As ilhas do Atlântico Norte foram conhecidas e exploradas por vários povos mediterrânicos, a partir de meados do século XIV, na qual também pelos portugueses. As Canárias foram as primeiras a serem reconhecidas, pela sua proximidade com a costa de África, seguindo-se as do Porto Santo e da Madeira, e as dos Açores ou as “terceiras”, como por vezes referem os cronistas desta época.
A aventura portuguesa pela conquista das praças marroquinas e o aumento da navegação no Atlântico por parte dos castelhanos, coincidindo com a ocupação das ilhas Canárias por estes, a coroa portuguesa sentiu a necessidade de “ocupar” e povoar os arquipélagos já conhecidos.
A aventura portuguesa pela conquista das praças marroquinas e o aumento da navegação no Atlântico por parte dos castelhanos, coincidindo com a ocupação das ilhas Canárias por estes, a coroa portuguesa sentiu a necessidade de “ocupar” e povoar os arquipélagos já conhecidos.
O primeiro (?) «contacto com o arquipélago da Madeira foi feito pela designada “Armada do Algarve”, tendo sido escolhidos para esta missão dois distintos escudeiros do infante D. Henrique, João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz, que se deslocaram ao Porto Santo em 1418» e no ano seguinte à Madeira, procedendo ao seu «reconhecimento oficial para a coroa portuguesa». Deste reconhecimento da Ilha da Madeira foram «recolhidas amostras das respectivas águas e madeiras», segundo o Coronel Rui Carita (A Arquitectura Militar na Madeira nos Séculos XV a XVII).
O autor anterior citado, mais refere que o «rei D. João I ordenou o povoamento do arquipélago da Madeira entre 1420 e 1425. Este foi dividido em três capitanias: Funchal e Machico, na Madeira, doadas a João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz, escudeiros do infante D. Henrique, mestre da Ordem de Cristo; e a ilha do Porto Santo concedida a Bartolomeu Perestrelo, fidalgo da casa do infante D. João, mestre da Ordem de Santiago da Espada».
O autor anterior citado, mais refere que o «rei D. João I ordenou o povoamento do arquipélago da Madeira entre 1420 e 1425. Este foi dividido em três capitanias: Funchal e Machico, na Madeira, doadas a João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz, escudeiros do infante D. Henrique, mestre da Ordem de Cristo; e a ilha do Porto Santo concedida a Bartolomeu Perestrelo, fidalgo da casa do infante D. João, mestre da Ordem de Santiago da Espada».
O povoamento e a origem geográfica dos povoadores do arquipélago madeirense, sempre estiveram rodeados de brumas iguais às que esconderam as ilhas no oceano Atlântico por milhares de anos dos povos europeus e africanos. Podemos atestar esta premissa pelas dificuldades dos historiadores, não só, pela falta de documentação, como pelas descrições dos cronistas, por vezes ambíguas e pouco coincidentes. Todavia, o povoamento da Madeira teve por base os companheiros de Zarco e de Tristão, que se encontravam no Algarve ao serviço do infante D. Henrique. Por outro lado o povoamento do Porto Santo teve assento em Bartolomeu Perestrelo, que segundo os cronistas, acompanhou Zarco e Tristão na segunda viagem de reconhecimento ao Arquipélago.
A falta de documentação dificulta o elucidar da origem dos povoadores da ilha de “São Brandão” ou Porto Santo. «Não é possível saber-se a forma como teve lugar o primeiro assentamento e a origem dos colonos» desta ilha, segundo Alberto Vieira (Porto Santo - Breve Memória Histórica - Centro de Estudos de História do Atlântico). «Insiste-se numa forte presença algarvia e na sua origem fidalga», segundo este, e que «apenas por um documento de 1529 sabe-se que a ilha começou a povoar-se com sete ou oito homens». Para percebermos a complexidade do povoamento do Porto Santo basta apenas “conhecer” que após o assalto perpetrado por corsários argelinos a esta ilha em 1617, «ficou quase deserta». Segundo o Tenente-Coronel Alberto Artur Sarmento, «os argelinos levaram 900 cativos, só ficando, 19 homens e 7 mulheres. Isto levou a Coroa a atribuir, em 13 de Agosto de 1619, a Martim Mendes de Vasconcellos a difícil tarefa de repovoar a ilha com gentes do Porto da Cruz, Caniçal e Santa Cruz». Assim podemos concluir que, os actuais habitantes desta ilha tiveram uma forte ligação e ascendência aos povoadores da capitania de Tristão Vaz e vice-versa.
