"Talvez possamos comparar o ser humano a uma banheira de faiança branca: durante a infância e a primeira juventude, a banheira enche-se de uma água clara e fresca, que sussurra risonha; depois a água fica morna, cada vez mais quente, é uma água destinada à lavagem das acções, dos pensamentos, das sensações, condenada a perder a sua pureza sem com isso poder ser suja de qualquer maneira, uma água destinada a ser despejada quando quem nela se banha já não tiver forças para continuar a segregar porcaria. Se o ser humano é esta banheira, chega uma momento da vida em que uma mão desconhecida tira o tampão do fundo e em que a água, de novo fria, escorre com a sua porcaria e a sua pureza; o silvo da morte que sai do cano a princípio enche de medo o ser humano, mas este rapidamente se resigna e por fim só deseja que a mão desconhecida que abriu o tampão, limpe depois com uma escova as camadas de sujidade que ficarem dos lados da banheira. Mas com um triste gemido a última água turva é sorvida, também ela, pelo buraco negro, a banheira está vazia e fica silenciosa, está morta e a casa de banho envolta em sombras. Com a porta aferrolhada pelo lado de fora, a casa de banho está fechada para toda a eternidade, nunca mais ninguém ali tomará banho."
in "A Ilha dos Condenados", Stig Dagerman
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