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domingo, novembro 23, 2008

UMA JANELA AZUL, POR MARTE




Tarde de domingo insonsa, insonsa e inútil, prolongada, como tantas as que já me aconteceram na vida.


Encosto-me à janela onde a claridade, sem pudor, empurra um sol quente. Olho a paisagem, repetidamente olho a paisagem, onde céu e mar são a simbiose perfeita, sem fronteira, num azul puxado de lustro, dorido de tanta cor. As terras negras, vulcânicas, acentuam-no e o espírito cansado, impotente, foge-me para Marte. Marte, onde vivi anos sem calendário, sem festas, memórias, onde tudo é igual e diferente e se desconhece o contraste.


Humanidade diversa, com os desejos e frustações marcianos e que eu tanto quereria ajudar! Um só azul me pediam – um só azul para Marte! Tentei encontrar laivos verdes e amarelos para operar o milagre...Impossível.


E naquele mundo sem cor nenhuma, de manhãs sem alvoradas e noites descoloridas, um só desejo: azul. Ironia, pois até a caneta azul que sempre me acompanha desaparecera!


Olho o mar num desafio imenso como se a força do meu pensamento vencesse vácuos, distâncias imensuráveis, temendo trair uma vez o segredo confiado.


Famílias domingueiras passam alegres, despreocupadas da minha janela.


Um miúdo gorducho chora e abana o braço da mãe. Na outra mão um imenso balão azul – AZUL – dança no tempo. A mãe, como todas as mães de domingo, acaba por ceder e dá-lhe a guloseima escondida.


Num repente, em que a avidez o distrai, o balão foge, ondula subindo, azul sobre azul.


Choram-me os olhos e a alma, pedindo que suba, numa prece que eu nunca usei, suba direito e seja UM AZUL PARA MARTE.

N- "invente un final para el cuento de José Saramago – Um azul para Marte" – In: Foro-I congresso tecnologias Y transformación del empleo – Abril 2002. (Divulgado na Net)

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