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quinta-feira, outubro 20, 2011

Descoberta a oficina de pintura mais antiga do mundo

Há cem mil anos os humanos produziam tinta. Talvez decorassem a roupa ou o corpo com desenhos e símbolos. Não se sabe. O certo é que eram artesãos com um local próprio onde juntavam pigmentos, adicionavam um líquido, misturavam-no.
Em 2008 uma equipa de investigadores descobriu na gruta de Blombos, perto da Cidade do Cabo, na África do Sul, a mais antiga oficina da humanidade que se conhece. Os resultados são publicados hoje na revista Science e ampliam o que se sabe sobre os primeiros tempos da espécie humana.

Os arqueólogos da Universidade de Bergen, na Noruega, encontraram duas espécies de “estojos de ferramentas” da idade da pedra pertencentes ao Paleolítico Médio, numa camada com cem mil anos, na gruta. Duas conchas de uma espécie de molusco, separadas por alguns centímetros, em que cada uma continha restos secos da tinta vermelha ocre produzida pelas pessoas que estiveram ali. Um dos estojos estava mais completo, e tinha pedras para polir, osso, carvão vegetal, etc.

Através de uma análise da tinta, a equipa de Cristopher Henshilwood conseguiu perceber qual era a sua composição. “Acreditamos que o processo de produção envolvia esfregar pedaços de ocre [composto obtido a partir da terra ou da rocha que contém uma mistura de óxidos e hidróxidos de ferro, com cor ferruginosa] em lâminas de quartzito para produzir um pó fino”, explicou em comunicado Henshilwood. Depois o pó era misturado com carvão vegetal, com lascas de pedra e um líquido.

“Algumas pessoas vieram a este local, trouxeram todos estes compostos e começaram a produzir esta tinta. E talvez tenham estado ali um ou dois dias para depois se irem embora”, explicou o cientista num podcast da Science. À volta dos utensílios, os paleontólogos não encontraram nem comida, nem detritos associados ao quotidiano destas populações. Algo que reforça a ideia que aquele não era um local habitado, mas um sítio de trabalho, uma oficina. “Parece-nos que eles vieram especificamente produzir estes pigmentos.”

Já se tinham encontrado vestígios de produção de tinta, mas não tão antigos. Esta região da Cidade do Cabo tem várias grutas com vestígios arqueológicos que lançam luzes para o início da história da humanidade, quando o Homo sapiens ainda não tinha viajado para lá de África. Durante milénios estas populações foram desenvolvendo comportamentos cada vez mais complexos, mas sabe-se pouco sobre esta evolução cultural.

“Esta descoberta representa um ponto importante na evolução cognitiva humana complexa, já que mostra que os humanos tinham uma capacidade conceptual para ir buscar substâncias, combinar entre si e armazená-las”, disse o cientista. Além disso, a descoberta mostra um conhecimento elementar de química. “Provavelmente eles eram mais inteligentes do que nós pensávamos.”   (in:PUBLICO)

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