Dormes? eu velo, sedutora imagem,
Grata miragem que no ermo vi:
Dorme – impossível – que encontrei na vida!
Dorme, querida, que eu descanto aqui!
Grata miragem que no ermo vi:
Dorme – impossível – que encontrei na vida!
Dorme, querida, que eu descanto aqui!
Dorme! eu descanto a acalentar-te os sonhos,
Virgens, risonhos, que te vem dos céus!
Dorme! e não vejas o martírio, as magoas,
Que eu digo às águas e não conto a Deus!
Virgens, risonhos, que te vem dos céus!
Dorme! e não vejas o martírio, as magoas,
Que eu digo às águas e não conto a Deus!
Anjo sem pátria, branca fada errante,
Perto ou distante que de mim tu vás,
Há de seguir-te uma saudade infinda,
Hebrea linda, que dormindo estás!
Perto ou distante que de mim tu vás,
Há de seguir-te uma saudade infinda,
Hebrea linda, que dormindo estás!
Onde nasceste? Onde brincaste, oh bela?
Rosa singela que não tens jardim?
Em Jafa? em Malta? em Nazareth? no Egipto?
Mundo infinito, e tu sem berço?! oh! Sim.
Rosa singela que não tens jardim?
Em Jafa? em Malta? em Nazareth? no Egipto?
Mundo infinito, e tu sem berço?! oh! Sim.
Dorme, que eu velo, sedutora imagem,
Grata miragem que no ermo vi;
Dorme – impossível – que encontrei na vida!
Dorme querida que eu não volto aqui!
Grata miragem que no ermo vi;
Dorme – impossível – que encontrei na vida!
Dorme querida que eu não volto aqui!
Folha que o vento da fortuna impele!
Vítima imbele que o tufão roubou!
Flor que n’um vaso se alimenta, cresce,
Ri, desaparece, e nunca mais voltou!
Vítima imbele que o tufão roubou!
Flor que n’um vaso se alimenta, cresce,
Ri, desaparece, e nunca mais voltou!
Filha dum povo perseguido e nobre,
Que o mundo encobre o seu martírio, e crê!
Sempre Ashevero a percorrer a esfera!
Desgraça austera! Inabalável fé!
Que o mundo encobre o seu martírio, e crê!
Sempre Ashevero a percorrer a esfera!
Desgraça austera! Inabalável fé!
Porque há de o lume de teus olhos belos,
Mostrar-me anelos d’infinito ardor?
Porque esta chama a consumir-me o seio?…
Deus de permeio maldiz o amor!…
Mostrar-me anelos d’infinito ardor?
Porque esta chama a consumir-me o seio?…
Deus de permeio maldiz o amor!…
Peito! meu peito, porque anseias tanto?
Pranto! Meu pranto, basta já, não mais!
É sina, é sina; remador, voltemos;
Não n’a acordemos… para quê, meus ais?…
Pranto! Meu pranto, basta já, não mais!
É sina, é sina; remador, voltemos;
Não n’a acordemos… para quê, meus ais?…
Dorme, que eu velo, sedutora imagem,
Grata miragem que no ermo vi;
Dorme – impossível – que encontrei na vida!
Dorme querida que eu não volto aqui!
Grata miragem que no ermo vi;
Dorme – impossível – que encontrei na vida!
Dorme querida que eu não volto aqui!
Tomás Ribeiro (1831- 1901), poeta português.
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