Auto-retrato - Tintoretto
Museu do Estado, Assunção, Paraguai
TINTORETTO
(JACOPO ROBUSTTI)
Tintoretto, como era conhecido Jacopo Robustti (Veneza c. 1518 - 1594), foi provavelmente o último grande pintor da Renascença Italiana. Por sua energia fenomenal em pintar, foi chamado Il Furioso, e sua dramática utilização da perspectiva e dos efeitos da luz fez dele um dos precursores do Barroco. Seu pai, Battista Robustti, era tintore (tingia seda), o que lhe valeu o apelido.
Na infância, Jacopo, um pintor nato, começou a decorar as paredes da tinturaria paterna. Vendo seu talento, seu pai levou-o à oficina de Tiziano, na época com mais de cinquenta anos, para aprender o ofício . Dizem que o mestre ficou pouco tempo com ele, por ter percebido o talento e a independência do menino, o que faria dele um pintor, mas não um bom aprendiz. Tintoretto estudou então por conta própria, observando as obras dos grandes mestres. Mas continuou admirador, nunca um amigo de Ticiano, e mais tarde adotou como lema em seu estúdio a frase "O desenho de Michelangelo e a cor de Ticiano" .
Tintoretto começou ajudando o pintor Schiavone, seu amigo, a decorar paredes. Na sequência conseguiu encomendas para si mesmo. Seus dois primeiros trabalhos foram murais descritos como "A Festa de Balthasar" e "Carga de Cavalaria". Seu primeiro trabalho a ter repercussão foi um retrato dele e seu irmão com um efeito noturno, infelizmente perdido, como os dois anteriores. Uma das pinturas iniciais ainda existentes está na igreja de Carmine, em Veneza: a "Apresentação de Jesus no Templo". Em São Benedito estão "A Anunciação" e "Cristo e a Mulher de Samaria". Para a Escola da Trindade ( na verdade um hospital e asilo em Veneza ) ele pintou quatro passagens do Gênesis. Duas delas, "Adão e Eva" e "Morte de Abel", atualmente na Academia Veneziana, mostram um trabalho nobre de alta mestria, que não deixam dúvidas de que Tintoretto nessa época já era um pintor consumado, um dos poucos que conseguiram reconhecimento sem um aprendizado formal.
Durante o ano de 1546, Tintoretto pintou para a igreja da Madona do Horto três de seus melhores trabalhos, "A Confecção do Calf Dourado", "Apresentação da Virgem no Templo" e "Ultimo Julgamento" ( vergonhosamente repintada ). Esta igreja em estilo gótico em Fondamenta dei Mori, próxima a Murano, Veneza, existe ainda. Em 1548 recebeu a encomenda de quatro quadros para a Escola de São Marcos, "Encontrando o Corpo de São Marcos em Alexandria" (atualmente em Murano), "O corpo do Santo trazido a Veneza" e "Votos do Santo" (ambos em Veneza, na biblioteca do Palácio Real) . Finalmente "O Milagre do Escravo" , celebrada obra que é uma das glórias da Academia Veneziana, representando a lenda de um escravo cristão torturado em punição por devoção ao santo e salvo por um milagre.
Estes quatro trabalhos foram recebidos com geral aplauso. Seus tempos de obscuridade terminaram. Era notável o suficiente para casar-se com Faustina de Vescovi, filha de um nobre veneziano. Ela foi uma boa esposa, que aturava seu gênio intratável e lhe deu dois filhos e cinco filhas.
A próxima encomenda foi pintar as paredes e tetos da Escola de São Marcos, obra de enorme esforço e auto-aprendizado para Tintoretto. O prédio foi iniciado em 1525 e era deficiente em iluminação. A pintura começou em 1560, após varios pintores, incluindo Veronese, terem sido consultados. Tintoretto assegurou a obra doando um quadro , "São Rocco recebido no Céu". Completou então a primeira sala. Em 1565 reiniciou os trabalhos com "Crucificação", "A Praga das Serpentes", "Festividades da Páscoa" e "Moisés Quebrando as Tábuas".
Tintoretto em seguida se lançou na empreitada de decorar a escola adjacente à igreja de São Roque. Descontando alguns detalhes menores, os edifícios contém sessenta e cinco memoráveis pinturas, que podem ser descritas como cenas variadas e sugestivas, adaptadas para serem vistas a meia-luz. "Adão e Eva", "Visitação", "Adoração dos Magos", "O Massacre dos Inocentes", "Agonia no Horto", "Cristo ante Pilatos", "Cristo carregando a Cruz" e "Assunção da Virgem" são as melhores.
Paralelamente Tintoretto começou vários afrescos no Palácio Ducal, "Excomunhão de Barbarrosa" e "Vitória de Lepanto", que foram destruídos no grande incêndio de 1577, além de um retrato do duque Girolamo e várias obras menores.
Agora alcançamos a obra que coroaria o trabalho de Tintoretto, a última pintura de importância que executou, a vasta "Paraíso", considerada a maior pintura jamais feita sobre uma tela, por seu enorme tamanho. É estupenda pela escala, pela pureza da inspiração da alma, com apaixonada imaginação visual e mão mágica para as formas e cores, que desafiou os especialistas por tres séculos. Ele trabalhou na obra em estúdio, levando-a para o local definitivo e dando os retoques finais com a ajuda de seu filho Domenico. Toda Veneza o aplaudiu.
Depois de completar o "Paraíso", Jacopo Robustti tomou uma vida mais descansada, não realizando mais nenhum trabalho relevante, e passou um final de vida tranquilo. Morreu em 1594 de uma doença que começou como uma dor de estômago, seguida de febre. Foi enterrado na igreja da Madona do Horto, ao lado de sua filha Marietta, ela mesma retratista e música, que trabalhou como assistente do pai vestida como um menino. Além dos filhos, teve poucos pupilos, valendo ser citado Martin de Vos. Existem influências de Tintoretto na obra do contemporâneo Veronese e na do espanhol El Greco, que conheceu sua obra numa viagem a Veneza.
A comparação da "Ultima Ceia" de Tintoretto com a de Leonardo da Vinci dá uma demonstração instrutiva sobre como o estilo artístico moveu-se durante o Renascimento. A disciplina se irradia de Cristo em simetria matemática. Nas mãos de Tintoretto, o mesmo evento é dramaticamente distorcido, enquanto as figuras humanas são elevadas pela erupção do espírito humano. Pelo dinamismo de sua composição, seu uso dramático da luz e seus efeitos de perspectiva, parece um artista [barroco] antes da hora.
1549 - St Roch in the Hospital
San Rocco, Venice
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