Às vezes se não durmo, o pensamento
Deixando o corpo sobre a cama quente,
Me leva mais ousado, que prudente,
Dos astros a medir o movimento.
Peso, calculo, meço e observo atento,
Quantos globos encerra o céu luzente;
Contemplo os turbilhões, e finalmente
Me transporto até sobre o firmamento.
Descartes lá descubro: e nesse espaço,
Que existência só tem na fantasia,
Também meus orbes risco, e mundos faço.
E eis que vem com mais certa geometria
Uma pulga, e me morde no cachaço;
Vou-me arranhar; e adeus filosofia.
Paulino António Cabral, Abade de Jazente (1719-1789)
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