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terça-feira, agosto 25, 2009

modas


Só os nossos primeiros pais andaram perfeitamente nus. E nem isso foi sempre; porque, de tempo por diante, cobriram-se com folhas de árvores. - Muito económica era esta moda, não só pela facilidade de prover do vestido, mas pela prontidão em mudar dele, apenas variasse o gosto. Infelizmente, não pegou. Veio o Inverno; secaram as árvores, caíram as folhas; e foi-se a moda. Voltaram-se às penas das aves, e às peles dos animais. Esta durou mais; e ainda hoje voga: a das peles para o Norte, e a das penas para o Sul (como não têm chegado ultimamente figurinos da Sibéria, nem do Peru, não podemos ter a satisfação de dar a ideia do último tom dos enfeites de urso e papagaio. Esperamos que os nossos correspondentes naqueles países sejam daqui em diante mais exactos).
Começou, porém, a civilização; e com ela o desejo de tornar agradável e cómodo o que até ali não fora senão necessário. Os povos do Meio-Dia (por onde ela principiou) debaixo de uma zona temperada, não podiam suportar, nem o excessivo abafo das peles, nem a extrema ligueireza das penas. Principiaram a usar-se géneros mais acomodados, e susceptíveis de belas e engraçadas formas.
Houve pessoas que se distinguiram na invenção delas; e eis aqui a origem das modistas. Houve nações cujo gosto particular se avantajou neste ponto: os outros povos o imitaram; e tal foi a origem das modas estrangeiras. Em Roma deu-se tanto peso e valor a este importante objecto, que houve no tempo de Heliogábalo um senado de damas, que legislava sobre as modas. Que digno não fora de imitar-se um tão nobre exemplo! Que respeitável não seria ver um congresso de senhoras belas e espirituosas decidindo com majestade suprema sobre o airoso de um vestido, sobre o elegante de um toucado! E dizemos nós que somos civilizados! Atrevemo-nos a comparar-nos com as nações antigas, faltando-nos um estabelecimento desta importância! (...)

in "O Toucador - Periódico sem Política" Almeida Garrett, Lisboa, 1822

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