"Um homem com fome não é um Homem livre."
Robert Stevenson
publicado Diário Notícias,Madeira, hoje
Robert Stevenson
Não sei se o ânimo, a força, a contestação, carregadas no 1º de Maio de 1886, volvidos que são 125 anos, terão ou não mesmo impacto.
Só no grandioso 1º de Maio de 1974, provamos em Portugal o sabor da Liberdade, da dignidade, da perda do medo. Mas, será hoje como em 1974?
Não: perderam-se ideais, ganharam-se medos, há desemprego e uma vez mais há fome.
As comissões de patrões de grandes firmas, de poderosos, discutem da possibilidade de se poder pagar um ordenado mínimo de € 500,00 ao trabalhador português (por acaso o que mais horas trabalha na Europa) esquecendo que todos têm direito a casa, à família, à alimentação, higiene, escolaridade e até ao lazer, nem que seja uma ida à praia ou a um parque.
Portugal é um País de milhões: em qualquer página de imprensa lemos a palavra milhões, seja pelo deficit, pelos lucros, por causa de submarinos, de sobreiros, BPN, milhões incobráveis, milhões em fugas, ocultos em off-shores ou simplesmente os milhões de portugueses que vivem no limiar da fome, na incerteza e no desemprego.
Que evolução em 125 anos, que barómetro de felicidade para o Mundo?
Mas hoje é também o tradicional 1º de Maio, dia primaveril celebrado na Madeira, em família, em alegres saídas pelo campo, tradições de pic-nic, em que antes se viam pequenos pedindo 2$50 por um colar das flores de Maio a que poucos resistiam, pendurando ao pescoço ou no espelho interior do carro. Era o saltar da laje, o toque dos búzios, os chocalhos…Parece esquecida essa alegria de farnel e convívio.
Por sinal, até há poucos anos se fazia o arraial do 1º de Maio nas Achadas da Cruz, com a festividade de Nossa Senhora do Livramento, a Padroeira, em que o litúrgico e o profano coexistiam sem problemas, com a celebração Eucarística, procissão, e o cheiro habitual das espetadas, que atraía tantos forasteiros quer da costa Norte quer da Sul, por ser o 1º arraial do ano. Costume centenário, dizem os da terra, que alguém que a história não guardará o nome, acabou, para celebrar o dia de S. José Operário…Deixam-se morrer tradições por "brigas" de Santos e logo entre Nossa Senhora e S. José!
Mas é também hoje o dia da MÃE. E talvez seja este o facto mais relevante. Quero aqui lembrar todas as Mães, a do Céu e as do Mundo. As que não recebem beijos ou carinhos, as que só são lembradas neste dia da Mãe, as que sofrem por filhos doentes, com fome, chupando um seio seco e eternamente esvaído, as que carregam os filhos fugindo das guerras, das perseguições, das violações e escravatura, vivendo errantes em campos de refugiados e as que sofrem violência às mãos dos companheiros ou dos filhos.
E recordar sobretudo, aquelas que, sendo Mães, nunca sentiram a fímbria do Amor, o estremecimento interior, o cordão umbilical nunca cortado.
publicado Diário Notícias,Madeira, hoje
Parabéns, Tuka, por este texto tão bonito e tão cheio de conteúdo, que nos faz passar rapidamente por diversas sensações e reflexões.
ResponderEliminarUm beijo grande para ti