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domingo, janeiro 09, 2011

a primeira folha do calendário


"Jamais haverá ano novo,se continuarmos a copiar os erros dos anos velhos"
Luís de Camões                                                              
                                                                                                   
                                                                                                      Janeiro. Há uma exaltação de começo de mundo.
Após a “Festa” recolhem-se os perdões atreguados e renovam-se as mágoas. Morrerá a esperança derrotada e a Paz voltará para o degredo. O Menino já deixou a gruta em Belém não para a fuga do Egipto mas para as esquinas, os vãos de escada, os caixotes de papelão recolhidos à disputa, para a espera de um voluntariado que O aqueça numa sopa, num copo de café, num cobertor de segunda ou terceira mão. Porque, depois da época do Natal em que os sem-abrigo e os mais pobres foram heróis, voltarão ao anonimato.
 
Com mais ou menos vontade, mais ou menos prontidão, todos virámos a folha ao calendário.
Nas casas enfeitadas para o Natal as agulhas dos pinheiros envelheceram, cortadas da raiz, as bolas e enfeites não têm o brilho de Dezembro, as gambiarras deixam lâmpadas apagadas e há, no Presépio, um cheiro de musgo ressequido. É urgente arrumar.

Mas os dias de Janeiro correm agitados por este País em campanha: é a campanha contra a crise, contra os aumentos, contra a fome e contra a vontade de “comer” (vulgo corrupção), é a campanha presidencial…
E uma vez mais há-de acontecer, na Madeira, que o povo das zonas rurais votará para presidente da república na única figura que se diz importante e que andará de comitiva governamental atrás, pagos por todos nós.
Não há “córagem” para explicar ao povo os quês e os porquês pondo, afinal, cada macaco no seu galho.

 Pelo Mundo fora nem tudo será igual: no Haiti, por exemplo, a situação degrada-se. Nem 40% das ajudas prometidas chegaram e colmataram a desgraça do terramoto de há um ano. Este povo tão cheio de nada tem ainda de sobreviver a uma epidemia de cólera, ao que parece oriunda de um posto de soldados nepaleses da ONU, cujas latrinas despejadas no rio Meille contagiaram as águas daí seguindo para os outros rios, originando o surto que ameaça agora mais de 600 mil pessoas e que já matou milhares. As Coreias continuarão a política de susto mundial, na Nigéria continuarão os massacres, na Costa do Marfim a guerra civil. Nos Estados Unidos, Irão, China e outros países continuará democraticamente em vigor a pena de morte.

Temos a Esperança, a última a morrer.
Haverá risos de crianças, as flores florescerão mais cedo e os ramos das árvores trarão promessas de frutos antes da Primavera, tudo por via das alterações climáticas.
Continuaremos a ter o conforto da família, dos amigos, dando continuidade ao saber viver e, cada vez mais dependentes das novas tecnologias, conseguiremos a abstracção necessária para levar dia sim dia sim, ou dia sim dia não, o percurso que nos levará até ao próximo ano.


Maria Teresa Góis
in:"Sinais dos Tempos, Diário Notícias Madeira, hoje"

1 comentário:

  1. Inteiramente de acordo com o o que tão bem escreveste. É preciso pôr o dedo na ferida e pode ser que assim se despertem algumas consciências.

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