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sexta-feira, agosto 14, 2009

"Homo Sapiens" já dominava o fogo em África há 72 mil anos

Até agora era mais ou menos ponto assente que a utilização do fogo para fabrico de utensílios tinha emergido na Europa, há cerca de 25 mil anos. Uma descoberta realizada em África por uma grupo internacional de investigadores veio agora alterar esta visão, e fazer recuar cerca de 45 mil anos essa data. O estudo é publicado hoje na revista 'Science'

Os primeiros homens modernos já dominavam o fogo para o fabrico de instrumentos há pelo menos 72 mil anos na região sul do continente africano. A conclusão é de um grupo internacional de investigadores que fez escavações na zona e publica o resultado dos seus estudos na Science.

"Antes do nosso trabalho, a utilização do fogo era vista como algo que emergiu na Europa há 25 mil anos", explicou o paleoantropólogo Curtis Marean, da Universidade do Arizona, nos EUA, e o director do projecto de escavação na África do Sul.

Até agora era isso que os vestígios disponíveis indicavam: que o uso do fogo deveria ter-se iniciado na Europa há cerca de 25 mil anos. O trabalho da equipa liderada por Curtis Marean veio agora alterar esta visão.

No artigo da Science, os investigadores sugerem mesmo que a utilização do fogo poderia ter-se iniciado muito antes, há cerca de 164 mil anos, naquela zona de África, muito antes de o Homo sapiens empreender a sua viagem para fora de África, ocorrida há 50 a 60 mil anos.

Tendo o domínio do fogo nessa altura, os grupos humanos em deslocação para norte, para a Europa gelada, poderiam então realizar essa migração com mais facilidade e sucesso.

"A capacidade de usar o fogo, que o nosso trabalho documenta, fornece-nos uma potencial explicação para a migração rápida destes africanos através da Eurásia coberta de gelo", afirmou Curtis Marean, sublinhando que aqueles grupos humanos "provenientes de regiões tropicais tinham assim uma vantagem crucial à medida que penetravam nas terras frias dos neandertais". A equipa fez escavações na zona de Pinnacle Point, perto de Mossel Bay, na ponta sul de África, e foi aí que fez as descobertas e as experiências que originaram estas conclusões, que por sua vez abrem uma visão completamente nova sobre essa época da evolução humana. Os investigadores descobriram no local de escavação lascas de um material composto de areia, gravilha e sílica, com um brilho idêntico a peças de pedra sujeitas a tratamento por calor intenso, e que eram difíceis de interpretar. A certa altura, a equipa tropeçou num pedaço maior daquele material envolto em cinza. E foi aí que se fez luz. Os investigadores decidiram produzir eles próprios pedaços do composto de pedra, depois submeteram-nos ao fogo e, para sua surpresa, descobriram que eles ficavam exactamente com o aspecto das lascas que não conseguiam interpretar. Era, afinal, o poder do fogo, que aqueles seres humanos pelos vistos já usavam.

in: DN, Lisboa

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