Vejo-te triste e isso dói-me. Não que eu não tenha, também, momentos de escuridão. Contudo, vendo-te triste é diferente. Não, não me sacudas porque sou teimosa. Conheço-me e conheces-me. Vá, vem daí, prometo-te mundos novos que nunca olhaste pelos meus olhos e olha que já não vejo tão bem assim... Descansa, nada se perde com a clarividência de espírito. Vem, não sejas chata, vem daí! Vá lá, dá cá a mão que a paciência também se esgota.
O dia já se afasta e a paisagem aflita de luz chama o tempo de outono, nesta hora já palpável, quase viscoso. Invísiveis dedos tangem o vento e os pássaros apressam a procura do jantar.
Olha as ancas da colina, verdes, musgosas, onde poucas árvores friorentas ressalvam lamúrias.
Vês, vês como é bom habitar a paisagem, soprar o cansaço da vida e abraçar esta sugestão de crepúsculo ensanguentado? Cansou-te a liberdade de correr, de perseguir o vento e, ainda não viste o vento...
Agora terás na noite um sono de pássaro, quieto, com o equílibrio leve de penas arrumadas.
E eu, quase por osmose, prolongarei a tua tristeza.
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