Estou triste...
Somos um povo roubado: na acreditação política, na segurança de vida...
Maria Teresa Góis
"Sim, temos paz social. A paz de um sepulcro do Tamanho da pátria."
Miguel Torga in: Diário, 22/01/1962
Miguel Torga in: Diário, 22/01/1962
Estou triste, macambúzia, aborrecida. Não sei se será desta canícula perene, peganhenta que não combina com os genes invernosos, próprios de quem nasceu em Dezembro.
Olho à volta e vejo um povo que sofre os tormentos do vime, escaldado e torcido pela condição de vida de um jugo imposto e de impostos.
Começa a ouvir-se um clamor no País, o povo quer associar-se, protestar, quebrar o jejum voluntário da liberdade às promessas políticas, ao mel da bajulação. Finalmente transferem o que sentem na pele para a sua própria consciência.
Onde pára a claridade futura?
A semana tem sido agitada, pródiga em lógicas ministeriais, todas de plano inclinado, num mar sem pé, num mar de angústias onde só os tubarões sobrevivem e dão conselhos e, obviamente, são insultados, vaiados e apelidados no léxico mais puro.
O pessimismo luso parece já não admitir a esperança e a beatitude vegetativa deste último ano parece abanar. Até quando andará o português em levitação? Quando descerá à realidade da indignação? Quando veremos na rua a face colectiva da Liberdade?
Pela Madeira agitam-se as águas laranjas, um sumo que precisa ser mexido para conservar as vitaminas da social-democracia. No continente correm outros néctares, de várias cores, tentando evitar que o purgatório da esperança que temos passado não desagúe velozmente no inferno da incerteza.
Emigram os jovens, padecem os idosos; agendam-se manifestações de rua que deveriam abranger o povo da abstenção, o dos desempregados, o dos empobrecidos e o povo que vê, dia após dia, os seus direitos confiscados e espezinhados. Não há pena de morte em Portugal mas há a pena de Vida. Certo que nascemos para morrer, mas que a dignidade social medeie estes dois pólos.
Somos um povo roubado: na acreditação política, na segurança de vida, roubado nos salários e pensões de direitos adquiridos e descontados, roubado no sorriso e futuro das novas gerações, na disposição e ânimo ou, como diria Torga "somos, socialmente, uma colectividade pacífica de revoltados."
Não, afinal não estou triste, estou farta!
N- À data em que escrevo ainda não sei qual o impacto das manifestações agendadas. Espero que tenham sido coesas, civilizadas e muito, muito participadas.
Não !! Não é bajulação, até porque não tenho jeito para isso e, tu não mereces bajulações. Digo-te francamente o que sinto:-
ResponderEliminarNão retiro uma única vírgula às tuas palavras e, compartilho completamente os teus anseios.
Estamos no lodaçal e, só com sangue sairemos dele.Este povo de brandos costumes acomoda-se demasiado às circunstâncias. Será que voltaremos novamente às conquistas a ferro e fogo? Já te admirava e, cada vez mais te admiro a coragem de uma mulher que vê o seu país cair de podre no abismo. Recebe o meu abraço sincero e que tua mente esteja sempre lúcida para lembrar a este pobre povo que já é tempo de dizer BASTA . Bem haja TUKA.