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domingo, agosto 19, 2012

"Silly season"

"Posso mudar se me penso mudado"
Agostinho da Silva                                          
  É Agosto.
 Um Agosto quente e dormente convidativo de sombras, bebidas frescas, cavaqueira fácil e molezas diversas. Uma chuva perpendicularmente doce veio serenar ânimos e a Terra agradeceu.
Na Madeira foram muitos os que abdicaram das passeatas no areal e dos mergulhos atlânticos, pela sombra gratuita do bananal.
E a "silly season" é bode expiatório a um povo que não cresceu nem amadureceu, que esqueceu o amor-próprio e o sentido de cidadania do Estado - veja-se as férias dos deputados! Um povo que assiste ao patinhar no atoleiro político, em passos descontrolados e frustração cívica.
Tantos anos de inquietude e esperança volvidos e nada mudou. Há uma indiferença sem remorsos, uma maldade inocente que nos leva a caricaturar, ao detalhe, a arte nobre da política.
Não será por acaso que esta se reacende na "silly season", sob a espreguiçadeira do Verão. Afinam-se glotes para as conquistas, come-se carne assada com salada nas grandes reuniões e os salvadores da Pátria renovam promessas em propaganda ruidosa que violenta a boa-fé.
Por apenas três semanas não ouvimos falar em "crise". "troika" e "deficit". Não ouvimos mas o povo não teve férias nem mordomias, olhou o mar com o sufoco de um náufrago, olhou o céu com o medo do infinito e na montanha viu horizontes de precipício.
Atravessar a Ilha é uma dor de alma. A paisagem outrora fresca e verde da Encumeada é hoje uma negrura satânica que dói e incomoda, que se prolonga ao planalto da serra e acentua o somatório de cidadãos sem laços de cidadania.
Troam foguetes e girândolas no ar abafando o estalar doloroso das vagens torturadas pelo sol.
Machado de Assis (1939-1908) dizia que "a moral é uma, os pecados são diferentes".
Na verdade, na vida real, o herói passa de mito a simples mortal enquanto o diabo esfrega um olho…
Que a "season" consentida acabe e despertem as consciências, reagindo aos direitos sonegados e à violência imposta, se bem que não para todos.

Maria Teresa Góis

Diário de Notícias

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