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quarta-feira, maio 18, 2011

A Casa de Deus


I

Longos degraus tem a primavera
E uma mulher que desce dos outeiros

Traz no seu colo um ramo dessa casa
Festiva onde vem desaguar
O rio sagrado deste vento

No soalho o silêncio derramado
Ou o sangue das palavras que caíram
Sob a face de uma voz que não gritou

No altar as mulheres bordam incenso
Celebram as canções com que embalaram
Os filhos O Deus A vida inteira

II

Casa de Deus

Os homens trazem na cintura velhas ânforas
Querem enchê-las de luz e de silêncio
Só há água nessa casa os homens partem
Não virão senão quando for noite

III

Mão sozinha que espera paciente
Como um berço convida a navegar

Um menino que tem velas mais vento
Virá um dia saber como é o mar

IV

Ouvem-se os cavalos já é noite
Os homens vêm vindimar
Os cabelos longos das mulheres
Que vieram orar pela manhã

Corre! - escrevem nas paredes
Os meninos

Corre!

Escrevem em segredo como quem
Rouba flores p'ra levar às mãos de Deus

V

Eis aberto espaço aberto
A sílaba interior de um nome imberbe

Casa de Deus
A casa das crianças que cresceram
Ou a casa das crianças para sempre

Longos degraus tem a primavera
E uma casa
A de Deus no cimo dos outeiros

DANIEL FARIA (sob o pseudónimo Sérgio de Sempre)

1 comentário:

  1. Poesia essencial, densa, mística. Uma espiritualide que nos desvela o sentido do mistério de Deus e nos aponta uma luz interior no encontro das coisas da vida. Daniel Faria, era noviço no Mosteiro de Singeverga, morreu a 9 de Junho de 1999, após uma queda na casa de banho. Uma perda muito grande para o poesia. Obrigado por esta bela oração da manhã.

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