Caracterizada pelo jejum, a oração e a penitência, a tradição religiosa da Quaresma adapta-se, sobretudo nas Igrejas ocidentais, às condições modernas e pouco conserva de seu ritual original. A doutrina do Concílio Vaticano II assinalou que o jejum é apenas a expressão da penitência e da purificação necessárias para a plena participação nos mistérios dos quais constitui o prelúdio. Quaresma é o termo empregado para designar, no ritual das igrejas Católica, Ortodoxa e Anglicana, o período de preparação penitencial para o domingo de Páscoa, a a partir da Quarta-Feira de cinzas. Por volta do século VII, compreendia quarenta dias de jejum (os domingos são excluídos), numa alusão ao jejum de Cristo no deserto. Era permitida apenas uma refeição por dia, com abstinência total de carne – inclusive de peixe- e manteiga. A rigidez na prática dos ritos quaresmais é mantida em parte nas igrejas orientais , para as quais o período se inicia oito semanas antes da Páscoa, sendo excluídos do jejum os sábados e os domingos. Ao final, os fiéis devem estar prontos para celebrar o mistério da ressurreição e a vitória de Cristo sobre o sofrimento e a morte, no domingo de Páscoa. A quarta-feira de Cinzas é assim chamada porque o sacerdote usa a cinza obtida com a queima das palmas bentas no domingo de Ramos do ano anterior para dar inicio ao ritual que precede a missa na liturgia do dia. Faz então com a cinza o sinal da cruz na testa dos fiéis e na cabeça dos sacerdotes, enquanto repete as palavras que Deus disse a Adão : “Pois tu és pó e ao pó tornarás”(Gn 3:19), ou “Convertei-vos e crede no Evangelho”(Mc 1:15). A origem da Quaresma está no Antigo Testamento e tem no jejum o elemento principal: Moisés permaneceu quarenta dias e quarenta noites no monte Sinai sem comer e sem beber; para preparar seu encontro com Iavé, Elias fez apenas uma refeição quando jejuou no mesmo monte Sinai também quarenta dias; e finalmente Jesus jejuou no deserto durante quarenta dias e quarenta noites antes de iniciar sua pregação. Segundo Santo Irineu, o jejum dos primeiros cristãos era curto mas severo: nada se devia comer durante quarenta horas, desde a tarde de quinta-feira santa até o domingo de Páscoa. Na igreja primitiva, o jejum era uma prática que precedia as grandes solenidades e servia tanto para a preparação dos catecúmenos, ou candidatos ao baptismo,como para os penitentes públicos, desejosos do perdão divino e da reincorporarão à comunidade eclesial; no século III jejuava-se durante toda a semana santa.
A primeira referência explícita sobre a preparação religiosa de quarenta dias, porém, só foi feita no concílio de Nicéia, no ano 325, e consolidou-se apenas no século VII.
No Ocidente, as regras desapareceram gradualmente e, em algumas ocasiões, foram eliminadas, como aconteceu durante a segunda guerra mundial.
A Igreja Católica acabou por abolir a rigidez das práticas anteriores pela constituição apostólica paenitemini, de 1996, e restringiu a obrigatoriedade do jejum à quarta-feira de Cinzas e á sexta-feira santa, embora tenha sido mantida a ênfase nas práticas penitenciais.
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