Certa manhã
ia eu pelo caminho pedregoso,
quando, de espada desembainhada,
chegou o Rei no seu carro.
Gritei:
— Vendo-me!
O Rei tomou-me pela mão e disse:
— Sou poderoso, posso comprar-te.
Mas de nada lhe serviu o seu poder
e voltou sem mim no seu carro.
As casas estavam fechadas
ao sol do meio dia,
e eu vagueava pelo beco tortuoso
quando um velho
com um saco de oiro às costas
me saiu ao encontro.
Hesitou um momento, e disse:
— Posso comprar-te.
Uma a uma contou as suas moedas.
Mas eu voltei-lhe as costas
e fui-me embora.
Anoitecia e a sebe do jardim
estava toda florida.
Uma gentil rapariga
apareceu diante de mim, e disse:
— Compro-te com o meu sorriso.
Mas o sorriso empalideceu
e apagou-se nas suas lágrimas.
E regressou outra vez à sombra,
sozinha.
O sol faiscava na areia
e as ondas do mar
quebravam-se caprichosamente.
Um menino estava sentado na praia
brincando com as conchas.
Levantou a cabeça
e, como se me conhecesse, disse:
— Posso comprar-te com nada.
Desde que fiz este negócio a brincar,
sou livre.
Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera"
(1861-1941)
Acabo de tua impressionante poesia, armada em símbolicos personagens que bem poderiam formar um novo tipo de conto. Mas é poesia.
ResponderEliminarO símbolo,o menino com que termina, que quis te comprar... e que que podia comprar tudo - é a poesia, porque pode comprar tudo, mas como não serve aquilo que se compra, bom mesmo é o que se tem de graça - é a poesia, o menino que brincava...
Gostei muito, aliás seu sítio é espetacular. Gostaria que revisitasse os meus... Há quanto tempo!
São eles: http://franciscomigueldemoura.blogspot.com
http://cirandinhapiaui.blogspot.com
http://abodegadocamelo.blosppot.com
Sim, meu e-mail está diferente agora.
e-mail: franciscomigueldemoura@gamail.com
Com os aplausos e as saudações do poeta
FRANCISCO MIGUEL DE MOURA