Também não sei (e nunca saberemos, claro), se são verdadeiras ou não as acusações de que assessores de Cavaco Silva participaram na elaboração do misterioso programa eleitoral do PSD. E como não sabemos, vale a mesma regra: é mentira, até prova em contrário (sendo que esta é mais difícil de fazer).
Agora, uma coisa há que é verdade: que Cavaco Silva tem o Palácio cheio de assessores e conselheiros que são militantes ou membros do PSD. Está no seu direito, mas, fazendo-o, sujeita-se às leituras políticas e consequências que daí se podem retirar. Há mesmo um membro do seu staff político que é candidato pelo PSD nestas eleições legislativas. E eu acho que ele lhe devia agradecer os serviços até aqui prestados e dispensá-lo: o Presidente da República, que tem uma obrigação constitucional clara de ser equidistante e independente da luta partidária, não pode albergar dois assessores que são simultaneamente candidatos a deputados pelo maior partido da oposição. Não o fazendo e lançando agora esta guerrilha das supostas escutas, Cavaco vai acentuando cada vez mais a ideia de que não lhe é indiferente o desenrolar do processo eleitoral que aí vem e o seu desfecho. Eu sei que foi José Sócrates que lhe deu o pretexto e a desculpa, com a estúpida guerra do Estatuto dos Açores - uma questão menor e inútil, onde Cavaco tinha toda a razão mas onde Sócrates resolveu desafiá-lo gratuitamente. Mas isso não dá ao Presidente a liberdade de movimentos que ele não tem na querela política que se avizinha.
Belém acaba de dar um passo em falso. Um gigantesco passo em falso. É provável que tenha consequências num futuro próximo, porque há coisas com que não se brinca. E, com tantas outras coisas bem mais importantes para discutir e decidir em Outubro, o país dispensava bem estes acessos de protagonismo a despropósito.
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