“Em Portugal, as pessoas são imbecis ou por vocação, ou por coacção, ou por devoção.”
Miguel Torga, Diários 1948
Poucos foram os que não reagiram aos “alívios” de um magistrado da Nação,
sobre a privatização da TAP. O que para a maioria é sinal de discórdia e aflição é assim um lenitivo para outros. Mas não foi o único alívio ou invocação já que em Maio de 2013 atribuía a Nossa Senhora de Fátima o bom termo da 7ª avaliação da troika para em Abril passado agradecer a Deus a rede de instituições de solidariedade e cantinas take-away sociais que possuímos, graças a pobreza gerada por políticas cegas.
Neste país é moda aliviar os serviços públicos a favor dos privados, a preço da pataca, fazendo o eco um vice que corre mundo, graças aos contribuintes, falando no nome de Portugal e gritando “vender, vender, vender”. Outro personagem que se sentiu aliviado em Fevereiro de 2003 atribuindo à Senhora de Fátima o facto da maré negra do “Prestige” ter escolhido as costas espanholas em vez das portuguesas.
Também a ministra da agricultura num período de seca invocou poderes divinos esperando que chovesse; mas logo acrescentou de que persistiria na sua fé apesar da canícula.
Podemos então concluir que a maioria da classe política não acredita nas suas aptidões de simples humanos e, quando mais lhe convém, banaliza o que deve ser de foro íntimo.
- Em Espanha vigora desde o dia 01 deste mês a lei que os nuestros hermanos apelidam de “lei da mordaça” e que consiste numa série de restrições. Não se pode fotografar polícias (lembram-se de Guimarães, no futebol?), não há manifestações em frente ao parlamento, não se pode impedir um despejo selvagem de uma família infeliz a quem o Estado tira a habitação coercivamente, não se pode protestar em varandas de prédios ou terraços, não se pode opor resistência às forças policiais sentando-se pacificamente no chão e também não se pode incitar, nas redes sociais, ao protesto ou à manifestação. Deve haver mais alíneas de certeza pois o instinto fascista-liberal não se contenta com meias dúzias.
Será que dará tempo, até ao fim da legislatura, que se aprove em Portugal lei similar?
- Não sei qual será o resultado do referendo na Grécia. Sei que me sinto mais grega que portuguesa, neste momento.
Dos 240 mil milhões que a Grécia recebeu ao longo de anos de intervenção, apenas pôde aplicar 10% nas suas reformas internas e dinamização económica porque o restante capital alimentou bancos estrangeiros e pagou juros usurários a instituições.
Hoje, e ainda que digam que o governo grego recuou, é a Europa que se aflige, que treme, que faz contas, são os dirigentes europeus que temem dizer nos seus países o quanto custará a capitulação da Grécia. Chamar recuo à salvaguarda dos direitos de um povo, é vergonhoso.
E nas notícias diárias vemos quem cede e recua, oferendo prolongamentos, perdões, taxas acessíveis, mudando a voz grossa da infantilidade para uma voz mais serena de maturidade.
Lá como cá, os povos não devem estar de joelhos perante políticas que não servem a democracia ou o voto. Não é possível deitar um país abaixo em quatro meses ou em seis anos.
É preciso desenrolar a História e reconhecer os erros.
Maria Teresa Góis