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domingo, abril 29, 2012

'Diazepam'*

No dia da assinatura da venda do BPN ao BIC, a preço de saldo, o indivíduo bem-disposto sentado ao lado do eng.º. Mira Amaral disse: "Os portugueses estão mais tristes que qualquer angolano de calções e chinelo no pé". Se, de início, tal declaração me pôs a paciência em franja certo é que hoje começo a alavancar (promover) que a ideia não é errada. Senão vejamos: o subsídio de Natal criado em 1972 por Marcello Caetano e os subsídios de férias e desemprego de 1974, andam na boca e na miragem dos portugueses. Depois da mística data de 13 de Setembro de 2013 para o regresso aos mercados temos agora o ano 2017 em vista, como ano da devolução.
Criados, os dois primeiros, para compensar os baixos salários então praticados, não se esperava que quarenta anos depois e mantendo o nível de salários sempre baixo para o grosso da população, o subsídio de férias e o de Natal, assim fossem "gasparizados".
Num país que hoje é governado por pessoas que não parecem conversar entre si, é fácil despedir, é barato e não precisa de aviso prévio.
O parto sigiloso da suspensão das reformas antecipadas demonstra a insegurança do Governo e o desprezo que têm pelos sindicatos e parceiros sociais.
O país, de dia para dia, empobrece, esvazia-se de quadros jovens que emigram à procura de um futuro, deixando a zona de desconforto a que não tencionam voltar. O país envelhece sem o acesso à saúde e aos medicamentos, anda ansioso, sem a capacidade de criar anticorpos às convulsões sociais previsíveis.
O Estado vende, a qualquer preço, os bens do país mesmo que sejam empresas de serviço público, sem retorno possível num qualquer futuro.
Não me admiraria de ver a estátua do Marquês de Pombal numa praça angolana ou o Fernando Pessoa de perna cruzada na China…
A depressão cerra fileiras e aos manifestantes de Abril, a pouco e pouco, vão-se juntando mais alguns descontentes e desiludidos, enchendo as praças e avenidas.
Outros, não aguentando o peso e o ritmo da vida sem a panaceia de um qualquer Diazepam, mesmo se genérico, põe termo aos problemas numa solução radical.
Reinstalou-se o medo, o falar à boca pequena, a denúncia, a pobreza, a mendicidade de um país intervencionado.
Não admira que o estado geral da população activa, que hoje já não tem subsídios ou garantia de emprego certo, somando os desempregados desesperados e os idosos onerados, precisem de sedativos que lhes mitiguem a ansiedade e a precariedade de vida, contrastando com os que auferem ou acumulam boas pensões.
O desemprego flagela famílias e as normas do governo atiram-nas para organizações de apoio alimentar, um "take-away dos pobres" como disse o ministro. Umas, porque outras hão-de recorrer a meios ilegais para garantir a sobrevivência.
Aproveitemos pois o 1.º de Maio para celebrar o trabalho e os trabalhadores, para fazer ouvir o direito ao trabalho e para descansar num feriado que dificilmente será retirado, gozando os verdes da Laurissilva, olhando o oceano azul, na descontracção do convívio e, por que não?, saboreando uma 'cuba libre'!

*Diazepam - fármaco da família dos bezodiazepínicos (ansiolítico, sedativo)

Diário de Notícias
 
MARIA TERESA GÓIS

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