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quinta-feira, abril 09, 2009

excerto de "O Mundo como Vontade e Representação"

"...Qualquer satisfação, o que vulgarmente se chama felicidade, é, na realidade, de essência sempre negativa, e de nenhum modo positiva. Não é uma felicidade espontânea e que chega de per si; deve ser sempre o cumprimento dum desejo.
Porquanto desejar, isto é, ter necessidade de alguma coisa é condição preliminar de todo gozo. Mas, com a satisfação cessa o desejo e, portanto, o prazer. A satisfação ou a felicidade, não pode, consequentemente, ser outra coisa senão a supressão duma dor, duma necessidade; pois a esta categoria pertencem, não apenas os sofrimentos reais, manifestos, como também qualquer desejo cuja importunidade nos perturba o repouso, além do tédio mortal que da existência nos faz um peso. E depois, como é difícil atingir um fim, chegar-se ao que quer que seja! Cada projecto nos opõe dificuldades e exige esforços sem conta; a cada passo se acumulam os obstáculos. E quando, finalmente, houvermos superado tudo e atingido a meta, que outro resultado teremos obtido afora o nos haver libertado duma dor ou dum desejo, isto é, de nos encontrar precisamente no mesmo ponto em que nos encontrávamos?
Dado directamente não é senão a necessidade, a dor. A satisfação e o gozo não podem ser conhecidos senão indirectamente, por meio da recordação do sofrimento e da recordação passada, os quais cessaram com a apresentação dos primeiros. Vem-se a isto que não sentimos, nem apreciamos suficientemente, os bens e as vantagens que possuímos de facto, parece-nos que devem estar em nós, porque só nos tornam felizes negativamente afastando-nos o sofrimento.
Não nos apercebemos do seu valor senão quando os perdemos, porque somente a necessidade, a privação, o sofrimento são positivos e se fazem sentir directamente. Eis porque a lembrança dos males passados, dissabores, doenças, pobreza, etc., nos é grata: é o único meio de provar o bem presente... "

Arthur Shopenhauer


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