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sábado, fevereiro 05, 2011

Os Supermercados

Os supermercados são os palácios dos pobres. Não são só os azarentos e os mal alojados, os que ao longo das gerações foram reduzindo os gastos da imaginação, que frequentam e, de certo modo, vivem o supermercado, as chamadas grandes superfícies. As grandes superfícies com a sua área iluminada e sempre em festa; a concentração dos prazeres correntes, como a alimentação e a imagem oferecida pelo cinema, satisfazem as pequenas ambições do quotidiano. Não há euforia mas há um sentimento de parentesco face às limitações de cada um. A chuva e o calor são poupados aos passeantes; a comida ligeira confina com a dieta dos adolescentes; há uma emoção própria que paira nas naves das grandes superfícies. São as catedrais da conveniência, dão a ilusão de que o sol quando nasce é para todos e que a cultura e a segurança estão ao alcance das pequenas bolsas. Não há polícia, há uma paz de transeunte que a cidade já não oferece.

Agustina Bessa-Luís, in 'Antes do Degelo'

1 comentário:

  1. São as catedrais/igrejas actuais do consumo, que substituiram todos os espaços do encontro interior com os outros e com a divindade. Bonita reflexão, mas precupante, porque estes espaços conduzem à alienação colectiva e dão a pertença ilusão de um encontro, mas que passado o seu efeito, eis o regresso à solidão e à falta de convívio nas cidades, nas famílias, nas igrejas e em todos os lugares destinados essa função.

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