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segunda-feira, agosto 17, 2009

em defesa da língua portuguesa e seus dialectos - o Minderico


O minderico, um sociolecto falado com alguma frequência até à década de 70 na vila de Minde, concelho de Alcanena, era considerado um calão em vias de desaparecimento. Mas quem passa hoje por Minde e pergunta como vai a "piação do Ninhou" pode já ver um brilho nos olhos de muitos mindenses. O minderico parece ressuscitar e a criar entusiasmo, sobretudo na primeira metade do século XX, quando o seu domínio era exclusivo dos fabricantes e comerciantes das mantas de Minde, vendidas nas feiras, que desse modo podiam falar dos negócios entre si sem correr o risco de que outros os percebessem. O mais curioso é que o ressurgimento da velha "piação" da vila ribatejana surgiu na Alemanha, fruto de um pós-doutoramento de Vera Ferreira, linguista portuguesa que nunca viveu em Minde, do apoio financeiro da Fundação Volkswagen (pertencente ao grupo Volkswagen) e integrado no Programa de Documentação de Línguas Ameaçadas em todo o mundo. O entusiasmo em relação à fala do minderico é já sentido com aulas todas as semanas, frequentadas por cerca de cem habitantes, muitas conversas na rua sobre o renascer da "piação" e propostas para a instalação de placas toponímicas e para o trânsito bilingues, a publicação de livros em minderico, a utilização do sociolecto em eventos locais e ementas nos restaurantes e cafés locais. O desenvolvimento de reportagens na fala local para a TV-Minde, que transmite online, a sensibilização dos jovens em idade escolar para o minderico, através do desenvolvimento da língua em actividades extracurriculares e a criação de material didáctico, incluindo software e um dicionário multimédia, são outras iniciativas.Um dos objectivos essenciais é o reconhecimento político do minderico como língua oficial, à imagem do que já sucede com o mirandês na região de Miranda do Douro. Para conseguir o apoio da Fundação Volkswagen, Vera Ferreira teve de desenvolver e apresentar um projecto defendendo a necessidade de preservar a "piação do Ninhou" e a forma como essa perda é também uma perda da riqueza linguística tanto do país como da humanidade. "Importa salientar que este foi, até ao momento, o único projecto que a fundação financiou na Europa - apresentou-o no relatório anual de 2008 como uma excepção -, o que para mim dá a este projecto um valor ainda mais especial", sublinha a especialista em linguística geral e tipológica, área que considera ser desconhecida em Portugal.

in: Público, hoje

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