por MIGUEL CARVALHO
Assinalando as comemorações do 10 de Junho, o Presidente da República fez em Castelo Branco uma reflexão sobre o Portugal que não vem no mapa. O País rural, pobre, esquecido, por vezes deserto. Falou dos velhos que sobram e das crianças que não nascem. Falou dos poucos que ficam e dos muitos que partem. Falou, enfim, desse Portugal à margem do progresso, que abandonou os campos, que passou ao lado do desenvolvimento.
Como não concordar com o diagnóstico?
O problema é que o homem que fez este discurso governou o País durante dez dos 37 anos de democracia (e já nem vou falar dos anos de Presidência, em que os resultados do seu magistério estão à vista). O seu consulado coincidiu com o mais próspero período desde o 25 de Abril, durante o qual a torneira dos fundos comunitários pareceu inesgotável (e foi-o, mas só para alguns. Quem não se lembra dos Ferraris do Vale do Ave e das fraudes com o fundo social europeu?) A década cavaquista foi ainda suportada, em grande parte do tempo, por duas maiorias absolutas que deixaram Cavaco com mãos livres para fazer o que lhe desse na real gana. Lembram-se do que aconteceu? Foi a época em que nos disseram que a agricultura não servia para nada. A época dos subsídios para não produzir. A época das auto-estradas que trouxeram o interior para o litoral porque era aqui que estavam as oportunidades e o emprego.
O Portugal de Cavaco deixou nessas terras esquecidas o bilhete postal que hoje se exibe: pobreza, miséria e abandono. E é preciso ter uma grande lata para vir agora falar nestas gentes entregues à sua sorte e dizer que a «frugalidade e o seu espírito de sacrifício são modelos que devemos seguir». A narrativa sobre o País rural e honrado, pobrezinho e remediado, vem de longe. É uma narrativa velha e relha, com autores conhecidos, agora reciclada para efeitos de austeridade e remedeio.
Mas, no fundo, a questão é esta: o que têm para nos ensinar homens como Cavaco? O que diz o seu currículo de serviço público? Neste capítulo, bem pode juntar-se a Mário Soares, o homem cujos governos permitiram o desmantelamento de centenas de quilómetros de vias férreas, que isolaram ainda mais o interior. Façam as contas, por favor: Cavaco e Soares batem todos os recordes de permanência no poder, em São Bento ou Belém. Com eles por perto, Portugal recebeu três vezes a visita do FMI e chegou ao estado que conhecemos. Desculpem, mas estou farto de conselhos e recomendações de homens que se julgam providenciais. Para mim, nos tempos que correm, já me chegam as dores de cabeça que prometem os homens normais.
Como não concordar com o diagnóstico?
O problema é que o homem que fez este discurso governou o País durante dez dos 37 anos de democracia (e já nem vou falar dos anos de Presidência, em que os resultados do seu magistério estão à vista). O seu consulado coincidiu com o mais próspero período desde o 25 de Abril, durante o qual a torneira dos fundos comunitários pareceu inesgotável (e foi-o, mas só para alguns. Quem não se lembra dos Ferraris do Vale do Ave e das fraudes com o fundo social europeu?) A década cavaquista foi ainda suportada, em grande parte do tempo, por duas maiorias absolutas que deixaram Cavaco com mãos livres para fazer o que lhe desse na real gana. Lembram-se do que aconteceu? Foi a época em que nos disseram que a agricultura não servia para nada. A época dos subsídios para não produzir. A época das auto-estradas que trouxeram o interior para o litoral porque era aqui que estavam as oportunidades e o emprego.
O Portugal de Cavaco deixou nessas terras esquecidas o bilhete postal que hoje se exibe: pobreza, miséria e abandono. E é preciso ter uma grande lata para vir agora falar nestas gentes entregues à sua sorte e dizer que a «frugalidade e o seu espírito de sacrifício são modelos que devemos seguir». A narrativa sobre o País rural e honrado, pobrezinho e remediado, vem de longe. É uma narrativa velha e relha, com autores conhecidos, agora reciclada para efeitos de austeridade e remedeio.
Mas, no fundo, a questão é esta: o que têm para nos ensinar homens como Cavaco? O que diz o seu currículo de serviço público? Neste capítulo, bem pode juntar-se a Mário Soares, o homem cujos governos permitiram o desmantelamento de centenas de quilómetros de vias férreas, que isolaram ainda mais o interior. Façam as contas, por favor: Cavaco e Soares batem todos os recordes de permanência no poder, em São Bento ou Belém. Com eles por perto, Portugal recebeu três vezes a visita do FMI e chegou ao estado que conhecemos. Desculpem, mas estou farto de conselhos e recomendações de homens que se julgam providenciais. Para mim, nos tempos que correm, já me chegam as dores de cabeça que prometem os homens normais.
Olha para o que eu digo, nã faças o queeu faço...
ResponderEliminarPois é, também eu estou farta dos discursos salazarentos da criatura. Começa a ser demais...o homem não aprende, mesmo.
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