua pinta de modelo, olhos escuros e marotos e uma boquinha de lábios carnudos, Lily era a coqueteria em forma de mulher."

"Travessuras da Menina Má" - Mario Vargas Llosa (1936-)

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