I
Longos degraus tem a primavera
E uma mulher que desce dos outeiros
Traz no seu colo um ramo dessa casa
Festiva onde vem desaguar
O rio sagrado deste vento
No soalho o silêncio derramado
Ou o sangue das palavras que caíram
Sob a face de uma voz que não gritou
No altar as mulheres bordam incenso
Celebram as canções com que embalaram
Os filhos O Deus A vida inteira
II
Casa de Deus
Os homens trazem na cintura velhas ânforas
Querem enchê-las de luz e de silêncio
Só há água nessa casa os homens partem
Não virão senão quando for noite
III
Mão sozinha que espera paciente
Como um berço convida a navegar
Um menino que tem velas mais vento
Virá um dia saber como é o mar
IV
Ouvem-se os cavalos já é noite
Os homens vêm vindimar
Os cabelos longos das mulheres
Que vieram orar pela manhã
Corre! - escrevem nas paredes
Os meninos
Corre!
Escrevem em segredo como quem
Rouba flores p'ra levar às mãos de Deus
V
Eis aberto espaço aberto
A sílaba interior de um nome imberbe
Casa de Deus
A casa das crianças que cresceram
Ou a casa das crianças para sempre
Longos degraus tem a primavera
E uma casa
A de Deus no cimo dos outeiros
DANIEL FARIA (sob o pseudónimo Sérgio de Sempre)
Poesia essencial, densa, mística. Uma espiritualide que nos desvela o sentido do mistério de Deus e nos aponta uma luz interior no encontro das coisas da vida. Daniel Faria, era noviço no Mosteiro de Singeverga, morreu a 9 de Junho de 1999, após uma queda na casa de banho. Uma perda muito grande para o poesia. Obrigado por esta bela oração da manhã.
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