Relativamente à Ilha da Madeira, Francisco Alcoforado, o mais antigo cronista escreve, «que os primeiros companheiros de Zarco seriam principalmente do sul do País, mais concretamente de Lagos». Mas, a grande parte dos povoadores que nos anos seguintes se deslocou para a Madeira veio em grande número, do Norte do continente português, possível área de origem da família de Zarco e também da de Tristão Vaz. Tal como os dias de hoje e fazendo um paralelo com a diáspora madeirense, onde em regra emigra o “pai ou irmão mais velho”, logo lhe segue os restantes familiares.
É «comum atribuir-se a proveniência algarvia aos primeiros e principais povoadores que desencadearam a ocupação da ilha», segundo, Luís de Albuquerque e Alberto Vieira, na sua obra, “O Arquipélago da Madeira no Século XV”. Segundo estes, «essa ideia filia-se na tradição, que corre no Algarve, da participação das suas gentes na gesta expansionista, e na expressão de Jerónimo Dias Leite, ‘muitos do Algarve’». Ainda mais referem que, lhes parece apressada esta concepção, «uma vez que faltam provas que a corroborem», e que numa «listagem dos primeiros povoadores referidos nos documentos e crónicas a presença nortenha é muito superior à algarvia (64% para 25%); por outro lado os registos paroquiais da freguesia da Sé, no período de 1539 a 1600, corroboram esta conclusão, uma vez que os nubentes oriundos de Braga, Viana e Porto representam metade do total; enquanto os provenientes de Faro não ultrapassam os 3%». Partindo da análise destes dados retirados destes mesmos registos (1539 e 1600), «chega-se à conclusão que metade da população não nascida na Madeira era originária do Norte do País», e que a «situação do século anterior» (século XIV) «não deve ter sido por certo diferente».
Assim, Luis de Sousa Melo, antigo Director do Arquivo Regional da Madeira, igualmente é da mesma opinião. Numa «tentativa de aproximação com base nos registos de casamento da paróquia da Sé», nas mesmas datas (1539 a 1600), foi-lhe «possível averiguar» que, para este período, «foi da província do Minho, com os distritos de Braga e Viana do Castelo, que a maioria dos recém-chegados era natural: 54,4% - muito longe dos 13,2% dos do Douro Litoral, mais ainda dos 8,3% da Estremadura, a que se seguiram os naturais das Beiras com 5%, os de Trás-os-Montes e Alto-Douro com 4,5%, depois os do Algarve com 3,7%, os do Alentejo com 2,5%, e por fim os do Ribatejo com 1,2%. (Fonte, “Presença Açoriana nos Registos Paroquiais do Funchal 1761 - 1860”).
Assim, Luis de Sousa Melo, antigo Director do Arquivo Regional da Madeira, igualmente é da mesma opinião. Numa «tentativa de aproximação com base nos registos de casamento da paróquia da Sé», nas mesmas datas (1539 a 1600), foi-lhe «possível averiguar» que, para este período, «foi da província do Minho, com os distritos de Braga e Viana do Castelo, que a maioria dos recém-chegados era natural: 54,4% - muito longe dos 13,2% dos do Douro Litoral, mais ainda dos 8,3% da Estremadura, a que se seguiram os naturais das Beiras com 5%, os de Trás-os-Montes e Alto-Douro com 4,5%, depois os do Algarve com 3,7%, os do Alentejo com 2,5%, e por fim os do Ribatejo com 1,2%. (Fonte, “Presença Açoriana nos Registos Paroquiais do Funchal 1761 - 1860”).
Escreve, Alberto Vieira no seu artigo, “O Infante e a Madeira: Dúvidas e Certezas - Centro de Estudos de História do Atlântico”, ainda mais que «a mesma ideia é reafirmada por recente estudo em que se analisa a situação das demais freguesias da Madeira no século XVI», e mais uma vez são «remetidos para o norte do país, onde se destacam Braga (11%), Viana do Castelo (8,4%)».
Segundo o autor supracitado, «o povoamento da Madeira é um processo faseado, em que intervêm colonos oriundos dos mais recônditos destinos, e que de todo o Reino surgem gentes empenhadas nesta experiência tentadora, é de prever a confluência de várias localidades, em especial as áreas ribeirinhas - Lisboa, Lagos, Aveiro, Porto e Viana -, adestradas no arroteamento de terras incultas». Se do Algarve partiram «muitos dos apaniguados da casa do infante, com uma função importante no lançamento das bases institucionais do senhorio, não é menos certo que do Norte de Portugal, nomeadamente da região de Entre-Douro e Minho, provêm os cabouqueiros necessários ao desbravamento da densa floresta e preparar o solo para as culturas mediterrânicas - cereal, vinha, cana-de-açúcar e pastel».
