Quando em 1973 vim viver para o Porto Moniz, na altura um meio pequeno, hoje ainda rural, salpicado de casas pequenas sem luz e sem água, de poios cultivados e vizinhos curiosos e afáveis.
A poucas dezenas de metros morava a Ti Antónia, figura venerável, xaile negro, coçado, saias compridas, às vezes descalça na poeira do chão, bordão de cana em cada mão, cara rosada e rugosa, emoldurada de cabelos brancos que, num ápice, desapareciam no puxar rápido do lenço preto. Os olhos azuis, por detrás de uma armação amarela, torta, de lentes gastas, pareciam maiores e mais vivos. Conversadora, mãe de muitos filhos paridos por casa, sobraram-lhe cinco.
Morreu, terá mais de vinte anos, já centenária.
Três filhas viviam com ela: a Francisca, a Rosa e a Paixão.
Habituamo-nos a ver “as mudas”, como todos lhes chamavam, no quotidiano.
Os meus filhos gostavam delas e do seu “pâpâpâ”, às vezes irritado, quando entre si brigavam.
A Rosa, numa voz trémula, envergonhada talvez por ser a única que balbuciava palavras, fazia questão de saudar “os meninos” com gestos mímicos, ganhando deles o título de “a muda que fala”.
Morreu Francisca, morreu Rosa, ficou Paixão.
A poucas dezenas de metros morava a Ti Antónia, figura venerável, xaile negro, coçado, saias compridas, às vezes descalça na poeira do chão, bordão de cana em cada mão, cara rosada e rugosa, emoldurada de cabelos brancos que, num ápice, desapareciam no puxar rápido do lenço preto. Os olhos azuis, por detrás de uma armação amarela, torta, de lentes gastas, pareciam maiores e mais vivos. Conversadora, mãe de muitos filhos paridos por casa, sobraram-lhe cinco.
Morreu, terá mais de vinte anos, já centenária.
Três filhas viviam com ela: a Francisca, a Rosa e a Paixão.
Habituamo-nos a ver “as mudas”, como todos lhes chamavam, no quotidiano.
Os meus filhos gostavam delas e do seu “pâpâpâ”, às vezes irritado, quando entre si brigavam.
A Rosa, numa voz trémula, envergonhada talvez por ser a única que balbuciava palavras, fazia questão de saudar “os meninos” com gestos mímicos, ganhando deles o título de “a muda que fala”.
Morreu Francisca, morreu Rosa, ficou Paixão.
Figura magra, habilhando trajes herdados de anos, às vezes com a novidade de uma soeira garrida e nova, passeava o seu vai-e-vem no Cabo Salão, onde morava. A todos saudava e todos a entendiam e conversavam por falas e gestos.
Enterra-se hoje às 14h00; faleceu no dia 07 e faria no dia 08 deste mês, 88 anos.
Enterra-se hoje às 14h00; faleceu no dia 07 e faria no dia 08 deste mês, 88 anos.
Maria Teresa Góis
09-02-2012
09-02-2012
E apesar dos pesares, o facto de serem mudas não as impediu de ganharem o nosso carinho e estima. Eram pessoas genuínas, simples e humildes.
ResponderEliminarQue agora possam todas juntar-se e descansar calmamente.