Os anos passam… Já vai sendo tempo
De pensar na Viagem.
Irei bem ou enganei-me? Este caminho
É verdade ou miragem?
Procuro em vão sinais. Em vão persigo
As horas silenciosas.
De olhos abertos, cega, vou andando
Sobre espinhos e rosas.
Errada ou certa é longa a caminhada,
Longo o deserto em brasa.
Ah, não fora, Senhor, esta esperança
De uma fonte, uma asa!
Fonte, Senhor, que mate a longa sede
Desta longa subida.
Asa que ampare o derradeiro passo
No limite da vida.
Ah, Senhor, que mesquinhas as palavras!
Vida ou morte, que importa?
Para entrar e sair a porta é a mesma:
Senhor, abre-me a porta!
sobre Fernanda de Castro (1900-1994)
“Ela foi a primeira, neste país de musas sorumbáticas e de poetas tristes, a demonstrar que o riso e a alegria também são formas de inspiração, que uma gargalhada pode estalar no tecido de um poema, que o Sol ao meio-dia, olhado de frente, não é um motivo menos nobre do que a Lua à meia-noite”.
David Mourão Ferreira
Fernanda de Castro nasceu em Lisboa em 1900. Poeta, romancista, dramartuga e escritora de livros infantis, publicou em 1919 o seu primeiro livro: Antemanhã. Em 1969, ao prefazer meio século sobre a publicação do seu primeiro volume de poemas, foi-lhe atribuido o Prémio Nacional de Poesia. Deixou também uma vasta obra no que se refere a textos para teatro, tendo recebido em 1920 o Prémio do Teatro Nacional, com a peça Náufragos. Foi colaboradora de António Ferro (com quem era casada) em várias conferências propagandísticas do Estado Novo. Morreu em 1994.
Fez-me lembrar um poema que li algures:-
ResponderEliminarAsa que suporta ave
Ninho fonte de incubação
Corpo que carrega a nave
Suporte do coração
Uma fonte uma asa
Um espaço para voar
Uma lágrima do olho repassa
Do amor que temos para dar.