Na realidade, o Norte de Portugal, nos séculos XIV e XV era a região do país com maior densidade populacional por um lado e por outro, esta região sempre teve uma «permanente vinculação à economia madeirense». No «reinado de D. João II» (1481 a 1495), escreve Eduardo C. N. Pereira nas Ilhas de Zargo, «os mercadores de Guimarães navegavam entre os arquipélagos dos Açores, Madeira, Continente e Flandres com naus do Porto, Vila do Conde, Viana, Azurara e Aveiro, negociando açúcares, pimenta... panos de baetilha, chapéus, linhos, etc. Guimarães era sede de um vasto termo e extensíssima comarca de 30 concelhos e chave do comércio com os concelhos interiores de Entre-Douro e Minho e Trás-os-Montes». A Madeira atraiu a partir de meados do século XV uma vaga de forasteiros, mercê da prioridade na ocupação e na exploração do açúcar, resultante dos circuitos comerciais madeirenses com o Mar Mediterrânico e Norte da Europa. Segundo Alberto Vieira, «a coroa facultava a entrada e a fixação de italianos» (florentinos e genoveses), «flamengos, franceses e bretões, por meio de privilégios especiais, como forma de assegurar um mercado europeu para o açúcar». Luis de Sousa Melo, (Presença Açoriana nos Registos Paroquiais do Funchal 1761 - 1860) mais acrescenta que, «a introdução da cana sacarina, a construção das levadas transportadoras de água, e dos engenhos fabricadores de açúcar trouxeram gentes das mais variadas origens e condições sociais, desde os escravos “oxipticios” ou ciganos até aos cultivadores, comerciantes, rendeiros, produtores e exportadores, galegos uns, genoveses e flamengos outros».
«Havia judeus na Madeira no século XV», refere o Elucidário Madeirense, «tendo muitos deles, com vontade ou sem ela, abraçado o cristianismo, depois do bárbaro decreto da expulsão dos filhos de Israel, publicado por D. Manuel em Dezembro de 1496». Em 1461 na Madeira, «revela a petição dirigida ao infante uma certa má vontade contra os israelitas, má vontade que só bem claramente se manifestou mais tarde, quando a intolerância e o fanatismo de D. Manuel vieram abrir caminho ás perseguições de que foram vitimas os membros dessa raça proscrita, ainda mesmo quando aceitavam o baptismo, para evitar a expulsão do país». Ainda no século XVII, os cristãos-novos “Fintados pelo Perdão de 1605”, era-lhes cobrado a “finta”, «segundo instruções dadas por Filipe III» ao «licenciado António Ferreira, encarregado desta cobrança», neste Arquipélago, e só «mulheres de nação casadas com ou viúvas de cristãos-velhos de quatro costados que viviam honestamente, estavam isentas», segundo Nelson Veríssimo, (Relações de Poder na Sociedade Madeirense do Século XVII).
Os 60 anos de “domínio filipino”, entre 1580 e 1640, e as ligações comerciais com as ilhas Canárias, acrescentaram outras gentes oriundas da Península Ibérica “não portuguesa”.
Os 60 anos de “domínio filipino”, entre 1580 e 1640, e as ligações comerciais com as ilhas Canárias, acrescentaram outras gentes oriundas da Península Ibérica “não portuguesa”.
Regista-se por fim, a presença de ingleses, que adquiriram um lugar relevante no arquipélago da Madeira a partir do século XVII. «Os flamengos os primeiros que se entregaram aqui a operações bancárias» e também comerciais, «seguindo-se-lhes os ingleses que, como é sabido, adquiriram grande proponderancia nos negocios da Ilha, do meado do seculo XVII em diante», segundo o Elucidário. Estes obtiveram notável influência e predomínio, em vários ramos de comércio na ilha da Madeira, estando inteiramente na sua dependência a exportação dos vinhos madeirenses, designadamente para as colónias britânicas.
A «colónia inglesa» na Madeira, escrevem os autores do mesmo Elucidário, «não chegou nunca a radicar simpatias no nosso meio, a pesar do predomínio e da influencia de que gozava. O orgulho de raça, o isolamento que quasi sempre procurou guardar, a altivez com que em geral tratava os naturais, as raras manifestações de filantropia ou benemerencia em favor da terra que a tornou opulenta, são as principais causas de não ter criado um ambiente que lhe fosse propicio e a tornasse benquista aos olhos dos madeirenses». Contudo, «não é também de estranhar que […] insulares, vivendo no isolamento do oceano e sem espírito algum de reacção contra as influencias estranhas, se deixassem seduzir pelos costumes, tendências e predilecções de estrangeiros, que vinham dos grandes centros europeus e eram considerados como os verdadeiros protótipos de um povo civilizado, sendo certo que essas influencias exerceram em alguns pontos uma acção muito benéfica» no meio madeirense, «especialmente nas relações sociais e no convívio elegante das chamadas pessoas de sociedade». Por outro lado, «a um numero relativamente grande de súbditos inglêses se deve o estudo de certos ramos de historia natural» do arquipélago da Madeira, existindo «trabalhos muito valiosos e de profunda e demorada pesquisa cientifica, que não podem nem devem ser esquecidos pelos madeirenses».
