Coimbra, 3 de Junho de 1963"Morreu o Papa.Mas um Papa singular, que usou o nome dignatário de João XXIII e se manteve fiel ao anodino de Ângelo Roncalli, cujo rosto de via primeiro que o esplendor da tiara, por quem neste momento os crentes e os ateus do mundo inteiro. Um Papa que apontava o céu e mostrava a terra, que falava de Deus a pensar no Homem, que carregava a cruz da infalibilidade com a bonomia dum céptico, que semeava na alma dos próprios laicos o trigo da santidade, que abençoou todas as revoluções justas da História, cheio de saber que as injustas não são revoluções... Bom, daquela bondade que o instinto colectivo adivinha e nenhum artifício imita, antes que nas suas palavras brilhasse a inteligência que continham, reluzia nela a sinceridade que as ditava. Os impulsos afectivos saíam-lhe do coração tão espontâneos e certeiros, tão justos e oportunos, tão puros e amplos, que dá vontade de escrever que ele foi o amor ecuménico dos Evangelhoa ao natural."
Miguel Torga
Nota da Redacção - Miguel Torga era ateu....
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