Morreu João Bénard da Costa. Um homem extraordinário. O melhor e o maior no que diz respeito à 7º Arte, o Cinema. O maior cinéfilo que já existiu entre nós.
Nos tempos mais recentes, acompanhei-o nas crónicas magníficas, no Jornal Público, com um português perfeito e a forma de escrita mais inverosível de todas, não há na praça actual da comunicação social mais ninguém que escreva como ele escrevia. A rubrica chamava-se «A Casa Encantada». Dali se desencantavam coisas extraordinária de toda a sua vida e, de modo especial, dos seus passeios pela Arrábida, pela história do cinema, pela pintura ou pelos quadros que apreciava, pelos museus que revisitava, pelas figuras mais proeminentes do cinema, que conhecia como ninguém. As crónicas onde ele por diversas vezes explicou cenas bíblicas e episódios de alguns santos retratados nas pinturas, foram inesquecíveis e revelam a sabedoria fabulosa de uma cabeça enciclopédica. No nosso país não existe mais ninguém que soubesse tanto de cinema como este homem. Devemos a ele a melhor cinemateca da Europa e quem sabe das melhores do mundo. É o «Senhor Cinema» como lhe chamam alguns jornais destes dias.
Foi também um católico fervoroso, de modo especial nos tempos de «O Tempo e o Modo» (1963), a revista que ajudou a fundar com António Alçada Baptista entre outros católicos, que se juntaram na Primavera do Concílio Vaticano II. Neste âmbito, aprendi a olhar a pintura e o cinema com um certo sentido religioso. A arte está toda ela marcada pela inquietação religiosa, Bénard da Costa, fazia a leitura dessa dimensão como ninguém.
Deste homem, guardo a saudade da sua voz enrouquecida, mas bela, cheia de sabedoria sobre o cinema e sobre tudo o que a esta arte diz respeito. As suas crónicas radiofónicas sobre cinema são inesquecíveis, a «Casa Encantada» no Jornal Público também é inesquecível. Quando anseio por ler bom português, recorro às crónicas da «Casa Encantada». Também retenho um livro dele extraordinário, que devia ser lido e estudado pela Igreja Católica Portuguesa: «Nós os Vencidos do Catolicismo». Por ele, se entende quanto o mundo se sente órfão da Igreja Católica e quanto é grande o desamparo, que crava fundo no coração da humanidade de hoje.
Bom, vai o homem, fica a obra. E que obra! - basta visitar um pouco a Cinemateca Portuguesa e a magnífica Sala de cinema que está em Lisboa no mesmo lugar da Cinemateca.
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