A «colónia inglesa» na Madeira, escrevem os autores do mesmo Elucidário, «não chegou nunca a radicar simpatias no nosso meio, a pesar do predomínio e da influencia de que gozava. O orgulho de raça, o isolamento que quasi sempre procurou guardar, a altivez com que em geral tratava os naturais, as raras manifestações de filantropia ou benemerencia em favor da terra que a tornou opulenta, são as principais causas de não ter criado um ambiente que lhe fosse propicio e a tornasse benquista aos olhos dos madeirenses». Contudo, «não é também de estranhar que […] insulares, vivendo no isolamento do oceano e sem espírito algum de reacção contra as influencias estranhas, se deixassem seduzir pelos costumes, tendências e predilecções de estrangeiros, que vinham dos grandes centros europeus e eram considerados como os verdadeiros protótipos de um povo civilizado, sendo certo que essas influencias exerceram em alguns pontos uma acção muito benéfica» no meio madeirense, «especialmente nas relações sociais e no convívio elegante das chamadas pessoas de sociedade». Por outro lado, «a um numero relativamente grande de súbditos inglêses se deve o estudo de certos ramos de historia natural» do arquipélago da Madeira, existindo «trabalhos muito valiosos e de profunda e demorada pesquisa cientifica, que não podem nem devem ser esquecidos pelos madeirenses».
Este grupo europeu, teve uma importância primordial na formação de uma população madeirense. O Arquipélago é o primeiro espaço geográfico, onde não existia outros povos a ser colonizado por europeus fora da Europa. A sua presença nestas ilhas do Atlântico tornou pouco expressiva a presença de outros grupos étnicos não europeus. Destes apenas se salientam os africanos (mouros, negros, e guanches ou canários), que surgiram nas ilhas sob à condição servil, onde desempenharam um importante papel relacionado com o arranque da economia açucareira, nomeadamente na Madeira. Os autores do Elucidário Madeirense escrevem que, «foi o solo da Madeira regado pelo suor dos escravos negros, mouros e mulatos. Nos fins do século XV, havia nesta ilha o número aproximado de dois mil escravos, que era bastante avultado ao lado da população europeia, que então orçaria por quinze a dezoito mil habitantes. A distribuição das terras pelo sistema das sesmarias favoreceu o estabelecimento de muitas ‘fazendas povoadas’, em que ‘os primitivos povoadores’ viviam com as suas familias e escravos, tornando-se em breve os proprietários das mesmas terras e deixando o cultivo delas aos colonos e escravos». Por 1490, proibiu-se a residência na Madeira aos indivíduos oriundos de Grã Canária, Palma, Tenerife e Gomera, mas em 1515 foi esta ordem revogada para «aqueles que exercessem o oficio de mestres de açucares».
Tudo indica que, deste grupo os preferidos seriam os mouros. O Tenente-Coronel Alberto Artur Sarmento publicou no "N.º 1983 do artigo Heraldo da Madeira" um artigo interessante acerca dos mouros na Madeira, do qual é igualmente transcrito no Elucidário. Segundo este, «o mouro era mais trabalhador do que o escravo da Guiné e da Mina, por isso a preferência dos senhores das terras em importa-lo para as suas fazendas de cultivo. Este comercio escandaloso em que se entendiam de cá os donatarios, e das praças d’Africa os governadores, que ordenavam razias, originou o clamor do chefe dos mouros que lamenta em carta a D. Manoel, o que fazia Azambuja, apanhando a torto e a direito e de todas as classes, para enviar de contracto aos capitães da Madeira. É o que se depara nos Documentos arábicos copiados dos originaes da Torre do Tombo, 1790. Os mouros formaram núcleos importantes, reunindo-se em grupo ou bairro á parte, como o attesta a Mouraria, uma das ruas mais antigas do Funchal», [?] e «tiveram grande commercio nas villas, especialmente em Ponta do Sol e Santa Cruz. N’esta ultima mostrava-se ainda ha annos um retábulo existente na igreja parochial, onde figuravam escravos mouros usando um pequeno turbante afunilado, com uma ponta cahida, de que derivaram a carapuça do villão e a toalhinha pendente da cabeça, antigos trajes característicos da camponeza da Madeira. Dos mouros, a dolência dos cantares, mas a dança repisada é movimento de negro. Dos mouros as lengas-lengas serranas, os populares: lengi lengi o nevoeiro corriqueiro, a formiga que o seu pé prende. Entre as brumas, princezas encantadas, as historias de palácios e riquezas enthesouradas, ladrões e varas de condão, são influencias e assumptos do povo, migrados nesta corrente de longe subordinada. Dos mouros ainda o cuscuz, essa massa granulada de farinha de trigo, tão apreciada pelas classes pobres e que só a comem nas ocasiões solenes, com um naco de carne de porco, pelos baptisados e casamentos, não faltando o ramo de segurelha e coentro que encima o prato e o aromatisa. Vae-te p’ra Argel é uma praga popular que relembra o saque e captiveiro em terras da moirama».
