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quinta-feira, setembro 10, 2009

Ontem como hoje....

(...) Portugal é um dos raros paizes da Europa onde os proprios indigenas mais desconfiam do proprio talento e da propria iniciativa. Ha espalhado pelo reino um bando de insignificantes - que eu desejaria ver levados em chusma para a forca! - que teem por unico officio dispôr d'um sorriso de desdem e d'uma phrase de troça, diante de tudo quanto se queira emprehender de original e de superior. E este bando não só se introduz nas questões litterarias, artisticas ou scientificas com um atrevimento e uma impudencia dignas de varios marmelleiros em lombos de taes criticos, - mas tambem se insinua nas industrias, no commercio e na agricultura, levando a toda a parte o desanimo, convencendo todos os que trabalham que não passam d'uns imbecis, de quem a Civilização se ri todas as manhãs, ao abrir a janella do seu quarto!
Este bando da má-língua, este grupo obsceno dos descrentes, exerce uma tal influencia sobre os espiritos e tem-se de tal modo introduzido na imprensa, ostentando um pessimismo idiota e de contrabando, - que é necessario que todo aquelle que trabalha disponha d'um grande orgulho individual e patrio, para produzir alguma cousa e romper. O artista modesto e pouco audacioso, esse necessariamente fica a meio do caminho. A má-lingua mata-o em duas horas...
(...)
Quando um maestro portuguez escreve uma opera e deseja fazel-a cantar em S. Carlos, o director do theatro começa por lhe fechar todas as portas; o ministro manda-lhe dizer pelo continuo que o não pode receber; e os criticos riem-se d'elle á porta da Havaneza. E é necessario que o artista faça cantar a sua opera no extrangeiro e seja ahi applaudido... para então o tomarem a serio.
(...)
É necessario comprehendermos que somos um povo estropiado por mil falcatruas politicas, - mas que dispomos d'uma grande força e d'uma grande riqueza como povo agricola e industrial, e que não somos nenhuns intrusos quando nos desejamos ocupar de todas as manifestações do pensamento humano!...

Mariano Pina, in A ILLUSTRAÇÃO, 2.º Anno, Volume II, Numero 15, 5 d'Agosto de 1885.

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