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quarta-feira, dezembro 23, 2009

Ladainha dos póstumos natais


Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se seja à mesa o meu lugar vazio



Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido



Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós contigo



Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido



Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro



Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo a Nada a sós comigo



Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido



Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Natal retome a cor do Infinito 


(David Mourão-Ferreira)

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