Este grupo servil, surgiu com uma importância relevante na sociedade madeirense no século XV. O «seu peso gerou preocupação e tomou necessária a regulamentação dos seus movimentos e do seu espaço de convívio; daí a exigência dos nele incluídos usarem um sinal, de se recolherem à casa do senhor, ao mesmo tempo que se ordenou a explosão dos forros, com excepção dos canários». Ainda que «os escravos se encontrassem dispersos por toda a ilha» (da Madeira), segundo o Elucidário Madeirense, «nomeadamente no Funchal, Ponta do Sol, Machico e Curral das Freiras se constituíram importantes núcleos de população negra e mourisca, que entre si se foram cruzando e também misturando com os habitantes descendentes dos colonos continentais, diluindo-se e confundindo-se deste modo na população madeirense os traços característicos daquelas raças. Um numero, porém, considerável de indivíduos negros, mulatos e mouros conservou, até há poucos anos ainda, as linhas fisionómicas que distinguem os povos donde descendiam. Não é raro encontrar-se ainda alguns indivíduos com os traços bem acentuadamente definidos da raça» negra.
Nas décadas de 60 e 70 do século XX na Madeira, raramente se observava habitantes com características africanas, (excepto mouriscas), apenas visitantes ocasionais e tripulantes dos Navios que atracavam no Porto do Funchal. O regresso das gentes das ex-colónias, após a revolução dos cravos, e a necessidade de importar mão-de-obra do exterior face às grandes obras efectuadas na Madeira e Porto Santo, o espaço insular foi enriquecido com outras pessoas deste continente. Actualmente, e ao contrário do século anterior é possível ver no Arquipélago da Madeira, gentes dos quatro “cantos do mundo”.
Estudos genéticos recentes (que não são objecto deste artigo), realizados pelo Laboratório de Genética Humana, da Universidade da Madeira, coordenado pelo Biólogo madeirense, Hélder Spínola, permitiram a identificar perfil genético da população do Arquipélago, e não só, também de Portugal Continental e Arquipélagos dos Açores, Cabo Verde e S. Tomé, e também da Guiné. Tudo indica que esse “mesmo perfil” não foge à história das ilhas e as marcas das gentes que as habitam. Segundo estes estudos os habitantes do Arquipélago terão influências de cerca «10 a 15% de características genéticas africanas», muito parecidas com as do Algarve. Este trabalho teve igualmente uma «relação com outras áreas de investigação, como a História, a Arqueologia e a Antropologia».
Nos dias de hoje, a “força da tradição”, ainda domina a “premissa” que o Arquipélago da Madeira foi povoado unicamente por algarvios!
Nos dias de hoje, a “força da tradição”, ainda domina a “premissa” que o Arquipélago da Madeira foi povoado unicamente por algarvios!
in:madeira-gentes-lugares.blogspot.
Foi com muito prazer que li seu texto. Boa pesquisa.
ResponderEliminarTenho uma curiosidade muito especial pelas gentes e lugares da Madeira. Jamais pensei que uma "cubana" demonstrasse tanto gosto.
Também gosto da investigação sobre os povos das regiões onde passo bem como de seus lugares.
Por tal, fiz e, ainda faço parte duma comissão de toponímia cá do burgo. É interesante cada vez que apanhamos um fio da meada o vamos seguindo e, chegamos a uma conclusão.
Modestia à parte, já tenho recebido alguns comentários que me satisfazem,dos próprios naturais.Muitas das vezes tomamos por base coisas tão insignificantes que nos conduzem ao porto final.
Continue a divulgar a Madeira,pois quer queira quer não, será a sua terra.